Nunca é demais reforçar o quanto é importante o produtor de leite buscar uma produção sustentável, economicamente viável, com qualidade do leite, competitiva e rentável. E, nessa busca, precisa dispor de um sistema de ordenha adequado às necessidades da propriedade, adquirido de empresa idônea, que garanta a qualidade do equipamento, o atendimento e um bom pós-venda. Na reportagem da edição anterior, focamos nos cuidados com a manutenção preventiva para quem já conta com um sistema de ordenha. Agora o foco é saber como comprar o equipamento na medida certa para atender ao volume de produção da fazenda.
Este é o novo episódio da sequência de entrevistas com Carlos Alberto Machado, especialista em qualidade do leite e coordenador da Comissão das Indústrias de Equipamentos para a Cadeia Produtiva do Leite do Simers (Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos do Rio Grande do Sul).
“A ordenhadeira é um dos elementos determinantes para o sucesso ou o fracasso da exploração leiteira. Uma escolha equivocada, um sistema mal dimensionado, que apresente não conformidades com as normas, pode trazer sérios prejuízos à sanidade dos animais, à qualidade do leite e ao bolso do produtor, entre outros transtornos”, alerta o especialista.
Ele faz questão de enfatizar que a aquisição de um sistema de ordenha é uma decisão da maior importância. “Seja para quem está começando do zero, seja uma propriedade que quer passar da ordenha manual para a mecânica, seja uma propriedade que queira substituir sua ordenhadeira mecânica atual. Em qualquer dos casos se trata de um investimento chave, que terá peso nos resultados pretendidos.” Observa ainda que estudos revelam que o tempo despendido com atividades relacionadas exclusivamente à ordenha é superior a 50% do tempo total consumido pela mão de obra da propriedade leiteira. O que se repete 365 dias do ano, pelo menos duas vezes ao dia, às vezes três.
Carlos Machado chama a atenção do produtor de que o grande desafio no planejamento do conjunto sala e sistema de ordenha é, principalmente, criar um ambiente seguro, agradável e confortável aos animais e operadores, com boa incidência de luz, ventilação, arejamento, fácil limpeza e higienização; reduzir a necessidade de esforço do ordenhador, proporcionando maior leveza ao trabalho, fluidez e tranquilidade ao trânsito e movimento dos animais; preservar a sanidade da glândula mamária e garantir a integralidade e a qualidade do leite ordenhado.
E isso só é possível com um projeto capaz de contemplar essas e outras variáveis específicas de cada propriedade, otimizando, integrando e agregando racionalidade a todas as ações relacionadas à ordenha. “Uma simples porta de entrada ou saída mal posicionada pode representar esforços adicionais e horas a mais perdidas com movimentos desnecessários para os animais e operadores, dificultando operações e comprometendo toda a racionalidade e objetivos de um projeto”, assinala.
Qualquer que seja a opção de modelo de sala e o respectivo sistema de ordenha, desde um sistema balde ao pé, sistemas canalizados tradicionais, até um equipamento robotizado, o projeto deve ter como premissa reduzir o máximo possível o tempo e a distância entre a teta do animal e o refrigerador, para que as características e a qualidade do leite sejam integralmente preservadas.
É no momento da ordenha que se faz presente o maior risco e as variáveis que podem garantir ou comprometer a qualidade do leite e os resultados esperados como retorno pelo investimento realizado.
Carlos Machado observa que é importante o produtor estar ciente de que existem empresas, profissionais e sistemas apropriados e seguros para o atendimento de todos os tipos, tamanhos e características de propriedades e projetos leiteiros que se possa imaginar, desde os mais simples balde ao pé, até os mais sofisticados, como os sistemas robotizados.
“O grande e principal desafio é, qualquer que seja a capacidade, o porte ou o modelo escolhido, que o sistema atenda às normas e seja dimensionado para o atendimento de cada caso, levando em conta as especificidades de cada propriedade, para proporcionar os resultados e benefícios esperados”, orienta.
Um sistema de ordenha é composto de vários pequenos subsistemas. Cada um com função específica e fundamental para o desempenho do todo. A ordenhadeira terá um bom desempenho se todos os componentes tiverem o mesmo padrão de qualidade, confiabilidade e estiverem adequadamente dimensionados entre si conforme determinam as normas para esses equipamentos. O especialista recomenda aos produtores que prestem muita atenção a alguns critérios na hora de fazer seu projeto de reforma ou instalação de um sistema de ordenha.
