balde branco
revista-balde-branco-rondonia-01-ed684

Programa Transtec orienta produtores nas boas práticas na produção leiteira

LEITE EM RONDÔNIA

No caminho da evolução

em produtividade e qualidade do leite

Mesmo figurando em nono lugar entre os Estados que mais produzem leite no Brasil, segundo dados do IBGE, a pecuária leiteira em Rondônia não se dá por satisfeita e busca mais tecnificação dos sistemas produtivos para impulsionar a atividade

Erick Henrique

A agropecuária desponta como o maior segmento econômico em Rondônia, segundo avaliação dos pesquisadores da Embrapa Rondônia – que desenvolveram, em 2020, o projeto de pesquisa e transferência de tecnologia para o fortalecimento da pecuária de leite no Estado para os próximos cinco anos, denominado Transtec.

“A pecuária leiteira, em especial, tem dado importante contribuição. O Estado é o que mais produz leite na Região Norte, com um perfil eminentemente de base familiar. A produção de leite por aqui apresentou crescimento na última década. Entretanto, parte considerável desse aumento se pautou pelo aumento das áreas exploradas e do rebanho”, explica Rhuan Amorin de Lima, analista da instituição e responsável pelo projeto.

Para ele, apesar de nos últimos anos ter sido observada uma mudança gradual na tecnificação dos sistemas produtivos, a produção rondoniense, em geral, ainda é considerada de baixo nível tecnológico. Apesar do baixo índice de adoção de tecnologias, as características produtivas, tais como abundância de chuvas, viabilidade de sistemas de produção de leite a pasto e produção direcionada para a industrialização, demonstram o grande potencial de crescimento da pecuária leiteira nesta unidade da Federação.

“Considerando todo esse potencial, a adoção de tecnologias preconizadas para as condições específicas do Estado propiciará exponencial ganho de produtividade aos produtores de leite rondonienses”, destaca o responsável pela atividade do projeto Transtec.


Conforme dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), do IBGE, a produção de leite em Rondônia em 2019 foi de 1,1 bilhão de litros, sendo o maior produtor da Região Norte e o sétimo maior produtor do Brasil. Em 2020, a produção foi de 999 milhões de litros, ainda ocupando a primeira posição no ranking da Região Norte e a nona posição no ranking nacional. É importante esclarecer que os dados são do IBGE e que a Embrapa não faz coleta de dados primários dessa natureza.

Além do melhoramento genético do rebanho, o produtor também é orientado em outras tecnologias para os animais expressarem todo o seu potencial produtivo

Luiz Francisco M. Pfeifer: “Temos realizado muitas pesquisas para desenvolver soluções e indicar práticas/processos para os principais problemas da pecuária de leite em Rondônia, como sanidade da glândula mamária e qualidade do leite, eficiência reprodutiva, comportamento animal e ambiência e manejo de pastagens”

“Temos ainda um extenso caminho para percorrer até que o rebanho de leite de Rondônia e sua produção evoluam de forma significativa. Temos realizado muitas pesquisas para desenvolver soluções e indicar práticas/processos para os principais problemas do sistema de produção de leite de Rondônia, especialmente soluções nas áreas abordadas pelo Projeto Transtec: sanidade da glândula mamária e qualidade do leite, eficiência reprodutiva, comportamento animal e ambiência e manejo de pastagens”, aponta Luiz Francisco Machado Pfeifer, pesquisador da Embrapa Rondônia, responsável pela atividade e coordenador-geral do projeto.

Ele observa que, independentemente das descobertas que estão fazendo com o transcorrer do projeto, se a cadeia do leite estivesse utilizando as tecnologias que já estão disponíveis, certamente a bovinocultura leiteira em Rondônia estaria em outros patamares de produção e produtividade.

“A atividade leiteira na Amazônia ainda é caracterizada por baixos índices produtivos e reprodutivos. Segundo os dados mais recentes do IBGE, uma vaca produz em média 1.400 kg de leite por lactação, o que significa, em média, apenas 4,5 kg/leite/dia. Temos potencial para elevar consideravelmente esses números. Como já dissemos, é fundamental que as tecnologias sejam adotadas pelo produtor e, para isso, é necessário um esforço conjunto de todos os elos da cadeia produtiva do leite. Muito já tem sido feito”, diz Pfeifer.

