balde branco

ESPECIAL

Mulheres que, com sua força,
impulsionam a 
PECUÁRIA LEITEIRA

Há muitos anos, a Balde Branco destaca o trabalho da mulher na produção leiteira, bem como sua atuação também como técnica – zootecnista, médica veterinária e agrônoma – no papel de orientar e indicar caminhos para o sucesso da atividade. Nesta edição de março, mês em que se comemora, no dia 8, o Dia Internacional da Mulher, nossa homenagem a todas que engrandecem a pecuária leiteira com o seu trabalho feito com dedicação, inteligência e sensibilidade. Trazemos o depoimento de algumas que estão envolvidas com a atividade e que representam dignamente todas as mulheres do agro, a começar pela recém-eleita presidenta da SBR.

Teresa Cristina Vendramini

Pecuarista e socióloga, sendo produtora na fazenda em Flórida Paulista, interior de São Paulo. É a primeira mulher eleita para a presidência da Sociedade Rural Brasileira (SRB), nos 100 anos da entidade

Nasci em Adamantina, no interior de São Paulo, e faço parte da terceira geração na minha família de produtores rurais. Estamos no agro há 80 anos. Minha trajetória foi de muito aprendizado, procurei ajuda na Embrapa e outras instituições para desenvolver a capacitação que hoje tenho em genética, tecnologia, gestão, sanidade e bem-estar animal. 

A falta de conhecimento no início do meu trabalho em uma fazenda de pecuária foi um grande desafio e sempre procurei ajuda para superá-lo. Tive ajuda de um agrônomo e de um veterinário que estão comigo há mais de dez anos. Acredito que só conseguimos vencer esses obstáculos com aprendizado e nos reciclando. 

Os desafios para as mulheres no agro são maiores do que para os homens. Em minhas viagens pelo Brasil, ouço muitos relatos de mulheres que ainda encontram muitos obstáculos para exercer suas atividades. Isso acontece mesmo com as mais capacitadas, que também sofrem com o preconceito e precisam enfrentar a desconfiança da própria família para provar o seu valor. As mulheres estão se organizando muito, estão estudando e já são maioria em muitas universidades. Elas estão se preparando. 

Dados recentes da ONU indicam que 27% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres no Brasil. É uma conquista grande. Sabemos que as coisas estão mudando para melhor, mas não podemos deixar de seguir reivindicando nosso espaço, sobretudo no agro. Dos cerca de 5 milhões de propriedades rurais espalhadas pelo Brasil, apenas 656 mil são comandadas por mulheres, é um número ainda baixo. Temos muitas agricultoras, pecuaristas e pesquisadoras extremamente preparadas no nosso setor, mas que pela falta de oportunidades acabam ficando pelo caminho. 

Todas as mulheres do agro chegam juntas comigo à presidência. É uma honra para mim representar as mulheres batalhadoras e perseverantes, nós todas. Desejo que, num futuro próximo, não seja preciso comemorar isso como um grande marco. As conquistas femininas vão se tornar cada vez mais naturais. 

Meu recado para as mulheres que atuam nas fazendas leiteiras e em todo o agro é que continuem exercendo seus trabalhos com grande competência, buscando sempre mais especialização e conhecimento sobre tecnologia, genética e gestão. Devemos apoiar umas às outras para nunca desistir. O caminho pode ser longo, mas tenho certeza, pela minha própria trajetória, de que todas nós podemos chegar aonde quisermos.

Todas as mulheres do agro chegam juntas comigo à presidência. É uma honra para mim representar as mulheres batalhadoras e perseverantes, nós todas.

Aliny Ferreira Spiti

Tem 25 anos, com formação técnica em Agroecologia. Mora com os pais no Sítio Boa Esperança, em Ivaiporã (PR). A família conta com 40 animais em lactação, com uma média de 22 litros dia, em sistema de confinamen­to compost barn

Iniciei-me na atividade leiteira desde muito nova, com 14 anos. Antes era tudo bem simples, tínhamos de três a cinco vacas, apenas para as despesas. Hoje, é nossa principal fonte de renda. 

