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ATUALIZANDO

NOVILHAS

A importância de criá-las com todos os cuidados

Etapa fundamental em qualquer sistema de produção de leite, a recria de novilhas não pode sob nenhum aspecto ser negligenciada, pois se esta falha ocorrer, significa prejuízos diretos, como problemas de saúde e de desenvolvimento desses animais. Mas também prejuízos indiretos, que muitas vezes o produtor não percebe, pois aquela novilha que não recebeu os devidos cuidados não será a vaca altamente produtiva, como se quando novilha tivesse recebido a atenção merecida.

Para trazer mais conhecimentos aos produtores sobre esse assunto, conversamos com Polyana Pizzi Rotta, zootecnista e professora da disciplina Produção e Nutrição de Bovinos Leiteiros, na Universidade Federal de Viçosa (UFV), e coordenadora do Programa de Extensão Família do Leite.

Em primeiro lugar, qual a importância de criar bem as novilhas leiteiras, ou seja, a importância dessa etapa dentro do negócio leite da propriedade?
Polyana –
Criar bem as novilhas é fundamental para termos excelentes vacas leiteiras. Na atividade leiteira a taxa de descarte pode variar entre 10% para sistemas mais extensivos e 40% em sistemas muito intensivos. Dessa forma, temos vacas saindo da atividade por vários motivos: problemas reprodutivos, problemas sanitários ou baixa produção de leite, por exemplo. Assim, precisamos de novilhas parindo para substituir as vacas que por algum desses motivos não farão mais parte da atividade.

De maneira geral, o produtor tem avançado, sobretudo os pequenos e médios, no manejo da recria de novilhas?
Polyana –
Os produtores pequenos e médios (até 1.000 litros de leite) têm avançado muito pouco na recria de novilhas. Temos observado isso em visitas e consultorias a campo que fazemos pelo nosso Programa de Extensão, o Família do Leite, em que a maioria dos produtores não tem capital para investir em dietas melhores, que proporcionam maior ganho de peso para as novilhas. Não têm hábito de pesar as novilhas para acompanhar o ganho de peso e muitas vezes não fazem uso de IA, tendo touros como reprodutores. Assim não aproveitam o fato de que essa categoria possui mais taxa de concepção e seria um grande ganho genético para a fazenda o uso de IA.

Destaque quais são as principais falhas que ainda se cometem e que têm impacto negativo no desempenho futuro da vaca.
Polyana –
As principais falhas são a nutrição aquém da exigência. Ou seja, as novilhas Holandesas deveriam ganhar de 0,70 a 0,90 kg/dia, dependendo do peso à maturidade. Dessa forma, devemos conhecer o peso à maturidade dos animais da fazenda, pesando 20% dos animais com DEL entre 100 e 150 que estejam na terceira lactação. Após conhecer esse peso, vamos usar a recomendação do Nasem (2021) para peso ao parto, que é de 91%. Assim, as novilhas devem parir com 91% do peso à maturidade. Isso garante que o animal tenha composição corporal e tamanho para maximizar o consumo de matéria seca no pós-parto, e assim produzir por volta de 90% de leite de uma vaca adulta.
Quando as novilhas não atingem esse ganho de peso, e parem leves, poderão ter problema ao parto, e produzirão menos leite na primeira lactação. No entanto, quando consideramos a raça Girolando, isso muda completamente. Vários estudos conduzidos pelo nosso grupo de pesquisa na UFV indicam que as novilhas Girolando não devem ganhar mais de 0,7 kg/dia, mesmo que esse ganho seja com dietas com alto teor de proteína bruta (acima de 14%). Isso porque essa raça tem a característica de acumular muita gordura do corpo e também na glândula mamária, o que prejudicará a futura lactação. Por esse fato, a idade ao primeiro parto das Holandesas deve ser 23 meses e a das Girolando por volta de 26 meses.

O parto, os primeiros e criteriosos cuidados com a bezerra até o desmame, a recria, a IA. Todo esse processo é um fator de custo ou investimento? Por que o produtor deve estar atento a isso se desejar profissionalizar sua atividade?
Polyana –
Todos esses processos são investimentos. O setor de gado de leite é feito de detalhes. Precisamos nos ater aos detalhes de cada processo e setor da fazenda. A cria e recria é um ótimo exemplo disso. Para uma vaca expressar a genética que ela tem, é preciso entender que muitos fatores anteriores podem contribuir para que isso realmente aconteça. Quem aqui não conhece uma vaca filha de uma ótima vaca com um excelente touro e que deveria ser melhor que a sua mãe e não é. Isso não é incomum. A questão é que a nutrição fetal pode afetar a produção futura, o estresse térmico que a vaca passa durante a gestação pode afetar a produção de leite futura de sua progênie, a diarreia e a pneumonia que essa bezerra teve também vão influenciar a produção de leite futura. Então é isso: minimizar os riscos e problemas. Para isso precisamos nos atentar aos detalhes. Por exemplo: 1) Garantir conforto e nutrição adequados para a vaca gestante; 2) Realizar uma boa colostragem com verificação da eficiência de transferência de imunidade passiva; 3) Cura de umbigo adequada (produtos adequados por tempo adequado); 4) Nutrição com leite de boa qualidade, evitando o leite com antibiótico; 5) Volumosos de qualidade livres de micotoxinas; 6) Ração com palatabilizante e de tamanho de partícula adequada para melhorar a formação do rúmen; 7) Desmama com alto consumo de concentrado; 8) Vacinações em dia; 9) Controle de endo e ectoparasitas; 10) Nutrição adequada das novilhas pensando no correto ganho de peso de acordo com a raça e o peso à maturidade.

Quais os principais cuidados que se deve ter nesta fase de recria, e quais não se podem negligenciar quanto ao manejo (lotes homogêneos), instalações, manejo nutricional, sanidade?
Polyana –
A formação de lotes homogêneos vai garantir que os animais consigam ter acesso ao cocho e à dieta formulada. Se você coloca animais muito grandes com animais menores, poderá haver competição e briga no lote, onde as menores serão prejudicadas. Devemos conhecer o peso à maturidade para calcularmos o correto ganho de peso para esses animais e então formular dietas apropriadas para eles. Pesar os animais com frequência de 60 dias com fitas de pesagens, não é necessário investimento com balanças. Acredito que as instalações vão depender do nível de tecnologia do produtor. Estamos vendo com muita frequência grandes projetos confinando os animais, mas, aqui, é preciso destacar que a falta de contato com carrapatos e tristeza parasitária resultará em animais com menor imunidade, e, caso uma vaca fique doente, a chance de cura e recuperação será bem inferior. De forma geral, sugiro que os animais tenham conforto numa instalação tipo compost barn, mas também tenham acesso a piquetes para que o contato com o carrapato ocorra.

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