balde branco

É preciso entender que a Girolando e também as associações das demais raças leiteiras devem cada vez mais trabalhar nessa questão do melhoramento genético, tanto que estamos investindo bastante no PMGG e conseguindo grandes resultados

ENTREVISTA

DOMÍCIO ARRUDA – presidente da Girolando

O fortalecimento da raça Girolando

incrementa toda a cadeia do leite

Domício Arruda, novo presidente da Girolando, é engenheiro agrônomo, selecionador da raça Girolando, desde 1986, na Fazenda Cachoeirinha, no município de Major Isidoro, em Alagoas. Pós-graduado em gestão do agronegócio, ele tem atuado fortemente, não só como diretor da entidade há anos, para melhorar as condições dos produtores de leite, e também por intermédio do seu trabalho como vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Alagoas.

Erick Henrique

Balde Branco – Fale sobre a sua trajetória no leite, sua formação e há quanto tempo trabalha com a seleção da raça Girolando em Alagoas.

Domício Arruda – Minha trajetória no setor se iniciou por meio do meu pai, que é médico de formação. Ele adquiriu, em 1970, uma propriedade no sertão do Estado de Alagoas, numa região de bacia leiteira, na cidade de Major Isidoro, onde iniciou um trabalho de seleção e de melhoramento de gado de leite. Naquela época, o rebanho era composto por animais cruzados até apurarmos a seleção para a raça Holandesa. Por volta de 1985, o meu pai investiu nos cruzamentos com alguns reprodutores da raça Gir Leiteiro, da Fazenda Brasília, de Minas Gerais, do pecuarista Rubens Resende Peres, e a partir daí iniciamos os trabalhos com a raça Girolando. Já no ano seguinte, recebemos a visita do técnico da Assoleite, que veio falar sobre o programa da entidade de registrar os animais, e aí tivemos os primeiros exemplares da raça Girolando registrados na Fazenda Cachoeirinha. A partir desse momento, o trabalho foi contínuo para fazer esse projeto de melhoramento genético do rebanho.

BB – Quais os cargos que ocupa hoje?

DA – Hoje, ainda sou um dos vice-presidentes da Federação de Agricultura do Estado de Alagoas, além de ocupar o cargo de presidente dos criadores de AL, uma entidade que envolve todas as raças do Estado. Dessa forma, sempre atuei ocupando câmaras setoriais dos produtores de leite, da cadeia produtiva do leite, experiências e funções que eu exerci, além das últimas duas gestões da diretoria da Girolando, onde pude acompanhar de perto, junto das diretorias, as questões mais específicas da entidade. Isso me trouxe um conhecimento muito grande da instituição. Eu, que já tinha uma ligação muito forte com a associação, não apenas por ser criador, mas por ter sido técnico, fiz parte do colégio de jurados. Então sempre tive um estreitamento muito grande com a equipe técnica, os colaboradores, etc. Desse modo, a minha vida profissional está muito ligada à raça Girolando. Tudo isso me traz uma visão de todos os segmentos da instituição, desde as questões técnicas, dos colaboradores, dos serviços que são realizados a campo, assim como das necessidades em que devemos agir, em busca de melhorar alguns aspectos, bem como uma visão dessa política fora da Girolando.

BB – O senhor planeja ampliar os investimentos no Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG)? Como o pequeno produtor poderá se beneficiar disso para melhorar a genética do seu plantel?