Quando não estava na escola, estava ajudando meu pai. Confesso que nem sempre foi uma paixão e sim uma necessidade em trabalhar. Nossa propriedade tem apenas 17 hectares, por isso optamos pela pecuária de leite, para produzir mais, com menos. 

Aos poucos fui me apaixonando pela atividade, buscando conhecimento em palestras, conversando com veterinários, visitando propriedades, seminários, até mesmo cursos online. Nunca tive vergonha de perguntar, sempre fui uma pessoa curiosa.

Meu trabalho hoje no sítio consiste em fazer ordenha, manejo reprodutivo, sanidade dos animais e às vezes o trato do gado.

Meu maior desafio na atividade leiteira, por ser mulher e jovem, foi superar o preconceito e demorei para conquistar meu espaço nesse trabalho. Ouvi algumas vezes dizerem: “Ela nem sabe o que está fazendo, deve ser mais uma turista na atividade”. Fui à luta, colocando a mão na massa mesmo, aprendendo tudo sobre a atividade do leite.

Acredito que nós, mulheres, temos uma percepção mais detalhada de tudo o que fazemos, somos mais caprichosas, empenhadas, não temos medo de batalhar, e isso na pecuária de leite é extremante fundamental. Sentimos mais, vivenciamos mais, nos tornando pessoas indispensáveis na atividade, um toque feminino é sem dúvida o pingo no “i”.

Hoje, como mulher, posso dizer que encaro desde o trabalho mais braçal ao mais delicado, claro que respeitando meus limites. As mulheres são tão capazes de fazer acontecer quanto os homens. Somos guerreiras e inteligentes, e, tendo força de vontade, o céu é o limite.

Sinto orgulho de estar entre tantas outras na atividade leiteira, pois estamos quebrando esse tabu de que mulher é o “sexo frágil”, somos tão capazes quanto os homens.

As mulheres, por si só, já têm o instinto maternal, temos aquele “sexto sentido”, prestamos mais atenção nos animais, principalmente nas vacas gestantes e bezerros recém-nascidos. Acredito que isso é algo nosso, portanto a atividade leiteira é sem dúvida algo muito feminino, pois temos a sensibilidade de cuidar de cada ser vivo como se fossem filhos. Para encerrar, quero deixar um recado para todas as produtoras, funcionárias e técnicas do meio. Nosso trabalho nem sempre é fácil, abrimos mão de muita coisa para produzir esse alimento fantástico que é o “leite”. A atividade leiteira sempre teve e sempre terá seus altos e baixos, por isso sempre digo que leite é “amor”, tem que haver dedicação, desta forma as coisas fluem de uma maneira melhor.

Nós, mulheres, temos uma percepção mais detalhada de tudo o que fazemos, somos mais caprichosas, empenhadas, não temos medo de batalhar, e isso na pecuária de leite é extremante fundamental.

Maria Rosinete Souza Effting

É produtora na Cabanha Guinther, em Braço do Norte (SC), onde possui 40 vacas da raça Jersey em lactação de um rebanho total de 120 animais. Iniciou a criação a pasto e hoje trabalha com confinamento free-stall climatizado (túnel de vento), com capacidade para 70 vacas em lactação e para outras 14 pré-parto e vacas secas. Produção diária de leite de 24 litros/dia/vaca, totalizando 980 litros/dia/rebanho

Depois de 24 anos cuidando de meus quatro filhos e trabalhando como  responsável pelo setor financeiro da nossa empresa de automação comercial, iniciei meu trabalho com gado Jersey. Eu e uma amiga médica veterinária fizemos uma proposta para meu marido para assumirmos a propriedade para a criação de gado Jersey. Ela cuidava da parte técnica, enquanto eu da administração. Compramos as primeiras novilhas Jersey PO em janeiro de 2004, e fundamos Cabanha Guinther.

Sempre fui muito curiosa e adoro buscar novidades. Procuro sempre fazer visitas a outras propriedades aqui e no exterior (já visitei algumas no Canadá), além de seminários, dias de campo e busca de inovações e contatos durante as participações em exposições.

