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LEITE EM NÚMEROS

Lorildo Aldo Stock

analista da Embrapa Gado de Leite

O aumento do preço da carne incentiva o abate de vacas leiteiras

O cenário de preços elevados para a vaca magra, a partir do segundo semestre de 2020 até fevereiro deste ano, pode ter provocado uma redução mais acentuada do rebanho leiteiro e talvez possa afetar a oferta de leite em 2021

A pandemia provocou grandes mudanças nas curvas de preços das cadeias produtivas alimentares no Brasil em 2020. No caso do leite, os maiores impactos ocorreram nos preços ao produtor, que subiram para patamares muito além dos preços históricos, um movimento verificado inclusive no período de entressafra. Altas de preços aconteceram também no mercado de insumos, o que veio a pressionar os custos de produção.

Nesse artigo são discutidos fatores que podem estar afetando a produção e os preços do leite e as perspectivas de crescimento da produção. Na análise são considerados os preços do leite recebidos pelo produtor, e valores da vaca em produção e da vaca de descarte.

A demanda por lácteos cresceu principalmente pelo impacto do auxílio emergencial do governo e no aumento relativo de renda de parcelas da população que tinham menos acesso ao consumo de lácteos. Parte do crescimento pode ser creditada também a mudanças de hábitos alimentares da população. Até 2019, os preços do leite ao produtor; das vacas de produção e de descarte (vacas magras) cresciam de forma bastante similar. Todavia, o aumento dos preços ao produtor, especialmente a partir de julho de 2020, em boa parte é consequência do aumento do consumo, o que afetou também os preços da matéria-prima. Nesse período, também cresceu o valor dos rebanhos utilizados nas fazendas de leite (gráfico).

Para os produtores, a média dos preços líquidos ao produtor do ano de 2020 foi de R$ 1,80/litro, com valorização de 29%, na comparação com 2015/19 (R$ 1,40/litro). Os maiores aumentos foram registrados no segundo semestre de 2020, com média de R$ 2,10/litro, ou 39% mais ante a média do primeiro semestre, que foi de R$ 1,51/litro. Se se considerar somente o segundo semestre do ano, a valorização média foi de 50% em relação à média histórica.

Por outro lado, segundo dados do IEA, em 2020, enquanto o preço da vaca em produção se valorizou apenas 2%, o da vaca de descarte cresceu 40%. Em 2021, considerando a média de preços para janeiro e fevereiro e comparando com a média desses mesmos meses entre 2015 e 2019, verifica-se que este ano o preço do leite ao produtor está 45% maior; o da vaca magra 86% superior, enquanto o da vaca em produção cresceu 11%.

A situação do setor leiteiro em 2021 continua recomendando cautela. Há uma dificuldade proveniente do aumento dos custos de produção, relacionados à alimentação do rebanho. Especialmente a partir do segundo semestre de 2020 até fevereiro/2021, os custos dos alimentos concentrados vêm se mantendo em elevação e não há sinais de arrefecimento, mesmo com a iminente entrada da nova safra de grãos. O custo da mistura de milho com farelo de soja (70%; 30%), que na média 2015/19 ficou em R$ 0,95/kg, em 2020 ficou com média R$ 1,31/kg. Considerando o período iniciado no segundo semestre/2020, a média foi de R$ 1,48/kg, 29% acima da média do primeiro semestre (R$ 1,15/kg).

Se, por um lado, o plantel leiteiro vem decrescendo, por outro o patamar de preços do leite a partir do segundo semestre de 2020 pode ser considerado como fator positivo no aumento da oferta do produto em 2,1% em relação a 2019. Segundo o IBGE, de 2015 a 2019 o número de vacas ordenhadas no Brasil decresceu de 23 milhões para 16,3 milhões de cabeças, uma redução de quase um terço (-29%) do plantel leiteiro em cinco anos, mantendo, porém, uma produção média no período de cerca de 34 bilhões de litros por ano.

Apesar de ainda desconhecidos os dados oficiais de 2020, o cenário de preços elevados para a vaca magra, a partir do segundo semestre de 2020 até fevereiro deste ano, pode ter provocado uma redução mais acentuada do rebanho leiteiro, e talvez possa afetar a oferta de leite em 2021. A redução do rebanho e o aumento da produção de leite só podem ser explicados pelo aumento da produtividade, largamente conhecida (8,1% ao ano no período 2015/19). O aumento da produtividade implica animais mais exigentes em relação à alimentação e a recente e acentuada elevação dos custos com alimentação pode desestimular os produtores a aumentar a produção pela via do aumento de uso do concentrado.
(Coautores: João Cesar de Resende, pesquisador, e José Luiz Bellini Leite, analista, ambos da Embrapa Gado de Leite)

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