balde branco

Certa vez, ouvi de um palestrante que a produção de leite é resultante de genética e ambiência. Em ambiência, ele considerou tudo o que envolve produção. Por outro lado, com frequência, ouço em palestras que produção de leite é resultante de alimentação e outros cuidados. Você já ouviu estas conversas, não é mesmo?

Então, se é para simplificar algo que é tão complexo, também tenho a minha afirmação reducionista: produção de leite para mim é geração de riqueza. Tudo o mais é secundário! Se não há geração de riqueza, não faz sentido a produção. Como assim?

Você acredita que o que faz uma empresa ser bem-sucedida são suas máquinas? Ora, a qualidade das máquinas não garante a existência de uma empresa em longo prazo. Vaca, em essência, é máquina de produzir leite, pois transforma insumo em produto. Logo, a genética da vaca, por si somente, não tem a capacidade de garantir o sucesso da sua empresa, da sua propriedade.

Então, a vaca não pode estar no centro de seu negócio. A menos que o seu negócio seja vaca, e não leite. Nunca vi um empresário da construção civil, por exemplo, explicar seu sucesso em função das máquinas que tem. Você já viu? Claro que não. As máquinas são consequências da forma como sua empresa se coloca no mercado.

Por outro lado, é possível crer que são os insumos que garantem a longevidade de uma empresa? Claro que não! Então, como atribuir à alimentação o sucesso de uma propriedade, como afirmam alguns técnicos? Pegue insumos de primeiríssima, arrume equipamentos sofisticados. Isso, por si, garante que o restaurante vai servir pratos saborosos? Claro que não. Pois quero chamar a atenção para o que chamam de “ambiência” ou “outros cuidados”, pois é aí que está a possibilidade do seu sucesso ou do seu insucesso na atividade leiteira. É naquilo que muitos consideram de menor relevância ou nem consideram que está a porta do sucesso.

A possibilidade de sucesso em qualquer empreendimento começa com a visão do controlador, do dono. Em todo ramo produtivo existem grupos de pessoas. Tem gente que ganha dinheiro e progride, tem gente que não sai do lugar e tem gente que perde dinheiro. O que faz a diferença é a forma como o dono encara a atividade. É o propósito do dono que conta, primeiramente. Depois disso, é a visão de mundo que ele tem. Afinal, se ele deseja ganhar dinheiro com o negócio, é meio caminho andado.

Ao produzir leite, qual é o seu propósito? Qual é a sua medida de sucesso? É ganhar dinheiro? É ir levando a vida? É ter lazer, diversão, terapia ocupacional? Se for “ir levando a vida”, toda vez você tiver um problema, cante a vida do Zeca Pagodinho e deixa a vida te levar… Não perca tempo se perguntando para onde. Afinal, para quem não sabe para onde ir, pode ficar tranquilo, que qualquer caminho irá te levar lá… Acredite que amanhã vai ser outro dia e que as coisas vão se resolver por si somente.

Nesse caso, meu amigo, minha amiga, não reclame nunca, pois você é uma pessoa de sucesso. Não cobre de seu empregado a falta de dedicação. Não espere que seu filho vá se dedicar. Não brigue com sua cooperativa ou com o laticínio, desejando que eles encontrem a resolução dos problemas que você vive. Seja coerente com sua filosofia e com seu comportamento. Comemore: você é uma pessoa de sucesso!

Se você é daqueles que têm como principal motivação para estar na atividade o fato de que, com ela, é possível descansar a cabeça, viver em paz, estar em contato com a natureza, unir a família e receber a visita dos amigos nos finais de semana; se o que busca com o leite é se sentir importante no meio em que vive; se prioriza alguns desses pontos no íntimo de sua alma, então meu amigo, você tem é de pagar para dizer que é produtor. Isso mesmo! Todo mês, tem de tirar uma parte da renda e colocar na fazenda, e não reclamar. Ao contrário, ao realizar o seu objetivo, você tem de comemorar seu sucesso!

Para ter lazer, para ter prazer, para ter satisfação, para ter status, todos pagam. Ou deixam de ganhar. Sempre foi assim, desde que o mundo é mundo, em qualquer lugar, em qualquer tempo. Então, não reclame de ninguém. Ou você vai querer que o laticínio pague para você desfrutar só do lado bom que toda fazenda oferece? Acha que é natural que um empregado se dedique a sua propriedade, se ele vê que você não prioriza a atenção à produção? E, por que o seu filho deve se interessar pelo seu lazer? Já que ele sente que o seu negócio é lazer, que produzir leite é consequência. Você concorda que na idade dele existem outras atividades muito mais prazerosas? Ainda mais nos dias de hoje…

Então, produção de leite depende é de atitude! Isso mesmo: atitude! Depende de como você encara a produção. Depende de qual é o seu real objetivo que está lá, no fundinho de sua alma. Se você vê sua propriedade como uma empresa, a primeira coisa a fazer é buscar conhecimento, que é a base de sucesso, sempre. Conhecimento nunca é caro! O que custa caro é a ignorância. Se sua produção é baseada no que os outros dizem, sem aprofundar sobre o que dizem, você sempre vai querer experimentar modismos.

Com isso, vai errar na compra de animais, vai errar na definição do tipo de alimentação que será servido, vai construir o estábulo menos funcional e obrigar as vacas a perderem energia caminhando além do necessário, vai sempre comprar um medicamento novo e caro que lhe mostraram, não vai querer usar adubo ou vai usá-lo em proporções antieconômicas… Vaipriorizar a cerca pintadinha, lindinha… Ou deixar a cerca acabar. Não importa qual das duas opções, pois o resultado final será o mesmo.

Se o seu negócio é realmente produzir leite, é preciso procurar conhecimento. Procure, pois quem procura acha. Mas conhecimento técnico não é tudo. Há a necessidade de se ter conhecimento de economia e de gestão, que é aquilo que alguns técnicos reducionistas colocam no meio de “ambiência” e “outros cuidados”. Mas meu espaço acabou e meu tempo também. Então, deixo uma pergunta para você responder a si próprio: o que deseja com sua produção de leite? Está agindo nesse sentido? Se não, sempre é tempo de mudar.

(Obs.: Esta crônica foi publicada na edição de Fevereiro/2012 e, pela atualidade do tema, a republicamos)

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