Administro toda a Cabanha, desde a criação dos animais até a entrega de leite. Muitas vezes, faço remotamente, pois minha residência fixa fica a 100 km da propriedade, em Nova Veneza (SC). Por isso, conto muito com o apoio e trabalho de meus colaboradores que moram na propriedade. Adoro também cuidar do plantio do milho e da produção de feno, e mais ainda tirar leite. 

 Assumir uma propriedade foi um grande desafio e me rendeu muito aprendizado. Uma das dificuldades foi conseguir manter a boa genética dos primeiros animais que comprei: ficava noites e noites pesquisando touros que poderia utilizar no cruzamento com minhas vacas. Meu objetivo era ter uma genética que, além da qualidade leiteira, também tivesse um bom perfil para exposições e feiras. Após o auxílio de técnicos especializados e, mais uma vez, muito estudo, hoje a Cabanha Guinther tem reconhecimento nacional por sua genética.

Ser uma mulher no agronegócio foi um desafio muito grande, ainda mais numa região de pequenos produtores familiares, que tem como costume o homem estar no comando da propriedade. Mas aos poucos fui conseguindo espaço no setor e o apoio das outras mulheres produtoras de leite da região.

Sempre encarei os negócios de forma muito profissional, o que me trouxe tranquilidade. Acho a presença da mulher no agro muito positiva. A mão de obra no setor está cada vez mais escassa, e a grande maioria das vezes a produção é somente familiar. Com a divisão das tarefas na família, vejo que muitas vezes a mulher fica com a responsabilidade de tratar os animais e tirar o leite, e os homens com o trabalho de produzir o alimento dos animais. 

Desta forma, a participação direta da mulher na atividade leiteira somente acrescenta e traz novas ideias. Porém, reforço que sua participação deveria ser mais ampla no planejamento e na estruturação do setor. Sempre tive funcionárias mulheres. Inicialmente elas eram contratadas em razão do contrato que os maridos tinham com a propriedade. Mas já faz alguns anos que contrato funcionárias que têm papel principal e primordial na propriedade. A que hoje trabalha comigo é responsável por tirar o leite, pelo controle leiteiro, auxilia no controle de doenças dos animais, no controle de cios das vacas, e nas responsabilidades de outros setores, inclusive colaborando no setor do marido dela, quando necessário. Em todo esse tempo observei que as mulheres são mais detalhistas e têm uma visão mais ampla, o que é excelente dentro do setor leiteiro.

Como mencionei anteriormente, vejo que a mulher tem uma visão muito ampla sobre a atividade, bem como consegue trabalhar os detalhes de forma mais coesa dentro deste todo que ela avalia. Ao mesmo tempo em que consegue analisar situações que ocorrem em toda a propriedade, ela também consegue focar em detalhes do cuidado com cada animal. Aquele olhar de mulher/mãe: sempre de olho em tudo, porém atenta a cada detalhe.

Acredito que uma parceria entre homens e mulheres, cada um trabalhando no setor que mais tem aptidão, é a fórmula ideal para a pecuária leiteira.

 Em todo esse tempo observei que as mulheres são mais detalhistas e têm uma visão mais ampla, o que é excelente dentro do setor leiteiro.

Daniella Martins da Silva

Graduada em medicina veterinária, é, filha de Magnólia Martins e está à frente da Java Pecuária, em Monte Alegre de Minas (MG). Conta com 85 vacas Girolando em lactação, sob sistema de semiconfinamento, que produzem 2.000 litros de leite/dia, com média geral de 23,5 litros/vaca/dia

Minha paixão pela atividade leiteira vem desde criança, graças à vivência com meus pais produtores de leite há vários, que me criaram junto com as vacas de leite. Desde os meus dez anos, já tinha na cabeça que trabalharia com esses animais: o leite já corria na veia. Em 2008, juntamente com meu esposo, iniciamos a atividade em nossa fazenda. Mesmo assim, continuou como o braço direito de meus pais na fazenda deles. 

