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MERCADO

Jéssica Olivier

Engenheira agrônoma, Scot Consultoria

O bife, o queijo e os produtos fakes

Carne, leite e ovos são fontes básicas de proteína para o ser humano e melhor: têm alto valor biológico. Tal valor é medido de acordo com a absorção e retenção pelo corpo humano das proteínas presentes no alimento e o perfil de aminoácidos que compõem a proteína. Aminoácidos essenciais, aqueles não produzidos pelo corpo humano, estão em grande quantidade nas proteínas de origem animal, por isso a importância desses alimentos.

Mas o que é carne? Carne são os tecidos comestíveis dos “animais de açougue”, englobando músculos (com ou sem osso), gorduras e vísceras, podendo ser in natura ou processados (industrializados, salgados). Carnes vermelhas são as de bovinos, búfalos, ovinos, caprinos, suínos, equídeos e coelhos. As carnes brancas são as de aves e peixes.

E o que é o leite? O leite é um líquido fisiológico branco, opaco, secretado pelas glândulas mamárias das fêmeas dos mamíferos. O leite é de bovino, bubalino e caprinos, entre outros. A lista é longa.
Tendo em vista tais definições, qual a denominação correta para os alimentos à base de vegetais? Certamente não são carne e muito menos leite!

Projeto de lei – O projeto de lei nº 10.556/2018, apresentado em 10/7/2018 pela ex-ministra da agricultura Tereza Cristina, à época deputada federal por Mato Grosso do Sul, teve o intuito de proibir a denominação “leite” para alimentos que não tenham como base leite de origem animal. Palavras como cremes, condensados e queijos também devem ser empregadas para produtos de origem animal, produtos lácteos, originados de leite.
E por que isso? – Para não enganar o consumidor, fazendo-o acreditar que produtos de origem vegetal tenham as mesmas qualidades dos produtos de origem animal e que sejam a mesma coisa.
Ações similares já acontecem no mundo – algumas aprovadas. Por exemplo: o projeto de lei 316 no Texas (EUA); a regulamentação europeia 1.308/13, e, recentemente, o projeto de lei 273/2022, em São Paulo.

Alimentação saudável? Os produtos vegetais travestidos de produtos animais, produtos fakes, portanto, são lançados com o objetivo de extinguir o consumo de carne e de leite, por exemplo.
E por que isso? – As justificativas apresentadas são a salvação do meio ambiente, o consumo politicamente correto e a de que são mais, comparativamente, saudáveis.
Mas as opções “vegetarianas” ou até mesmo “veganas” são mais saudáveis?
Em uma caixa de leite UHT os componentes encontrados são leite e estabilizantes (citrato de sódio, trifosfato de sódio, monofosfato de sódio e difosfato de sódio).
Em uma caixa de alimento à base de soja UHT encontram-se água, extrato de soja, açúcar, fosfato tricálcico, cloreto de sódio, estabilizantes (carragena, carboximetilcelulose e citrato de sódio) e aromatizantes.
Uma garrafa de leite A pasteurizado possui, em sua composição, apenas leite, não é impressionante?

Mudanças? A informação sobre os alimentos não pode e não deve confundir o consumidor. Elas devem ser esclarecedoras.
Produtos à base de vegetais, naturalmente, podem existir e, é claro, compor com as proteínas animais. Chamar um bolinho vegetal de hambúrguer e suco de soja de leite tem a finalidade de confundir.
Nichos de mercado estão presentes na ponta consumidora, basta saber qual nicho o produtor quer suprir e quais adequações deverão ser feitas no processo produtivo. A melhor remuneração dos produtos “não commodities” é, por fim, um fator levado em consideração, uma vez que o preço é determinante na direção que o produtor toma.
Dinheiro move o mundo e o capitalismo é selvagem. Alguém já disse isso.

“NEM TUDO É O QUE PARECE”

Prática de reduflação e oferta de produtos semelhantes tomam conta das prateleiras dos supermercados.

Os últimos anos foram marcados pela instabilidade – pandemia, guerra russo-ucraniana, insegurança alimentar, insegurança energética – que provocaram inflação, mudando o mercado. Acompanhe, na figura 1, a evolução da inflação brasileira nos últimos dez anos, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A inflação, entre outros fenômenos, desvaloriza a moeda, encarece as mercadorias e faz o consumidor perder poder de compra. Os salários não acompanham a alta dos preços dos itens de consumo na mesma velocidade (figura 2).

A inflação, entre outros fenômenos, desvaloriza a moeda, encarece as mercadorias e faz o consumidor perder poder de compra. Os salários não acompanham a alta dos preços dos itens de consumo na mesma velocidade (figura 1).

A reduflação (do inglês shrinkflation, em que shrink significa reduzir e inflation, inflação) é uma estratégia de marketing para mascarar o aumento de preço de mercadorias. A prática consiste em diminuir a quantidade de produto, diminuir a embalagem em vez de aumentar o preço, dando a falsa impressão de que não houve alteração.

Outra estratégia é ofertar produtos similares. Esses são parecidos com os originais, no entanto possuem alterações em sua composição, o que permite reduzir o custo.

No ano passado, no primeiro semestre, por exemplo, os preços dos produtos lácteos subiram intensamente. Para driblar esse quadro, produtos similares foram lançados, como mistura láctea condensada no lugar do leite condensado, ou bebida láctea UHT, ocupando o lugar do tradicional leite UHT.

Segundo o Código de Defesa do Consumidor, essas alterações, em volume ou composição, devem ser sinalizadas na embalagem do produto durante um tempo hábil de, no mínimo, 6 meses, para que os consumidores tomem consciência das mudanças, sendo essas condições sujeitas a penalidades caso não cumpridas.

A tendência é de que essas práticas perdurem, uma vez que a recuperação econômica tende a ser lenta. Além disso, uma vez que essas “novas” mercadorias conquistem espaço no mercado, sejam atraentes para o consumidor e rentáveis ao fabricante, dificilmente veremos as marcas retornando ao seu formato original. (2)

(1) e (2) No original da autora são citadas referências bibliográficas.
O interessado pode solicitá-las à redação da Balde Branco.

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