DA – Nos últimos três anos, a nossa diretoria deu uma ênfase muito grande ao PMGG, pois o programa será o nosso carro-chefe. A nossa primeira proposta, ainda então como candidato, era exatamente em prol do fortalecimento do programa de melhoramento da raça. Precisamos entender que a Girolando, assim como as associações de raças, devem cada vez mais trabalhar nessa questão do melhoramento genético, tanto que estamos investindo bastante no programa e conseguindo grandes resultados. Portanto, vamos seguir com esse objetivo, sendo o eixo principal de nossas propostas, fazendo parcerias com a Embrapa Gado de Leite, que é o nosso parceiro científico. Tanto que, nos últimos anos, nós estreitamos mais esse relacionamento. Já conversamos com a direção e o corpo técnico da Embrapa Gado de Leite para fortalecermos cada vez mais o programa. A meta não é apenas conseguir bons resultados para a raça Girolando, pois entendo que, ao fazer esse trabalho, estamos contribuindo para o desenvolvimento da pecuária leiteira brasileira, já que grande parte da matéria-prima produzida no País é proveniente de animais da raça Girolando. Estamos trabalhando para que todos os produtores e, sobretudo o pequeno produtor de leite, tenham acesso a animais melhorados, o que favorecerá toda a cadeia produtiva do leite.

BB – Como o controle leiteiro desenvolvido pela associação tem contribuído para medir a evolução do leite das vacas Girolando pelo Brasil?

DA – A prática é executada por controladores e técnicos da associação, colaboradores, sendo de suma importância para a coleta de dados da raça Girolando. Em 2022, fizemos investimentos para que isso seja acessível a todos os produtores, porque o controle leiteiro é fundamental para coletar informações para, junto com a Embrapa Gado de Leite, formar esse banco de dados com maior confiabilidade, em prol de avançarmos mais com o PMGG. Portanto, o controle está dentro de nossas propostas e vamos trabalhar firmes no próximo triênio para deixar essa ferramenta mais acessível a todos os produtores associados, com o intuito de ampliar a confiabilidade dos dados do rebanho.

BB – Na sua avaliação, qual a importância de a associação alcançar a certificação internacional da raça Girolando?

DA – Já estamos aptos a receber a certificação internacional, está tudo formatado. Vamos trabalhar efetivamente, a partir do início deste ano, em busca desse reconhecimento, que tem uma importância muito grande, além de ampliar os contatos com os criadores dos países vizinhos. Acompanhando os números da associação, vemos o crescimento desses países que utilizam a raça Girolando. Dessa forma, a certificação vai levar para os criadores do exterior toda a expertise que nós temos na Girolando, o conhecimento dos nossos técnicos, para que eles possam trabalhar com o rebanho Girolando da melhor maneira.

Estamos trabalhando para que todos os produtores, sobretudo o pequeno produtor de leite, tenham acesso a animais melhorados, o que favorecerá toda a cadeia produtiva do leite”

BB – O que o senhor destacaria como principais objetivos de sua gestão?

DA – Durante a gestão do próximo triênio (2023 a 2025), vamos fortalecer o PMGG; a Certificação Internacional da raça; consolidar o projeto “Girolando – a raça nacional”, que visa o reconhecimento de algumas entidades, como o Ministério da Agricultura, como uma raça genuinamente nacional. Outro aspecto da nova gestão é garantir a solidez administrativa da associação, sendo outro pilar da nossa administração. A gente vem trabalhando nesse sentido nos últimos anos, garantindo a solidez econômica, de planejamento, fiscal, para que possamos cada vez mais fazer os investimentos nesses programas disponibilizados pela Girolando aos criadores. Além disso, quero destacar o apoio aos pequenos produtores associados e buscar alternativas junto com a interlocução com outras instituições para que possamos levar o programa da raça em todos os países. O Girolando, que nasceu no Sudeste, agora está presente em todos os Estados. Precisamos estar próximos ao criador associado, sobretudo do pequeno, visto que 70% do leite produzido no País é proveniente dessas pessoas. E, como nosso país é marcado por diferenças climáticas muito acentuadas, precisamos contribuir para melhorar a condição de produzir leite desses produtores. Assim, é fundamental levar o PMGG e as propostas da associação, já que a raça Girolando, por si só, tem maior adaptabilidade a qualquer tipo de sistema produtivo, visto a versatilidade e a longevidade desses animais.

BB – Qual o balanço da Girolando em relação ao número de animais registrados, doses de sêmen comercializadas, adesão de novos criadores?