Sempre busco aprimorar meus conhecimentos, participando de palestras, cursos e de exposições onde vivemos uma imensa troca de experiências com os produtores.

Hoje temos uma produção de 2.000 litros/leite/dia. Fico mais direcionada à parte sanitária da fazenda e no melhoramento genético dos animais. Nosso gado é 100% registrado na Girolando e temos algumasnha paixão pela atividade leiteira vem desde criança, graças à vivência com meus pais produtores de leite há vários, que me criaram junto com as vacas de leite. Desde os meus dez anos, já tinha na cabeça que trabalharia com esses animais: o leite já corria na veia. Em 2008, juntamente com meu esposo, iniciamos a atividade em nossa fazenda. Mesmo assim, continuou como o braço direito de meus pais na fazenda deles. 

Sempre busco aprimorar meus conhecimentos, participando de palestras, cursos e de exposições onde vivemos uma imensa troca de experiências com os produtores.

Hoje temos uma produção de 2.000 litros/leite/dia. Fico mais direcionada à parte sanitária da fazenda e no melhoramento genético dos animais. Nosso gado é 100% registrado na Girolando e temos algumas matrizes Gir Leiteiro para produção do meio-sangue Holandês/meio-sangue Gir.

Não acho que, pelo fato de ser mulher, haja dificuldades na atividade leiteira. Nascemos para ser verdadeiras companheiras dos homens, eu e meu marido trabalhamos juntos, tomamos decisões juntos, caminhamos lado a lado, nenhum é mais do que o outro. Vejo a presença da mulher no agronegócio como algo muito positivo, muitas mulheres não assumiam a atividade, acredito que por medo ou pressão. E hoje mostramos que estamos cada vez mais aptas a isso, buscamos conhecimento, aprimorando nossa participação na atividade. 

Precisamos urgente mudar as políticas do leite, ter mais incentivo na atividade, maior previsibilidade nos preços, melhora nos custos de produção, ter um marketing melhor. Hoje praticamente pagamos pra produzir leite. O produtor não está aguentando mais, embora tenha paixão pela atividade.

A pecuária leiteira, como qualquer outra atividade, requer muito trabalho, dedicação e amor no que se faz. Tanto o homem quanto a mulher estão aptos a ela. O diferencial da mulher seria sua habilidade materna e sensibilidade para lidar com os diferentes desafios.

As mulheres têm de correr atrás de seus sonhos. Não tenham medo, enfrentem as barreiras, preconceitos e mostrem que são capazes.

Não tenham medo, enfrentem as barreiras, preconceitos e mostrem 
que são capazes.

Magnolia Martins da Silva

Produtora na Fazenda Valinhos, em Monte Alegre de Minas (MG), com 150 vacas da raça Girolando em lactação, sob sistema de semiconfinamento, e que produzem 3.000 litros/leite/dia, com média geral de 20 litros/leite/vaca/dia

Meu trabalho na Fazenda Valinhos se iniciou em 1990, sob a inspiração de meus pais, que eram produtores rurais com atividades diversificadas, inclusive produziam leite para o sustento da família. Com o falecimento do meu pai, busquei continuar com o que mais me identificava, que era a atividade leiteira. Com isso busquei aprimorar meus conhecimentos com cursos, palestras e visitas a propriedades rurais.

Comecei com 30 litros/leite/dia, fui tomando gosto pela atividade e passei a investir em genética para a melhoria do potencial de produção das vacas, visando ao aumento da produtividade. O plantel é Girolando 100%, registrado, e temos também matrizes Gir Leiteiro para fazer o F1. Em 1996 me associei à Associação Brasileira dos Criadores de Girolando e busquei assistência técnica especializada para direcionar o meu trabalho.

Um de meus grandes desafios foi o aumento da produção e, em paralelo, desenvolver estrutura, manejo e dieta de qualidade para chegar ao que almejava, que eram animais de alto valor genético.

