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TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

"A vaca pode render mais em leite se emitir menos metano. Menos ‘lixo’ proveniente da digestão da dieta que ela consumiu significa mais energia para produzir leite e para a gestação”

O arroto temperado

O título é esse mesmo, uma forte tendência! O Estado da Califórnia, maior produtor de leite norte-americano, aprovou recentemente a adoção de produtos à base de algas vermelhas como aditivo alimentar para bovinos. Mais uma tecnologia para o Estado cumprir sua meta de reduzir a emissão de metano em 40% até 2030. O que não é pouco, considerando que algumas fazendas que utilizam o confinamento intensivo podem ser identificadas do espaço, tamanha sua concentração de metano.

Algas são organismos vivos, portanto, seu uso como aditivo alimentar é mais um na lista crescente dos bioinsumos, que tratei nesta coluna na edição de maio. Algas são estudadas há anos por diferentes equipes de vários países, devido ao seu elevado teor de óleos e proteínas, e se multiplicam rapidamente, além de, neste caso (algas “vermelhas”), não serem alimento para humanos.

O efeito no rúmen é a alteração do metabolismo da digestão, causado principalmente pelo elevado teor de óleos funcionais ou essenciais, cujo tipo não é determinante aqui. Tais óleos são encontrados em vários temperos, como pimenta, canela, orégano, tomilho, e tantos outros. Já existem produtos comerciais disponíveis no Brasil, pois tecnologias à base de produtos naturais para mitigar a emissão de metano entérico compõem uma forte tendência, cada vez mais adotada.

Em vez da produção “normal” de metano, menos desse gás é produzido quando uma vaca ingere algas ou misturas desses temperos regularmente, porque alguns de seus componentes alteram a atividade dos micróbios naturalmente presentes no rúmen. A produção é menor, mas não cessa completamente, porque, para que o rúmen funcione, é necessário que o animal arrote uma espécie de lixo químico, o metano e outros gases, que não foram aproveitados quando o alimento foi digerido. A parte “boa” do alimento seguiu para o intestino ou foi absorvida pela parede do rúmen, a “dobradinha”, e seguiu para o sangue.

A pesquisa busca reduzir ao mínimo o metano gerado no trato digestivo. Os bioinsumos já existentes no mercado podem substituir com vantagens antibióticos e outros produtos químicos que ainda são vendidos para esse fim. São produtos cujos efeitos combatem argumentos contrários à pecuária, simplistas e não totalmente verdadeiros, do tipo “mais gado é igual a mais metano, mais efeito estufa resultando em mudanças no clima que causam prejuízos e tragédias para a humanidade”. Esse raciocínio simplista não leva em consideração que os ruminantes, de um modo geral, e os bovinos, em especial, contribuem para a produção de carne, leite, couro, trabalho e muito mais, a partir do consumo de alimentos que outros animais como porcos, aves e peixes, tampouco humanos consomem. Forragens, especialmente.

Daí que reduzir a emissão de metano entérico, temperando o arroto das vacas, é provavelmente a tendência mais importante para fortalecer a imagem da cadeia produtiva do leite (e da carne), juntamente com o bem-estar animal.

Mais do que isso, para o produtor há um componente imediato e muito importante: a vaca pode render mais em leite se emitir menos metano. Menos “lixo” proveniente da digestão da dieta que ela consumiu significa mais energia para produzir leite e para a gestação.

Vale repetir que é uma tendência tecnológica cada vez mais forte e que deve ser analisada com bastante atenção pelo produtor. Seu custo não é baixo, mas o efeito no rendimento é cada vez mais visível e cada vez mais bem aceito pelos consumidores. Portanto, tão importante quanto o fornecimento dos “temperos” para o arroto das suas vacas, promovendo aumento de eficiência na digestão do alimento e contribuindo para reduzir o impacto da sua atividade no ambiente, capriche na gestão da sua propriedade, controlando custos e garantindo lucratividade.

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