DA – A Girolando vem batendo as metas de registro nos últimos anos e, em 2022, atingiu a marca de 90 mil registros/ano. Com isso, alcançamos agora uma marca histórica de 2 milhões de animais registrados, desde a criação da associação. A raça Girolando comercializa algo próximo a 1 milhão de doses de sêmen por ano. Ou seja, são números expressivos que almejamos aumentar cada vez mais, desenvolvendo um trabalho de interlocução para chegar mais próximos a novos criadores. Para isso acontecer, vamos fomentar eventos em todo o Brasil, nas exposições agropecuárias, que são um grande momento para isso: vide a Megaleite, que é o maior evento da cadeia produtiva do leite da América Latina. E ainda há um potencial muito grande que deve ser explorado e ficar cada vez mais acessível a novos criadores. Também vamos levar as jornadas técnicas a todas as regiões do País, para conseguirmos o ingresso de novos associados.

BB – As boas práticas de gestão na propriedade leiteira ajudam o produtor a tocar a atividade com profissionalismo e ser bem-sucedido?

DA – As boas práticas de gestão são fundamentais para ajudar o produtor, de qualquer porte, a alcançar sucesso e se manter com profissionalismo na atividade. Elas são importantes não apenas do ponto de vista econômico, mas também viabilizam a questão do melhoramento genético, infraestrutura, bem-estar animal, garantindo que o produtor continue na atividade com sustentabilidade. Para isso, nós precisamos levar esse conhecimento para um número maior de pecuaristas sobre o conjunto de boas práticas. Contamos com alguns exemplos muito exitosos no Estado de Alagoas, onde há uma parceria muito grande com o Sebrae, levando para os pequenos produtores um pacote tecnológico, em que o pecuarista pode contar com as consultorias na área de gestão de planejamento forrageiro, orçamentário, gestão econômica, além da questão do melhoramento genético. Além disso, há o suporte às pequenas indústrias, fechando um pacote de apoio à cadeia produtiva do leite de AL. Tudo isso é fundamental para que o produtor continue na atividade pelos próximos anos.

BB – Como o senhor tem visto os avanços da pecuária leiteira no Nordeste, os investimentos em tecnologias, genética melhoradora, instalações, gestão, etc.?

DA – A cadeia produtiva do Nordeste tem avançado expressivamente nos últimos anos. Se você pegar os dados a respeito da produção de leite da região, nos últimos dez anos, verá que o crescimento é muito grande, registrando algo em torno de 20% a 25%. Isso é fruto desses investimentos, que estão sendo feitos no melhoramento genético, na gestão das propriedades, planejamento forrageiro, além de investimentos em sistemas de irrigação em algumas regiões em que há disponibilidade de água. É apenas o começo, porque temos um potencial de crescimento muito grande, mas precisamos entender as necessidades regionais, levar investimentos e ter políticas públicas para que os resultados aconteçam na bovinocultura de leite nordestina.

BB – Que contribuições os núcleos de criadores podem dar para fortalecer a raça nacional e regionalmente?

DA – Os núcleos de criadores são os braços regionais da Girolando. O que a gente tem visto é que os núcleos desempenham um trabalho muito importante de promoção, divulgação da raça, atração de novos associados, promoção de eventos. Logo, a gente precisa fortalecer esses centros, seguir junto a eles, dando condições para que possam crescer cada vez mais, pois assim a Girolando cresce também.

BB – Que novidades a Girolando levará para a próxima edição da Megaleite, programada para os dias 7 a 10 de junho, em Belo Horizonte?

DA – A Megaleite 2023 estará totalmente renovada, com a participação de todas as raças leiteiras, contando com a presença de bubalinos, que estavam de fora das últimas edições. Outro aspecto importante será propiciarmos melhor interlocução entre os parceiros, maior difusão de tecnologias, principalmente do Sebrae, presença de startups, dentre outras inovações para os produtores. Estamos fechando a programação até o mês de março, mas já adiantando que a exposição estará recheada de atrações, novos espaços, será um grande sucesso, além de fomentar a raça Girolando, bem como a cadeia produtiva leite, com seminários, encontros técnicos, com a participação da Faemg, com sua comissão de pecuária de leite.

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