Na minha experiência, procurei trabalhar na própria ordenha, tirando leite, acompanhando o manejo diariamente para ver se seria aquilo mesmo o que eu queria. Vi que era capaz, sem nenhuma competição, apenas fazendo o que realmente gosto e me faz bem. 

Várias vezes me deparei com o preconceito por ser mulher à frente da atividade leiteira. Enfrentei tudo isso como um desafio a superar, cada crítica me fortalecia e todos os obstáculos foram vencidos, ficaram pra trás. Tudo serviu de aprendizado.

Hoje as mulheres estão à frente não por competir com o homem, mas por sua própria capacidade e empenho. No passado, às vezes, elas tinham receio em ocupar um espaço que até então era do homem. Hoje, mostramos que somos capazes, com alto potencial e habilidades. Acho que, por sermos mães, temos o dom de criar.

Tenho contratado mulheres para lidar com a criação de bezerras. Percebo que tratam as bezerras como filhas, com muito carinho, higiene e dedicação. Além disso, conto com a ajuda de minha filha Daniela, que é meu braço direito em todos os aspectos da atividade. O fato de ser mãe, de cuidar, zelar, ter diferentes atividades no dia a dia, faz com que a mulher se identifique melhor na atividade leiteira pelo fato de ter essa sensibilidade materna.

O recado que deixo a todas as mulheres é que sigam seus sonhos sem medo. Lutem, se qualifiquem e se dediquem, porque somos capazes!

Ana Maria Ribeiro Scarpa Pinto Nilo

Produtora de leite no Sítio Pousada do Sol, em Itanhandu (MG), com 45 vacas Holandesas em lactação, em sistema de compost barn, com produção diária de leite 30 litros de média, totalizando 1.300 litros/dia de leite

Nasci no leite, pois meu avô e meu pai sempre foram produtores de leite e criadores de gado Holandês, sempre buscando o melhor dessa raça.  Desde que iniciei como produtora, sempre busquei melhores condições tecnológicas e qualidade para produzir um alimento que possa ser consumido em qualquer parte do mundo. Meu trabalho é o gerenciamento da fazenda. Entre os principais desafios está sempre o econômico, sobretudo no que diz respeito à redução e racionalização dos custos e ao aumento da produtividade. Daí o aprimoramento tecnológico constante da produção, como os mais recentes o sistema de compost barn, equipamentos de última geração, adoção de programa de gestão/reprodução, energia solar com a instalação de placas fotovoltaicas, entre outros. Há também o desafio da gestão de pessoas, quebrando paradigmas, preconceitos e capacitando os colaboradores: estamos implantando na fazenda  o Agro+Lean. Acredito que esse seja o caminho para garantir produção de alimento de qualidade aos animais, manejo eficiente, profissionais capacitados e leite de alta qualidade. Acrescento ainda, como parte desse trabalho, a busca para proporcionar a nossos colaboradores melhores condições de trabalho, qualidade de vida e oportunidades de capacitação. Em minha concepção é fundamental que haja uma relação de parceria entre mim e eles, pois isso é a base para o bom desempenho da atividade. Em relação à aptidão da mulher na gestão de uma propriedade leiteira, em alguns aspectos pode ser mais difícil do que para o homem, mas é algo facilmente superado com dedicação, conhecimentos e determinação. Nós, mulheres, graças à nossa sensibilidade, somos mais eficientes no manejo, na criação de bezerras e na qualidade do leite. Mesmo encontrando preconceitos no mercado, nunca me deparei com essa situação. Nossa atividade, hoje, cada vez mais está sendo liderada por mulheres e isso vem quebrando muitos paradigmas. Como temos propensão para a organização, constatamos, num grupo de produtores, que as fazendas mais bem organizadas são as gerenciadas por mulheres. Por fim, gostaria de dizer às mulheres do agro: façam bem feito, conheçam o mercado, sejam eficientes, e assim terão uma ótima gestão da porteira para dentro.

Nós, mulheres, graças à nossa sensibilidade, somos mais eficientes no manejo, na criação de bezerras e na qualidade do leite. 

