Em geral, os números do setor mostram que em 2020 houve aumento do volume comercializado e ganhos reais de preços em toda a cadeia produtiva do leite nacional
Preços internacionais – Nas duas comparações, os preços de 2020 foram menores do que os dos três anos anteriores, no entanto, girando sempre em torno dos US$ 3.000,00/tonelada, que é o preço histórico dessa commodity no mercado internacional. A queda das cotações em 2020 em relação a 2019 foi bem mais acentuada (-4,6%) ante a média verificada no período de 2017 a 2019 (-2,6%).
Preços dolarizados recebidos pelos produtores de Brasil, Argentina e Uruguai – Em 2020, os produtores dos três países receberam preços menores em dólares pelo leite vendido em relação a anos anteriores. Entretanto, as quedas maiores (entre 10% e 11%) aconteceram para os produtores do Brasil e da Argentina. A redução se explica pela desvalorização da moeda local diante do dólar, uma vez que os preços em reais subiram. No Brasil, o preço líquido nominal para o produtor passou de R$ 1,38, em maio, para R$ 2,13 por litro em dezembro, um aumento de 54,3% em sete meses. Um ponto a se observar é que, em dólares, os valores no Brasil continuam menos competitivos do que os observados na Argentina e no Uruguai.
Preços do leite para o produtor, no mercado spot e no atacado – Esses valores refletem o grau de equilíbrio (ou a falta dele) entre a oferta de matéria-prima (produção das fazendas mais importação) e a demanda total por lácteos (consumo interno mais exportação) e ditam a dinâmica dos valores recebidos pelos produtores, inclusive daqueles pagos pelo consumidor final. Em 2020, com exceção do leite em pó fracionado, o significativo aumento de todos esses preços em relação aos anos anteriores aponta que faltou matéria-prima para a indústria atender a contento a uma demanda de mercado superaquecida por causa do auxílio emergencial do governo federal e de mudanças no comportamento dos consumidores. Corrigidos pelo IGP-DI e comparados com o ano anterior, em 2020 o preço do leite no mercado spot foi quase 19% maior, enquanto no atacado o queijo muçarela e o leite UHT tiveram aumentos próximos de 15%. Para o produtor, com a oferta bastante ajustada para a indústria, os preços reais corrigidos pelo ICPLeite registraram alta de 10,4%.
Preços do milho e do farelo de soja – Esses dois indicadores estão na relação pela sua importância na composição dos custos de produção enfrentados pelos produtores. Comparado com 2019, em 2020 o preço do milho aumentou 49% e o do farelo de soja, 54%. Em relação aos três anos anteriores, o aumento foi ainda mais contundente e ultrapassou a casa dos 60%. Exportações aceleradas e estimuladas pela desvalorização do real frente ao dólar, demanda interna firme e adversidades climáticas no plantio da safra de verão 2020/21 explicaram em boa parte esse cenário de alta.
Relação de troca: o Índice de Custo de Produção do Leite – O aumento dos preços do leite nas fazendas não foi suficiente para segurar uma queda de quase 20% na relação de troca, a quantidade de leite necessária para comprar um saco de 60 kg de uma mistura concentrada de 70% de milho com 30% de farelo de soja. Na média, em 2020 comparado com os três anos anteriores, os produtores tiveram que vender 17% mais leite para comprar um saco desta mistura. Em comparação com 2019, a piora foi de quase 20%. O aumento dos preços dos dois grãos afetou também o custo de produção do leite e o ICPLeite registrou um inédito aumento de 24,6% em 2020.
Produção inspecionada de leite – Estimulada por preços maiores, a produção inspecionada apresentou crescimento. Em 2020, o aumento tende a ficar próximo de 1,5% em relação a 2019 e de 3,2% em relação aos três anos anteriores. Porém, além dos preços, outras variáveis agiram em sentido contrário, freando a produção, entre elas a seca no Sul do Brasil e o aumento dos custos de produção.
Importações, exportações e disponibilidade interna – Mesmo com a desvalorização do real ante o dólar, mas diante do aumento do preço da matéria-prima nacional, a importação total de leite em 2020 foi 24,4% maior do que em 2019, um quadro que expõe mais uma vez a nossa fragilidade e (ainda) baixa competitividade como um País grande produtor de leite. No caso das exportações, os porcentuais foram animadores: motivados pela valorização do dólar, em 2020 exportamos 55% mais leite do que em 2019. Por outro lado, os números absolutos mostram um quadro que ainda precisa melhorar, já que a exportação em 2020 foi de apenas 0,3% da produção total de leite. A disponibilidade interna per capita (ou consumo per capita aparente) cresceu 2 litros em 2020, na comparação com 2019. Uma evolução lenta, mas importante.
Indicadores macroeconômicos – Entre os três indicadores listados na tabela destacamos a escalada da taxa de câmbio em 2020, com seus efeitos sobre a cadeia, em especial no mercado de insumos e na competitividade do leite importado. Somente no período mais recente, o dólar saltou de R$ 3,95 para R$ 5,16, uma alta de quase 31%.
Para concluir, os números gerais do setor mostram que em 2020 houve aumento do volume comercializado e ganhos reais de preços em toda a cadeia produtiva do leite nacional. Em termos de rentabilidade, o ano que terminou foi positivo para o leite, mas alguns agentes da cadeia produtiva mais afetados pelo clima ou pela ruptura em seus canais de venda certamente foram prejudicados.
Coautores: Denis Teixeira da Rocha, analista da Embrapa Gado de Leite; Glauco Rodrigues Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite
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