Conhecido por ser um setor predominantemente masculino, o agronegócio vem percebendo aos poucos a importância da força de trabalho feminina. Não faz muito tempo, as mulheres da zona rural ainda eram confinadas à posição de “donas do lar”. Hoje, porém, elas já marcam presença em outras ocupações e vêm mudando a forma como o setor agrícola funciona e as enxerga.
Para analisar esse novo quadro, o Programa Agro Mais Mulher, do governo federal, realizou um estudo a partir de uma parceria entre o Ministério da Agricultura, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os resultados, coletados pelo Censo Agropecuário de 2017, formam uma imagem mais nítida da realidade das mulheres brasileiras que trabalham no agronegócio brasileiro. Entre os dados, descobriu-se que quase 1 milhão delas administram propriedades rurais por aqui. Isso significa que cerca de 30 milhões de hectares são geridos por elas. Em resumo, 8,4% de todos os lotes rurais nacionais são gerenciados por mãos femininas.
Mas não é só isso: as mulheres são trabalhadoras presentes em todos os tipos de atividades, tanto aquelas desempenhadas dentro da porteira quanto fora dela. Muitas vezes, essas ocupações significam uma carga dupla de trabalho, já que elas continuam a assumir as responsabilidades da casa – papel ainda pouco direcionado aos homens. Não é uma questão de opinião, mas de dados: segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que 78% das meninas brancas e 86% das negras realizem tarefas domésticas. Por outro lado, apenas 39% dos meninos brancos e 40% dos negros são responsáveis pelas mesmas tarefas.
Mas, sob essa perspectiva, como isso influencia no trabalho de uma mulher empreendedora da agricultura familiar, por exemplo?
Um passo importante para entender o papel da mulher na transformação da agropecuária no Brasil é perceber que, ao incluir a força feminina nos trabalhos do campo, abre-se espaço para outros pontos de vista e modos de gestão. É possível supor que, por estarem sempre instruídas a cuidar da gestão da família e a lidar com pessoas, as mulheres tenham facilidade para gerenciar crises, por exemplo, e estabelecer novas prioridades de uma forma única.
Uma outra pesquisa, denominada “Todas as mulheres do agronegócio”, realizada em 2017 pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), revela que essa suposição é realmente uma tendência: a maior parte das mulheres ocupa com mais facilidade as atividades de gestão e negociação.
Além de terem tal disposição, as agricultoras também têm voltado sua atenção para aumentar seu nível acadêmico. O número de mulheres com ensino médio e superior atuando na área tem subido, enquanto a quantidade de mulheres com menos instrução vem caindo: de acordo com números da pesquisa “Mulheres no Agronegócio”, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), tratando-se apenas de mulheres com ensino superior, elas eram 7,6% das trabalhadoras do campo em 2004; a porcentagem dobrou em 2015: mulheres com formação mais alta representam agora 15%.
Dessa forma, somar as forças de homens e mulheres no campo é uma estratégia para aumentar a qualidade das produções. Ainda mais em um mundo globalizado, que pede mais atenção aos detalhes, melhor comunicação, ampliação de horizontes e bastante especialização.
A transformação do agro vem com as mulheres. O agronegócio já percebeu que elas têm seu próprio papel nesse movimento e que são um grupo indispensável. É por isso que a representação feminina vem crescendo cada vez mais e a expectativa é de que haja ainda mais protagonismo feminino nos nossos campos.
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