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MERCADO

Rodrigo Silva

Médico veterinário e analista de mercado da Scot Consultoria

Muito produzimos e muito importamos

Em 2023, deveremos ter um ano com grandes volumes de lácteos sendo importados

O Brasil é um grande produtor de leite, porém, em contrapartida, é um voraz consumidor de lácteos no mercado internacional. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em 2023 seremos o quarto maior importador de leite em pó. Importamos diversas categorias de lácteos, porém o leite em pó foi responsável por 70,6% do volume total de produtos lácteos adquiridos do exterior no primeiro trimestre deste ano.

O leitor deve pensar: por que, apesar de produzirmos tanto, estamos comprando tanto leite no mercado internacional? Porque a captação de leite tem diminuído nos últimos meses e, principalmente, o preço do leite no mercado internacional está competitivo, quando comparado ao preço pago ao produtor.

Há também certo caráter sazonal. No meio do ano, a entressafra da Região Centro-Sul mostra uma tendência de aumento de importação de lácteos.

Agora, quando olhamos para o presente, temos o seguinte cenário: neste primeiro trimestre de 2023, o volume importado de lácteos foi o maior entre igual período dos últimos 26 anos, com exceção de 1998, 1999 e 2000. Para efeito comparativo, este trimestre foi 174,65% maior do que o de 2022.

Os dados parciais de abril, até a segunda semana, indicam uma importação diária média de 1 mil toneladas de lácteos, aumento de 230,53% quando comparado com abril/2022. Indicando que abril deverá ser um mês de grandes volumes de compra.

Assim, devemos ter um Brasil bastante ativo no mercado de lácteos internacional. Apresentamos, este ano, todos os fatores para isso. Ao utilizar a importação dos últimos anos e obter uma variação mensal média, conseguimos criar uma projeção.

Em 2022, importamos 170,19 mil toneladas de lácteos. Projetamos que, em 2023, o volume total será 76,8% maior que no ano anterior, atingindo valores que não eram tangíveis desde 2000.

Agora, resta saber se haverá alguma reviravolta. A Argentina está passando por uma crise climática que tem afetado diretamente a produção de leite – é a nossa maior fornecedora de lácteos no comércio internacional. O preço no mercado argentino pode subir e, assim, o Brasil pode alterar a participação das compras de lácteos entre outros países fornecedores, como Uruguai.

Outro ponto, mas ainda incerto, seria a retomada de investimentos por parte dos produtores de leite. O custo com alimentação e fertilizantes tem diminuído e, em contrapartida, o preço pago ao produtor tem aumentado, favorecendo o aumento da produção de leite, consequentemente reduzindo a demanda da importação.

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