Ao se deparar com seguidos prejuízos e quase desistir da atividade leiteira, produtora decide fazer mudanças na fazenda a partir das próprias ações e identifica perspectivas bem positivas
Por Nelson Rentero
Zootecnista e neta e filha de produtores de leite, Marielle Campos Lima Assis viveu entre o céu e o inferno ao assumir o cargo de gerente responsável pela fazenda da família tão logo que se formou na Unifenas, dez anos atrás. Na realidade, enfrentava o desafio que sonhara desde a infância e, graduada, vontade de trabalhar não lhe faltava. Mas o dia a dia, desde o início, não lhe reservava os indicadores esperados. Pior, as perdas ameaçavam a viabilidade de um projeto que até então vinha sendo bem conduzido pelo pai, ‘seu’ Getúlio, que lhe reservara o convite.
Era preciso reverter o quadro, antes que sua autoestima sofresse um duro e perigoso golpe. Sabia que os ensinamentos da escola poderiam ajudar, mas na prática não era o que mais precisava para enfrentar a realidade difícil que tinha sob sua responsabilidade. A saída, então, foi contratar um consultor experiente para aferir as possibilidades produtivas e financeiras do projeto localizado no sul de Minas, em Delfim Moreira. Dentro da porteira dispunha de 60 vacas Holandesas, que apresentavam expressivas médias de produção, entre as melhores do Estado.
No diagnóstico apresentado, alguns indicadores não recomendavam insistir na área disponível para a atividade, principalmente por se ter, em médio prazo, um projeto de expansão como meta. A topografia acidentada não favorecia o manejo do gado e tampouco a produção de alimentos. Insistir na atividade ali com tais limitações representaria custos sempre elevados e margens estreitas ou até negativas. Solução? Encerrar a atividade no modelo pretendido ou, então, mudar para outro local, opção esta que foi assumida por ela depois de detalhada avaliação.
Uma área de 41 ha, em Carmo do Minas, distante 100 km de onde estava, sem água e sem energia elétrica, mas de condições topográficas bem mais favoráveis, foi escolhida por Marielle para retomar seu projeto de produtora de leite. “Era um cenário propício para quem estava disposta a começar do zero”, ela cita. No novo acerto, o pai entrou como sócio investidor, repassando todo o rebanho da antiga para a nova propriedade. O lote representou cerca de 50% do investimento. O restante, segundo ela, foi completado com a venda de alguns bens de que dispunha, já reservados para o projeto.
Assim, saía do papel a Fazenda L. A., também conhecida como Limassis, um projeto pensado e bem planejado no todo e nos detalhes, envolvendo pecuária, com 120 vacas Holandesas, e área reservada para agricultura, inicialmente com plantio de milho. E com tudo novo: máquinas, ordenha, equipamentos, tratores e… muita motivação. De início, foi construído um galpão free-stall para abrigar o rebanho em produção. Hoje, um segundo está sendo finalizado e já vem sendo ocupado com a ampliação do rebanho original. A adoção desse sistema de confinamento foi definida pelas contas que fez com a equipe.
“No primeiro ano, tudo aconteceu da forma esperada; no segundo ano, começou a patinar, e no terceiro, a coisa voltou a ficar feia”, descreve para quem quiser ouvir, como ocorreu para este repórter no recente simpósio Interleite Brasil, evento para o qual foi convidada para falar de sua experiência. Na sua confissão, uma mistura de humildade e coragem, próprias de quem assume erros e os transforma em lições proveitosas. Sabe disso, como sabe também que muitos produtores deixam a atividade sem questionar a adequação de seus procedimentos na gestão da atividade.
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Leia a íntegra desta matéria na edição Balde Branco 636, de outubro 2017