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Uma parte do gado brasileiro ainda não recebe suplementos, enquanto a outra parte é submineralizada. Ou seja, nós temos que identificar os espaços que precisamos avançar para colher bons resultados. Outro ponto muito importante é trabalhar em prol da desoneração da cadeia, pois PIS e Cofins aumentam o custo do suplemento, impedindo o crescimento da adoção dessa tecnologia, que tem o custo-benefício positivo e mais do que comprovado

ENTREVISTA

Juliano Sabella

Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (asbram)

O foco é aumentar a demanda por suplementos minerais e

desonerar o setor produtivo

Neto e filho de produtor rural, Juliano Sabella passou a infância e a adolescência no campo. Seu pai foi produtor de leite, e fazer zootecnia foi uma escolha natural para ele. Formou-se na Universidade Federal de Viçosa (UFV), e pouco tempo depois iniciou sua carreira na Tortuga, em um projeto de inserir técnicos no departamento de marketing. Hoje, mais de 22 anos depois, é o responsável pelo marketing de ruminantes da DSM na América Latina e presidente da Asbram, a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais. 

Erick Henrique

Balde Branco – Quais objetivos você e os demais membros que compõem a diretoria da Asbram querem conquistar durante o mandato?

Juliano Sabella – Queremos que os produtores de todo o Brasil entendam que a suplementação nutricional dos bovinos faz a diferença. É uma estratégia que deve avançar e ser adotada em todas as propriedades e em todas as fases da vida dos animais para garantir mais produtividade e rentabilidade. Atualmente, o que se produz de suplemento mineral no País é suficiente para suplementar corretamente 50% dos animais do rebanho brasileiro. Desse modo, uma parte do gado ainda não recebe suplementos, enquanto a outra parte é submineralizada. Ou seja, temos que identificar os espaços que precisamos avançar para colher bons resultados. Outro ponto muito importante é trabalhar em prol da desoneração da cadeia. Os suplementos e rações para bovinos são tributados por duas modalidades de impostos, o PIS e o Cofins, aumentando o custo do suplemento e impedindo o crescimento da adoção dessa tecnologia, que tem o custo-benefício positivo e mais que comprovado. Além disso, trabalhamos para ter informações cada vez mais acuradas e relevantes sobre o setor e, para que isso aconteça, sempre buscamos novos sócios para garantir a maior representatividade da Asbram.

BB – Qual o balanço sobre o tamanho do mercado de consumo de suplementos minerais para a nutrição dos rebanhos, no último ano, e as projeções da entidade para 2023?

JS – O mercado brasileiro de suplementos minerais produz anualmente quase 4 milhões de toneladas de suplementos. Em 2020 e 2021 tivemos crescimento expressivo, mas, em 2022, devido a todas as crises por que passamos, o mercado retraiu. Mesmo assim, considerando os três últimos anos, o mercado cresceu 12%. O que é um número muito bom. Neste ano, iniciamos janeiro com crescimento, mas com o embargo da exportação da carne bovina para a China (devido ao caso atípico de BSE/mal da “vaca louca”), o mercado recuou no primeiro trimestre. Com certeza esse recuo será superado ao longo do ano, pois há boas perspectivas de preços nos mercados de leite e carne, o que estimula o investimento em suplementos pelos produtores.

BB – Você disse, no ano passado, que as empresas divulgariam os números de consumo mensal de suplementos minerais divididos por animais de corte e leite, logo no início de 2023. Esse trabalho da Asbram obteve sucesso, as empresas já começaram a divulgar esses dados?

JS – A Asbram teve sucesso, sim. Desde janeiro as empresas já estão informando os dados separados por segmento. Isso é extremamente importante para o mercado e para as empresas, já que sabemos que o comportamento de compra de suplementos e a adoção de tecnologias acontecem de maneira bem distinta na pecuária de leite e corte.

BB – A associação tem registrado a retração no consumo de minerais por causa da alta dos custos de produção da pecuária leiteira registradas nos últimos anos? O que fazer para reverter essa situação?

JS – Quando observamos os últimos três anos, vemos que o crescimento foi de 12% na venda de suplementos minerais, porém, no último ano, pudemos ver a retração como um todo, considerando a segmentação corte e leite. É importante que as empresas e os produtores tenham em mente os desafios do fim de 2021 e 2022, como a alta na inflação e as crises nacionais e internacionais que temos encarado. Diante disso, vejo que, apesar das altas nos custos produtivos, os aportes em nutrição para os ruminantes têm de ser enxergados como investimento, pois eles ajudam muito a impulsionar os resultados. Além disso, são aportes que se pagam e trazem mais receita para a fazenda.