O pesquisador faz questão de destacar também que a disseminação de inseminação artificial é um exemplo típico de tecnologia que, a médio prazo, pode auxiliar a mudar esse cenário. Entretanto, não adianta melhorar a genética do rebanho sem o uso das tecnologias de suporte, que permitirão que o rebanho expresse todo o potencial produtivo.

“Para se ter uma ideia, conforme o último censo da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), Rondônia insemina apenas cerca de 3% das fêmeas de leite, enquanto a média nacional é de 10,7%. Certamente precisamos e podemos melhorar esses números, pois terão impacto significativo na produção de leite, produtividade e lucratividade das propriedades leiteiras”, avalia o coordenador do Transtec.

Dois eixos de trabalho – Segundo os pesquisadores da Embrapa Rondônia, o projeto Transtec possui dois grandes eixos de trabalho, as ações de pesquisa e as ações de transferência de tecnologia (TT). As ações de TT previstas envolvem interações presenciais, o que durante este período inicial do projeto não foi possível executar por causa das questões de saúde pública e segurança no que tange à prevenção e ao combate à epidemia de covid-19.

Desta forma, visando à segurança de todos os envolvidos, quer sejam funcionários da Embrapa, parceiros, técnicos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) e os próprios produtores, têm sido cumpridas as deliberações dos governos federal, estaduais e municipais, que limitam a execução dessas ações. Assim, foram necessários ajustes no cronograma, de forma que a nova previsão é de que estas unidades sejam implantadas neste ano.

“Estão previstas 11 unidades no Estado, além da unidade de referência instalada no Campo Experimental da Embrapa em Porto Velho, que, mesmo neste momento de restrições, segue sendo conduzida para, assim que permitido, possamos utilizá-la nas ações de transferência de tecnologia com a presença de técnicos e produtores”, informa Rhuan de Lima, acrescentando que a previsão é de que as demais 11 unidades sejam construídas em áreas de produtores parceiros nos municípios de Ouro Preto D’Oeste, Jaru, Ji-Paraná, Nova Mamoré, Urupá, Cacoal, Governador Jorge Teixeira, Espigão D’Oeste, Machadinho D’Oeste, São Miguel do Guaporé e Rolim de Moura.

Com o melhoramento genético orientado, as bezerras terão maior potencial produtivo do que suas mães

De acordo com análise da Embrapa-RO, os impactos previstos das ações de transferência de tecnologia são fortemente significativos no contexto da cadeia produtiva da bovinocultura de leite no Estado. Estima-se, por exemplo, a capacitação de mais de 125 técnicos atuantes em Ater ao longo dos cinco anos de projeto, ação que indiretamente tem capacidade de atingir 3.750 produtores, ao considerar que um técnico preste assistência, em média, para 30 propriedades.

O alcance desse impacto, segundo a equipe de pesquisadores envolvida com o projeto, não se limita apenas à capacitação dos técnicos. Também as Unidades de Referência Tecnológica (URTs) terão papel de disseminar tecnologias no seu entorno/região, ao serem utilizadas para dias de campo com o intuito de receber visitantes para apresentação e sensibilização no emprego de tecnologias adequadas às condições edafoclimáticas de Rondônia. O Transtec prevê ainda a realização de seminários técnico-científicos capazes de atingir, além de técnicos, outros atores da cadeia, a exemplo de docentes e acadêmicos, sendo estes últimos os próximos profissionais que vão atuar a campo.

Como aproveitar o potencial da forrageira – Nesse projeto, que tem duração de 60 meses, a Embrapa vai coordenar diversas ações que visam desenvolver tecnologias e aumentar a produtividade do rebanho leiteiro em Rondônia. Dentre os focos dessas ações estão as estratégias e as ferramentas para formação e manejo de pastagens, como explica a pesquisadora Ana Karina Dias Salman, “pois, nos sistemas típicos do Estado, a pastagem é o principal recurso alimentar do rebanho leiteiro”.

Ela observa que no projeto Transtec estão previstas ações que contemplem, entre outras medidas, a recomendação de pastagens que promovam melhoria da capacidade produtiva, além de técnicas de manejo que possam melhorar o uso do recurso forrageiro. “Uma pastagem bem manejada fornecerá alimento de melhor qualidade aos animais e isso se refletirá na produção de leite no balde”, ressalta. Em sua avaliação, tanto os pesquisadores da Embrapa-RO quanto os produtores de leite partem do princípio de que a base da alimentação do rebanho deva ser em um pasto bem manejado. Entretanto, no período de escassez de chuvas, a qualidade nutricional dos pastos diminui, sendo preciso então pensar em alternativas para a suplementação volumosa nesse período, a fim de manter a produtividade.

