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Edificações precisam levar em conta os condicionantes ambientais, como a chuva, a temperatura, o vento, a posição do sol e a localização das estruturas.

INSTALAÇÕES

O caminho é planejar para não errar

Elaborar um projeto das instalações de uma unidade produtiva de leite é um passo extremamente importante, que nem sempre é considerado pelos produtores, que posteriormente podem pagar caro para consertar os erros

João Carlos de Faria

Andrew Jones: “Subindo um degrau de cada vez o sucesso é certo, mas se você pular um degrau pode cair.”

Na pecuária de leite, quando se busca eficiência e produtividade, há providências que são indispensáveis, mas que nem sempre são consideradas pelos produtores. É o caso do planejamento de uma unidade produtiva, levando em conta a sua localização e a distribuição das instalações, que podem evitar futuras dores de cabeça, como má ventilação, remoção e destinação inadequada dos dejetos e incidência do sol e da chuva.

Com mais de 35 anos de experiência, sendo mais de 30 como gestor de fazendas de leite, o consultor Andrew Jones se especializou e se dedica a desenvolver projetos para propriedades do país inteiro, do sul ao norte.

Formado em engenharia agrícola, ele passou pela Lactalis, BRF e Fazenda São Pedro (Agropecuária CFM), onde foi o responsável pelo maior projeto de pastejo rotacionado do Brasil, na década de 1990, com 1.200 vacas em lactação. Há cerca de dez anos, ele é sócio da Andrew Jones Agroconsultoria (Ajagro), empresa de consultoria agropecuária, sediada em Canoas (RS), especializada na implantação de projetos de unidades de produção de leite em várias regiões do Brasil. A Ajagro existe desde 2010 e já teve que quebrar muitos paradigmas, pois, segundo o consultor, as pessoas costumam fazer as coisas do jeito delas.

“Hoje, no Brasil, cada vez mais se confina o gado leiteiro e o gado a pasto vem diminuindo, principalmente entre os produtores maiores. E, quando falamos em confinamento, estamos falando em um galpão que tem que trazer conforto para esses animais e facilidade de manejo para reduzir custos com mão de obra e melhorar a vida do produtor rural”, afirma.

Vendo isso e viajando por vários estados do Brasil, ele diz que é fácil encontrar problemas de edificações, que ocorrem muitas vezes por falta de seguir as normas construtivas, sem um estudo dos condicionantes ambientais, como a chuva, a temperatura, a velocidade e direção do vento, a posição do sol no inverno e a melhor forma de colocar as estruturas.

“Isso me fez colocar em prática o sonho de fazer projetos, o que vem sendo muito interessante. Antes da construção, após ouvir o proprietário, fazemos um estudo do layout da propriedade e definimos onde vai ficar cada instalação”. Os projetos podem ir de 20 até 2.000 vacas ou mais e os contratantes são produtores de todos os portes e regiões do país, muitos em processo de sucessão familiar. O preço é cobrado por vaca lactante.

Passo a passo – Tudo começa com um plano de negócios, pois, em geral, o cliente quer saber como vai ser a sua lucratividade, demonstrando que o produtor de leite está se tornando cada vez mais um empresário rural.

O papel da consultoria é fazer o projeto de acordo com essa expectativa e acompanhar a construção ou, quando é o caso, adequar um projeto que já existe. Quando o projeto é de “A a Z”, ou seja, do começo ao fim, sempre obedece a seis passos, que, segundo Jones, são como os degraus de uma escada. “Subindo um degrau de cada vez, o sucesso é certo, mas, se você pular um degrau, pode cair”.

O primeiro degrau é o plano de negócios, com estimativas para, no mínimo, cinco anos. O segundo vem após a aprovação do plano de negócios, que é o projeto com a alocação de todas as edificações, onde cada uma vai ficar e as diversas medições. Com esses dados, é gerada a planta de engenharia, transformada depois em 3D e em vídeo, onde o produtor pode ver como vai ficar o projeto dele.

O terceiro degrau é a compra dos suprimentos necessários à execução do projeto, tarefa que também pode e deve ser feita preferencialmente pela Ajagro, que negocia com os fornecedores ou diretamente com a fábrica, muitas vezes obtendo bons descontos. O quarto passo são as obras, que têm o acompanhamento in loco; e o quinto é o início da operacionalização e produção de leite.

“E aí ligou a ordenhadeira, as vacas pariram, começou a ordenhar, vem o sexto passo, que é um plano de gestão, com fechamento mensal do custo de leite, do lucro ou prejuízo e dos ajustes necessários para melhorar a gestão.”