BB – A associação lançou a Cartilha de Sustentabilidade. Que diretrizes e orientações norteiam esse documento em prol do desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva?

JS – Muito mais do que reafirmar o compromisso das empresas do setor, a Cartilha de Sustentabilidade desenvolvida ao longo de duas diferentes gestões da Asbram tem como propósito incentivar o uso correto de suplementos, visando sempre à melhoria dos níveis da produção agropecuária. Além disso, queremos mostrar que a cadeia de proteína animal pode avançar com sustentabilidade, ao mesmo tempo que mantém a produção lucrativa para a atual e as futuras gerações. Uma novidade que posso compartilhar é que já estamos finalizando a segunda edição da cartilha, que tem previsão de ser divulgada em nosso simpósio, que será nos dias 23 e 24 de novembro.

Além das campanhas divulgadas pela Asbram e seus associados, temos a extensão rural, trabalho feito pelos times técnicos e de vendas dos sócios que estão diariamente visitando as fazendas”

BB – O produtor de leite está mais consciente da importância da suplementação mineral para obter mais produtividade dos animais?

JS – Está, sim. A própria evolução da pecuária exige que o produtor esteja cada vez mais conectado com novas tecnologias para garantir produtividade, que, por sua vez, é essencial para garantir a sustentabilidade da atividade. E, quando digo sustentabilidade, quero dizer as atividades voltadas para as áreas social, ambiental e a financeira.

BB – O que a Asbram tem feito para levar tais conhecimentos ou até mesmo orientações aos produtores?

JS – Acreditamos que compartilhar conhecimento nunca é demais. Temos nossas campanhas, que são divulgadas pela entidade e seus associados, mas o mais importante é o trabalho de extensão rural que é feito pelos times técnicos e de vendas dos sócios. São 15.000 pessoas, que, diariamente, estão nas fazendas levando informação e mostrando o benefício da suplementação.

BB – Em sua avalição, o produtor que investe em rações, suplementos, premixes, coprodutos, núcleos, ingredientes e aditivos para alimentação de vacas de leite produz uma matéria-prima sobre bases sustentáveis?

JS – Com certeza. Isso porque a grande maioria das tecnologias que temos à disposição ajuda os pecuaristas a produzirem mais utilizando menos recursos naturais. Intensificar a produção é um ponto muito importante para a sustentabilidade.

BB – Qual a importância de contar com assistência técnica para adotar um programa de suplementação de precisão na propriedade que produz leite a pasto?

JS – Hoje, entendemos que é fundamental que os produtores contem com uma assistência técnica de qualidade. Isso porque os profissionais que atuam nessa área conseguem auxiliá-los desde a primeira etapa da produção, que é o planejamento, no intuito de evoluir à medida que alcancem resultados positivos e desejáveis. Fora esse fato, o acompanhamento técnico possibilita conduzir o produtor a tomar decisões mais estratégicas para a sua fazenda, que se torna mais sustentável, produtiva e rentável.

BB – A respeito do tripé (nutrição, genética e sanidade) que tem garantido o sucesso das fazendas leiteiras no Brasil, qual o papel que exerce a mineralização para potencializar os três fatores?

JS – São muitos, mas vou tentar destacar alguns dos principais, como aumento da produtividade; melhora dos índices de sanidade à medida que os animais têm melhor saúde quando estão bem alimentados; aproveitamento do potencial genético, e até a melhora dos níveis de bem-estar animal.

BB – Como a Asbram projeta a evolução da prática da suplementação mineral nos próximos anos, especialmente na bovinocultura de leite?

JS – Como ressaltei, o setor tem evoluído muito e novas tecnologias vão surgindo para auxiliar o produtor nessa jornada. Para nós, os próximos anos apresentam um cenário bastante animador, principalmente quando levamos em consideração a importância do Brasil como produtor de alimentos para o mundo. Haverá mais investimentos e aplicações em tecnologias, sobretudo de nutrição animal. Com isso, a demanda vai ficar cada vez maior e toda a atividade colherá os benefícios competitivos dessa prática, que torna a produção mais eficiente e rentável.

BB – Nas próximas edições da Balde, você escreverá uma série de artigos sobre a suplementação mineral. Como foi aceitar esse desafio, e, além disso, poderia adiantar alguns temas que são de grande interesse dos leitores da revista?

JS – Antes de tudo, foi uma grande honra o convite da Balde Branco, que tem uma contribuição enorme para o setor, levando informação de qualidade para todo o mercado há 59 anos. Os temas que serão abordados são relacionados às novidades e tecnologias em suplementação, bem como o poder que elas têm de incrementar a produtividade na pecuária. Desmistificar que suplemento é custo ao mesmo tempo que mostro, com dados, que ele é um investimento com alto retorno e lucratividade.

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