OPINIÃO

Décio Luiz Gazzoni

membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e pesquisador da Embrapa Soja

Oportunidades e desafios para que o agronegócio contribua com o crescimento do PIB nacional

É fato conhecido de que há anos o agronegócio vem sendo a locomotiva da economia brasileira. Ano após ano, os resultados do setor impulsionam o PIB nacional para cima. E, durante a pandemia de covid-19, mesmo com a crise econômica que afetou o mundo, o agronegócio manteve esse crescimento. A meta agora é manter o protagonismo, aproveitando as oportunidades e reconhecendo as ameaças e os desafios, para assim contribuir ainda mais com o desenvolvimento econômico do País.

A fim de aproveitar essas oportunidades, precisamos entender os eixos importantes que se formaram globalmente, principalmente neste último ano. Começando a discutir sobre como a pandemia afetou a economia global, mexendo com linhas de produção, logística, abastecimento, consumo, etc. Outro eixo importante é o olhar mundial para a China, que hoje é a locomotiva da economia global e o único país que não sofreu uma recessão durante a pandemia. Hoje a China é o nosso grande comprador e tudo o que acontece por lá afeta imediatamente a nossa economia.

Outro eixo que abre uma oportunidade imensa para o Brasil é a dinâmica do mercado de carnes. Complementando este segmento, também vem a aquacultura, que alguns ainda enxergam como ameaça ao mercado de carnes brasileiro, mas a maioria já vislumbra a oportunidade na criação de peixes, mariscos, etc. O Brasil pode se tornar um grande fornecedor global de peixes, mariscos e moluscos de criação. Os dois últimos eixos sofreram uma antecipação de suas metas por causa da pandemia: a segurança dos alimentos e a temática ambiental e social. Ambas podem ser vistas como oportunidades de negócios, mas também podem ser ameaças, dependendo de como forem tratadas. Mas é fato que segurança e sustentabilidade são fatores indispensáveis para o agronegócio.

Esses eixos citados, se encarados com seriedade e procurando as oportunidades, podem levar ao crescimento do PIB nos próximos 30 anos, chegando a criar pontos nos quais ele pode ser dobrado. Em um cenário base de BAU (business as usual), dobraríamos o PIB apenas em 2044. Mas se começarmos a projetar outros cenários de crescimento, teríamos, em um cenário “pessimista”, com uma taxa de crescimento de 2%, a dobra do PIB acontecendo em 2037. Já no cenário provável de crescimento de 4%, esse PIB seria dobrado duas vezes, a primeira em 2037 e a segunda em 2048. Já num cenário ideal, zerando o custo Brasil, com um crescimento de 6%, seriam três os momentos de dobra do PIB, em 2034, 2043 e 2050.

Para entender essa projeção, é preciso ter em mente que o dinheiro do agronegócio irriga a economia do País como um todo, movimentando turismo, indústria de transformação e outras. Um exemplo de antes da pandemia é de que as exportações do agronegócio fortaleciam nossa moeda, permitindo que comprássemos moedas estrangeiras fortes e fomentando o turismo, colocando o Brasil como um grande fornecedor de turistas para o restante do mundo.

E, para tornar essa projeção real, existem 12 pontos que gostaria de citar como fundamentais para alcançar o crescimento: 1– Existir demanda firme no mercado internacional; 2– Dispor de bons preços e taxa de câmbio favorável; 3– Manter oferta sólida e contratos de longo prazo; 4– Produzir de maneira competitiva; 5– Atender às exigências dos clientes; 6– Utilizar a tecnologia mais adequada; 7– Produzir com sustentabilidade; 8– Eliminar o custo Brasil (questões tributárias, logísticas, burocracia governamental, insegurança jurídica, leis trabalhistas, problemas estruturais, entre outras já conhecidas); 9– Agregar valor aos produtos; 10– Diversificar produtos e mercados; 11– Manter uma agressiva diplomacia comercial; 12– Investir forte em marketing e comunicação.

Desses pontos, apenas os dois primeiros não dependem apenas do Brasil para ocorrerem. Os demais podem ser alcançados com a união de toda a cadeia produtiva em busca de um mesmo objetivo, como por exemplo zerar o Custo Brasil por meio de mudanças nas políticas públicas que envolvem essas questões, seja por meio de reformas ou por incentivos.

Mas existem ameaças que podem impedir que o País alcance esse crescimento. Questões envolvendo a sustentabilidade, como desmatamento provocado por queimadas, trabalham contra o crescimento do País, afastando investidores que deixam de colocar recursos em fundos como as linhas de crédito rural, pois não querem financiar atividades que não sejam sustentáveis.

Para combater essa ameaça, o País precisa se posicionar duramente contra as atividades criminosas que envolvem o desmatamento e, em paralelo, realizar um trabalho agressivo de marketing e comunicação, mostrando para o restante do mundo que o Brasil está engajado no combate ao desmatamento e comprometido com as questões sustentáveis. O Brasil precisa começar a entender as próprias fraquezas e ameaças e buscar soluções.

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