Projeto na Serra Gaúcha mostra que a participação do arquiteto é uma inovação que contempla o visual e a funcionalidade das construções

Questões mais comuns – Jones diz que, quando o produtor começa um projeto por conta própria, pode cometer erros dos mais diversos tipos. “Já presenciei coisas muito absurdas, como pé-direito baixo demais, com declividade errada do telhado e telha de amianto, que joga todo o calor para dentro e para cima do gado”, conta.

E segue com a lista: o piso do galpão muitas vezes não tem o caimento correto, dificultando o escoamento dos dejetos; além de problemas, como a profundidade da cama; o canzil com altura de mureta errada; caixa de efluentes inadequada, jogando ilegalmente o material para dentro de um córrego. Outras vezes, ainda, o sol bate na cama o dia inteiro ou a chuva de vento entra no galpão, molhando a cama.

“São coisas que a gente tem que pensar no início, quando ainda é possível, e se tenta corrigir e melhorar; mas, outras vezes, é preciso fazer de novo, o que é complicado, porque o produtor acaba gastando mais para corrigir do que se tivesse investido no projeto”, conclui Jones.

As propriedades, segundo ele, precisam ser desenhadas sempre pensando no futuro, que, na sua avaliação, deve ser mais ou menos como ocorreu na soja e no milho, que hoje demandam grandes tratores e plantadeiras, com pouca gente trabalhando e muita automação e tudo controlado por sistemas operacionais. Por isso, mesmo que o contratante ainda não tenha um robô de ordenha, por exemplo, muitas vezes já quer reservar o lugar para o robô no futuro.

Quanto à estética, Jones acentua que a participação de um arquiteto tem um pouco da preocupação em também apresentar um projeto bonito, que seja bem feito e funcional. “Entendo que fazer bem feito e fazer bonito não é mais caro. Basta ter capricho.”

Um exemplo desse tipo de preocupação está sendo planejado para um cliente na Serra Gaúcha, que vai construir a leiteria ao lado de uma cafeteria, que será toda envidraçada para que o cliente possa ver todo o processo de produção do leite, com uma área “instagramável” para fotos. A ideia é explorar paralelamente a produção de queijo e de outros lácteos para serem vendidos na loja.

 

Ana Paula Silva de Sousa é a responsável pela compra dos suprimentos necessários à construção e implantação do projeto

Suprimentos – Formada em Administração, Ana Paula Silva de Sousa é a responsável pelas compras de suprimentos na Ajagro e conta também com uma vasta experiência no setor agropecuário.

Segundo ela, oferecer essa possibilidade aos clientes atende ao desejo daqueles que muitas vezes preferem não ter contato direto com os fornecedores. Nesse tipo de contrato, a Ajagro se compromete a entrar com todo o trabalho de construção, inclusive com a aquisição do material e equipamentos, só entregando as chaves ao contratante depois de tudo pronto.

Uma das vantagens, nesse caso, é que a Ajagro tem um bom relacionamento com os fornecedores, que costumam manter os preços e negociar quando preciso, dando um tratamento diferenciado, beneficiando os clientes com o melhor custo-benefício e qualidade, sem surpresas. “Há casos de projetos em que a economia representou mais de R$ 600 mil”, revela Ana Paula.

 

O que é mais fácil – Ana Paula é taxativa quando diz que é bem mais fácil começar do zero. “Porque começa certo, já esquematizado e não precisa adequar nada. Com certeza, começar do zero é muito melhor e muitos clientes, que às vezes até já têm um galpão, preferem investir numa nova instalação”, explica.

Quanto ao conflito de gerações, sua opinião também é bem definida, ou seja, para ela é possível trabalhar tanto com os mais velhos, quanto com os mais jovens, que normalmente são os que tomam a iniciativa de procurar ajuda profissional, mas sempre pedem o aval dos pais. A exceção acontece quando o cliente é um investidor que já sabe exatamente o que quer.

“Quem já está dentro da atividade, independentemente da geração, quer crescer, mas os jovens, como sucessores, são mais atentos à evolução da pecuária leiteira e exigem um padrão mais profissional, com mais conforto e qualidade”, diz.

PLANEJAMENTO FACILITA MANEJO E ECONOMIZA MÃO DE OBRA

Os produtores de leite do Paraná que querem planejar ou replanejar suas propriedades poderão ter acesso ao manual “Instalações para Bovinocultura Leiteira”, publicado pelo Senar/PR, de autoria da engenheira agrônoma Maity Zopollatto, professora associada do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

As instalações dentro de uma propriedade leiteira, segundo as pesquisadoras Maity Zopollatto (foto), e Karise Nogara da UFPR, devem ficar localizadas próximas umas das outras

Maity e a zootecnista Karise Fernanda Nogara, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFPR, afirmam que o planejamento adequado das instalações facilita o trabalho em geral na movimentação dos animais e proporciona atividades laborais menos penosas e com maior aproveitamento do tempo.