Roberta Mara Züge

Médica veterinária, mestre e doutora, atua como consultora na área de qualidade, especificamente com boas práticas, normativas e certificação. Também é superintendente da ABCBRH

Desde antes de entrar na faculdade, queria trabalhar com produção animal. Era adolescente e lembro de ler uma matéria sobre engenharia genética. Ali defini que iria fazer veterinária e trabalhar na área. Fiz um estágio em Hannover. Lá, as vacas de leite, principalmente Holandesas, dominam. Assim, logo após a graduação, fiz mestrado e doutorado com reprodução de bovinos. No Paraná, tive a oportunidade de estreitar os conhecimentos na área de garantia da qualidade. Com isso, a convite do Ministério da Agricultura e do Inmetro, coordenei a norma de certificação de leite, projeto de 2005. Desde então, minha inserção no setor é intocável. 

Pelo que tem observado, o empoderamento das mulheres nessa área está trazendo algo de novo para atividade. Ainda há preconceito. As equipes de campo contam com poucas mulheres. 

Vejo muito discurso do leite 4.0, mas isto é incompatível para os que ainda mantêm a equipe praticamente toda masculina. Não faltam mulheres qualificadas. Em pesquisa do Sindivet- PR, foi mostrado que há mais mulheres na profissão, mas na produção animal ainda somos pouco representativas. 

No entanto, mesmo com este preconceito, algumas características que as mulheres expressam mais estão sendo valorizadas. As novas normativas exigem mais organização e controle, como registros de procedimentos, algo que muitos homens querem distância. Assim, uma mulher com mais senso organizacional tem sido demandada.

 De modo geral, as mulheres estudam mais. Em qualquer nível sociocultural esta premissa é verdadeira. Elas são a maioria dos cursos de especialização, assim como de stricto sensu. Infelizmente isso não se reflete na remuneração. Ainda há uma defasagem importante. No entanto, o conhecimento está sendo mais valorizado, exatamente pela maior profissionalização do setor.

Um dos pontos que gestores mais antenados já perceberam é aproveitar melhor as características de seus colaboradores. De modo geral, até por uma questão social, a mulher acaba tendo mais contato com cuidados de crianças. Cuidados com higiene são fundamentais para um bom desenvolvimento de recém-nascidos, por exemplo. A mesma premissa se aplica à criação de bezerros. O trato com a temperatura do leite para bezerros também se aplica para alimentar bebês ou cuidar de umbigo. Até a forma de se expressar e conversar com este “bebê”é semelhante. Quem não gosta de ser cuidado com carinho de mãe? 

Também na ordenha, a mulher tem uma preocupação maior com higiene e muitas delas têm afinidade com a cozinha, algo preconizado desde cedo para as meninas A ordenha é uma sala de manipulação de alimento. E de um alimento muito perecível, de alto valor nutricional para nós e, claro, por isso, muito desejado pelos microrganismos. Assim, exige muita higiene e cuidados, característica mais cultuadas pelas mulheres.

Assim, há funções que os gestores 4.0 já sabem que terão melhores resultados se estiverem a cargo de mulheres. Outra característica, muito importante, é a responsabilidade. As mulheres se dedicam mais às suas atividades profissionais, pois delas dependem o sustendo e a vida de seus filhos. Este sentimento, inclusive ligado aos níveis de prolactina, é muito mais intenso nas mulheres que nos homens. 

Convivo de forma virtual, diariamente, com diversas produtoras, aquelas que estão na ordenha, na lida mesmo. Elas adoram suas atividades, têm prazer em lidar com os animais. Hoje as redes sociais permitem maior integração e podemos saber mais o que pensam pessoas que estão a milhares de quilômetros de distância. 

Por sorte, vejo que muitas das jovens mulheres que estão no leite estão mais escolarizadas, isto é um dos principais pontos que precisamos garantir para uma melhoria da sociedade como um todo.

As mulheres estudam  mais. Em qualquer nível sociocultural esta premissa é verdadeira. Elas são a maioria dos cursos de specialização.

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