Ana Karina: “Uma pastagem bem manejada fornecerá alimento de melhor qualidade aos animais e isso se refletirá na produção de leite”

Em vacas em lactação da raça Girolando com acesso à sombra, a produção diária de leite foi até 7% maior em relação às vacas que ficam a pleno sol

“Atualmente, além das tecnologias convencionais, como o fornecimento do capim-elefante picado no cocho misturado ou não com cana- de-açúcar, cana+ureia, silagem de milho ou sorgo, a Embrapa lançou a cultivar BRS Capiaçu, um clone de capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum) de alto rendimento para suplementação volumosa na forma de silagem ou picado verde”, observa Ana Karina, acrescentando que, devido a seu elevado potencial de produção (50t/ha/ano), essa cultivar também pode ser utilizada para a produção de biomassa energética. Tem porte alto (até 4,2 metros de altura), se destacando pela produtividade e pelo valor nutritivo quando comparada com outras cultivares de capim-elefante.

A silagem desse capim, segundo a pesquisadora, constitui uma alternativa mais barata para suplementação do pasto no período da seca. Além dessa recomendação, o produtor não pode deixar de suplementar com ração concentrada, principalmente as vacas com maior potencial produtivo. Para orientar técnicos e produtores na formulação de dietas com a opção de uso de ingredientes regionais, a Embrapa Rondônia disponibiliza gratuitamente a segunda edição do manual prático de formulação de ração para vacas leiteiras (https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123902/1/cpafro-18428-doc167.pdf).

É preciso ressaltar que, além de uma alimentação adequada, deve-se estar atento ao conforto térmico do rebanho. Animais em pastagens não sombreadas gastam muita energia para regular a temperatura corporal e isso compromete sua capacidade de consumo, o aproveitamento do alimento e, consequentemente, a produtividade. “Observamos aqui, em nosso campo experimental de Porto Velho, que, em áreas de pastagem arborizadas com eucalipto, novilhas da raça Girolando apresentam maior ganho de peso e redução de até 50% no tempo de ingestão de água em relação aos animais que ficam em pastagem a pleno sol”, revela a pesquisadora envolvida com projeto Transtec.

Ana Karina aponta também que, no caso das vacas em lactação da raça Girolando com acesso à sombra, a produção diária de leite foi de 6% a 7% maior em relação àquelas que estavam em pastagem a pleno sol. “Por essa razão, recomendamos que técnicos e produtores consultem a lista de espécies arbóreas nativas da Amazônia com potencial para sombreamento de pastagem disponibilizada no Aplicativo Arbopasto (https://arbopasto.cpafro.embrapa.br/)”, finaliza.

AÇÕES DE PESQUISA

 
Pastagem –
Está previsto no Transtec o desenvolvimento e a validação de forrageiras com foco em amenizar a problemática da degradação de pastagens, principalmente a que está relacionada com ocorrência da síndrome da morte do capim-braquiarão (SMB) e a cigarrinha-das-pastagens.

Reprodução – Também há previsão de desenvolver ferramentas para manejo reprodutivo de vacas leiteiras em condições de estresse nutricional e calórico, considerando as condições climáticas predominantes em Rondônia. Este aspecto merece destaque, tendo em vista que a venda de bezerros é uma importante fonte de renda na atividade, assim como uma boa taxa de prenhez interfere diretamente na produção de leite.

Qualidade do leite – Atividades para o monitoramento temporal e espacial dos indicadores de qualidade do leite, rastreamento dos pontos críticos de contaminação microbiológica da matéria-prima em unidades de produção e avaliação de práticas para redução da microbiota deteriorante do leite fazem parte do projeto.

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO – Concomitantemente às ações de pesquisa, estão previstas atividades para a instalação de 11 Unidades de Referência Tecnológica, que serão utilizadas como ferramenta para disseminação e demonstração de tecnologias já desenvolvidas pela Embrapa para uso em sistemas de produção de leite a pasto. A seleção de tecnologias a serem adotadas em cada URT será feita com base em um diagnóstico inicial do sistema utilizado em cada propriedade e a adoção será realizada por um técnico com base em um plano trabalho elaborado pela Embrapa Rondônia. Também faz parte dessas ações a qualificação de técnicos para assistência em unidades de produção de leite em Rondônia, tanto de instituições públicas como privadas.

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?