Dimensionamento – Para dimensionar o equipamento, cada produtor deve buscar profissionais de sua confiança e especialistas no assunto. Isso é importante para evitar o risco de, na composição do sistema de ordenha, haja a substituição de um mesmo componente por outro, de capacidade, tipo ou material diferentes. “Consequentemente, tais possibilidades incidem em custo, margens de lucro e preço final. Podem, ainda, eventualmente, prejudicar a qualidade e a eficiência do sistema. Por essa razão, é preciso atentar às diferenças substanciais de preços em relação à média de mercado”, alerta Carlos Machado, reforçando que somente profissionais capacitados poderão projetar um sistema que proporcione resultados e retorno que o produtor tem como meta.
Ele destaca alguns fatores fundamentais que devem ser levados em conta para a definição e o dimensionamento de um sistema:
“É natural que, quanto menor o tempo de ordenha desejado, maior será o número de unidades de ordenha necessárias e, consequentemente, a capacidade de alguns componentes do sistema, por exemplo, a bomba de vácuo, regulador de vácuo, etc.”
Uma fórmula simples que consta na Cartilha de Equipamentos de Ordenha e Recomendações do Comitê de Equipamentos do CBQL, para cálculo do tamanho do sistema de ordenha, é a seguinte:
Fórmula U = n/(t x d)
U = Tamanho do equipamento (número de unidades)
n = Número total de vacas a serem ordenhadas.
t = Tempo (em horas) de duração de cada ordenha.
d = Número de vacas ordenhadas por hora por unidade de ordenha
Assim, se o produtor tem um rebanho de 60 vacas a serem ordenhadas em 3 horas, 20 vacas devem ser ordenhadas por hora. Ou cinco vacas ordenhadas por unidade por hora. Usando a fórmula:
t = 3 U = 60/ (3×5)
d = 5 U = 60/15
n = 60 U = 4
U = será necessário um equipamento com 4 unidades de ordenha.
O que o produtor deve esperar de um sistema de ordenha bem dimensionado para a sua realidade? Eis alguns pontos que devem ser considerados:
“Se o produtor levar em conta as recomendações aqui relacionadas, certamente reduzirá o risco de fazer um mau negócio”, finaliza Carlos Machado.
O sucesso ou o fracasso de um sistema de ordenha começa a ser delineado muito antes de o equipamento ser acionado pela primeira vez na propriedade leiteira. Portanto, a decisão de aquisição de um sistema de ordenha requer toda a atenção e cuidados por parte do produtor, para se evitarem equívocos e dor de cabeça futura.
Carlos Machado recomenda ao produtor seguir alguns critérios que embasem sua decisão na hora da compra de um sistema de ordenha:
Por que comprar? Vale o produtor se fazer algumas perguntas e responder a si próprio. Por que você quer fazer esta compra? Quais são as reais razões da compra?
O que esperar como retorno desse investimento? Tem um estudo de custo-benefício, de viabilidade econômica? Que tipos de ganhos espera agregar com o investimento?
Conversar com amigos produtores que utilizam a mesma ordenhadeira escolhida para ter informações sobre o equipamento e o atendimento e pós-venda;
Pesquisar na internet postagens e manifestações de consumidores sobre o equipamento que pretende comprar e o atendimento prestado. Daí ser importante se informar o máximo que puder;
Com todas essas informações fica seguro escolher uma revenda de total confiança. Preferencialmente, que seja o mais próximo possível de sua propriedade. Na hora do pós-venda e assistência técnica, lembrar que distância é tempo, tempo é dinheiro e a ordenha não pode esperar;
Certificar-se de que a revenda tem equipe técnica treinada pela fábrica e estoque de peças de reposição. Ou seja, que não dependa do estoque da fábrica toda vez que necessite atender ao produtor.
Machado nota que há indústrias comprometidas com o setor, que fabricam equipamentos da melhor qualidade e observam rigorosamente as normas nacionais e internacionais. Tanto assim que algumas empresas nacionais estão exportando sistemas de ordenha para outros países. Da mesma forma existem muitos revendedores, comprometidos com marcas, defendendo bandeiras, com equipes técnicas treinadas pelas fábricas, prestando bons serviços de comercialização, assistência e pós-venda aos produtores em todo o País.
“Mas, infelizmente, existem também algumas empresas que não têm essa mesma capacidade de atendimento e podem deixar clientes frustrados. Algumas revendas trabalham com várias marcas, negociando aquela que mais lhes convém a cada momento, o que representa insegurança e risco para o cliente”, alerta ele, assinalando que não são raros os casos em que esse tipo de revendedor, depois de efetivar a venda e realizar seus ganhos, jogam a responsabilidade do pós-venda para cima das indústrias. “O preço você percebe na hora da compra, custo você percebe na hora em que estiver utilizando o equipamento. Que o produtor lembre de um conhecido slogan: ‘economizar é comprar bem’,” destaca Carlos Machado.
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