TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

www.linkedin.com/in/pedro-braga-arcuri-91556526

"Produtores poderão (alguns já o fazem) se valer da biodiversidade das suas reservas legais e áreas de proteção e da água que brota em suas terras como mais um item de receita na gestão eficiente da propriedade"

Outono verde

Vivemos uma época de transformações, que pode não ser percebida por todos de forma tão evidente. Passamos por momento semelhante há cerca de 30 anos, quando a internet “invadiu” empresas e lares urbanos e, mais tarde, também o campo. Uma transformação sutil, silenciosa, mas já enraizada, inexorável e de grande impacto nas nossas vidas. Como será a atividade econômica, a produção de leite daqui a 10, 20 anos? Os termos que definem essa transformação são bioeconomia, economia verde, economia sustentável, agricultura regenerativa e outros.

A transformação para uma economia verde é tão avassaladora que Arábia Saudita, Emirados Árabes e vários outros países estão adotando estratégias nacionais para se transformarem de meros produtores de petróleo em polos de energia verde, mais uma tendência irreversível. Grandes investidores e empresas de todos os setores e tamanhos reconhecem essa tendência e estão transformando seus negócios em diferentes velocidades. Fluxos de capital, quero dizer dinheiro grosso, estão sendo dirigidos para a economia verde. São decisões tomadas a partir de muitos estudos e discussões entre acionistas e executivos que estabelecem estratégias de longo prazo, para os mais diferentes mercados e cadeias produtivas.

É nessa nova onda que nós, da cadeia produtiva do alimento mais nobre e nutritivo, já estamos envolvidos mesmo sem perceber neste momento. O agronegócio em geral vai gerar renda com o carbono fixado em árvores e pastagens bem manejadas. Neste futuro próximo para muitos, ou que já é realidade para alguns, produtores poderão se valer da biodiversidade das suas reservas legais e áreas de proteção e da água que brota em suas terras como mais um item de receita na gestão eficiente da propriedade, para garantir lucratividade que é, e sempre será, prioridade no curto e no longo prazos para aqueles que pretendem passar a atividade para seus descendentes.

A economia verde é tendência reforçada pela criação de novas forças regulatórias. A Cédula Rural Verde é um dos mecanismos em funcionamento. O Banco Central elaborou um conjunto de leis regulando o mercado de crédito de carbono. O BNDES realizou dois editais para aquisição de créditos de carbono, o mais recente deles atingindo uma demanda de R$ 500 milhões. São novas regras resultantes da pressão dos mais importantes atores do mercado, os consumidores, a opinião pública.

Da antiga campanha norte-americana “Já tomou leite?” (“Got milk?”), promovendo o consumo, hoje temos campanhas tipo “Já plantou árvores?” ou “Estamos preservando nascentes”, promovidas por indústrias interessadas em demonstrar sua preocupação ambiental. Afinal, atualmente mais da metade da população mundial habita centros urbanos. Em 2050, seremos 70%, necessitando de serviços ambientais como água limpa, energia e, claro, alimentos.

Como há 30 anos, começamos o outono com a paisagem mudando de tons. Naquela época, imaginar telefones com a capacidade de computadores e conexão simultânea com várias pessoas com sons e imagens era coisa de ficção científica. Felizmente para todos, a ficção virou realidade, facilitando muito o trabalho, e a paisagem neste mês de abril continua mudando de cor. Porém estejamos certos: a economia se torna cada vez mais verde. E sem volta.

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?