“É preciso projetar as instalações considerando as condições climáticas, de forma a oferecer maior bem-estar ao animal e conforto térmico. No planejamento, deve-se pensar a instalação visando reduzir a entrada de radiação solar e com tamanho para abrigar confortavelmente os animais, prevendo a evolução futura do rebanho, considerando também os materiais isolantes térmicos, a distribuição dos ventos e, se necessário, os componentes para o resfriamento dos animais”, pontuam.

Com isso, segundo elas, é possível planejar de forma a ter instalações que sejam funcionais e cumpram seu papel diante da necessidade do produtor e, principalmente, dos animais. Por isso, é necessário “olhar para o futuro” da atividade leiteira dentro da propriedade, ou seja, fazer projeções a médio e longo prazo.

Erros no planejamento das instalações, como subdimensionamento e altura do pé-direito, podem comprometer o conforto dos animais, aumentando as interações reativas (como competições por locais mais frescos e mais confortáveis), diminuição do bem-estar do animal e, consequentemente, queda no desempenho produtivo.

“As instalações devem ficar localizadas próximas umas das outras, de forma a proporcionar mais eficiência no monitoramento dos animais, mas também devem facilitar a rotina de trabalho, otimizando tempo e mão de obra. No caso do pastejo, os piquetes não devem estar localizados a mais de 1 km de distância da propriedade, visto que longas distâncias despendem um gasto energético, que reflete na menor produção de leite.”

Em relação ao custo de instalação, comparando-se os sistemas produtivos, a pasto, semiconfinamento ou confinamento, elas afirmam que, no sistema à base de pastagem, o investimento é menor, pois não há a necessidade de construção de instalação para abrigar as vacas, nem pista de alimentação como nos sistemas semiconfinado e confinado. As instalações ficam restritas à sala de ordenha, sala de espera, farmácia e bezerreiro. “Mas, independentemente do sistema, haverá sempre vantagens e desvantagens e, portanto, ele deve ser bem dimensionado e manejado”, afirmam.

Alguns pontos também devem ser considerados no planejamento, a começar pela definição do número de animais, além da localização, orientação geográfica (leste-oeste), altura do galpão, telhados, lanternim (abertura para a saída do ar quente na cumeeira do telhado), beirais, tubulações e ventiladores.

A estética do projeto, segundo as pesquisadoras, interessa mais ao produtor do que aos animais, mas o capricho com a instalação diz muito sobre como é o cuidado com a atividade leiteira e em relação aos materiais apontam que é preciso buscar o melhor custo-benefício a longo prazo.

“CONSULTORIA ESPECIALIZADA É UM INVESTIMENTO VALIOSO”, DIZ PRODUTOR

Fazenda Haras Tripuí deverá produzir 8 mil litros/dia, utilizando tecnologias de ponta, e contará com laticínio e estações de tratamento de esgoto e de compostagem

Um dos projetos desenvolvidos pela Ajagro atualmente é o da Fazenda Haras Tripuí, localizada em Mata de São João – BA, que será a primeira do nordeste a ter ordenha com robôs, com meta de atingir a produção de 8 mil litros/dia. No local, já está sendo feito o plantio de grande parte do alimento dos animais e serão construídos um laticínio para o beneficiamento do leite e estação de tratamento de água e outra de compostagem para aproveitamento do adubo orgânico nas plantações.

O projeto emprega tecnologias de ponta para garantir eficiência e qualidade e trabalha com equipamentos dos maiores fabricantes mundiais para otimizar a ordenha e o monitoramento das vacas. A automação vai auxiliar no manejo do gado e na coleta dos dados essenciais para o controle do processo produtivo.

A decisão por buscar uma consultoria especializada, segundo o proprietário (que preferiu não revelar seu nome), é principalmente para evitar erros que possam comprometer a produção. Ele diz que a orientação de especialistas permite tomar decisões embasadas tecnicamente e maximizar todo o potencial da fazenda, impactando positivamente na implantação do projeto e na sua visão de futuro na atividade leiteira.

Para ele, a preparação da propriedade é crucial para garantir uma base sólida e otimizar todos os aspectos da produção, desde a criação até o processamento do leite, o que aumenta as chances de sucesso e também impacta positivamente na qualidade do produto e na eficiência das operações no futuro.

Ele diz que “a busca por consultoria especializada é um investimento valioso, que pode evitar armadilhas e acelerar o processo, deixando-nos atualizados com as tendências do setor, com tecnologias modernas, fatores essenciais para enfrentar os desafios e as oportunidades do mercado.”

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