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Essa doença, na forma de verrugas, se espalha por diferentes partes do corpo do animal, afetando o seu bem-estar

SANIDADE

Papilomatose bovina:

Cuidados para evitar que ela se propague no rebanho

As verrugas possuem um aspecto desagradável, causam desconforto e estresse aos bovinos em qualquer idade, com queda na produção leiteira

Gisele Dela Ricci*

A papilomatose, ou, como é conhecida popularmente, “verruga”, é uma doença causada por um vírus e, por isso, contagiosa. É caracterizada pelo aparecimento de tumores conhecidos como verrugas em diferentes áreas do corpo dos animais.

As verrugas são tipos de tumores, geralmente circulares, presentes na pele, normalmente benignos (não causam danos à saúde), com tamanhos, cores e formas diferentes, podendo apresentar superfícies lisas, ásperas, rugosas ou pontiagudas.

Normalmente, aparecem em áreas como cabeça, em torno dos olhos, pescoço, barbela, úbere, tetos e partes sexuais. O acometimento mais intenso e esporádico, atingindo a faringe, esôfago, estômago e bexiga, é descrito como muito importante.

Essa afecção provoca desconforto e estresse aos bovinos, sendo muito desagradável observar animais acometidos. Devido ao desconforto, cai a produção leiteira, possibilita a ocorrência de infecções bacterianas secundárias e bicheiras, o que também afeta a qualidade do couro dos animais doentes. As verrugas atingem bovinos de leite e de corte, além de ovinos, caprinos, equinos e cães.

Os animais jovens têm maior risco de se infectar, mas vale lembrar que todas as idades podem apresentar a doença. Entre as raças de bovinos de leite, a Holandesa apresenta maior suscetibilidade em apresentar verrugas. A doença ocorre mundialmente, apresentando maior ocorrência em climas com temperaturas mais quentes.

A transmissão da doença pode ocorrer de animal para animal, de forma direta ou indireta, por meio de ferimentos provenientes de lesões causadas por moscas, carrapatos, cercas, cochos de alimentação ou água, equipamentos utilizados para marcação e castração, seringas, cordas e equipamentos de ordenha, como teteiras e manuseio dos ordenadores contaminados. Os animais doentes são, normalmente, o reservatório da doença.

Para que aconteça a transmissão, é preciso que o bovino possua lesões na pele, independentemente da forma como foi causada, até mesmo por raios solares.

O sistema de confinamento e o estado imune dos animais são fatores importantes para a ocorrência da papilomatose nos rebanhos de bovinos leiteiros.

O tempo de incubação pode variar de dois a seis meses, e depende do tipo do vírus que acomete os animais, da quantidade de vírus presente no organismo, da forma de contaminação e, como já citado, da imunidade do bovino.

Animal jovem atacado pela doença

Quando recebem bom manejo e são criados em ambientes não estressantes e com boa alimentação, a grande maioria dos animais acometidos pelas verrugas se recupera naturalmente. No entanto, em alguns casos, as verrugas podem permanecer nos animais por seis meses ou mais, causando desconforto intenso, perdas produtivas e emagrecimento severo.

O diagnóstico é feito de forma simples, observando o aspecto da lesão na pele dos animais. Em situações em que é necessário identificar qual vírus está causando a doença nos animais é necessário realizar um exame chamado de imunofluorescência direta.

O diagnóstico clínico deve ser realizado por um médico veterinário, uma vez que, em alguns casos, as alterações causadas na pele são muito específicas. Além do exame de imunofluorescência direta, podem ser feitas biópsias para avaliar as características dos vírus e suas consequências nos animais.

Entre os tratamentos mais utilizados estão a vacina autógena (curativa) obtida por meio da inativação de várias verrugas coletadas do animal doente, a retirada cirúrgica com cauterização das lesões com nitrato de prata e a auto-hemoterapia (tratamento de doenças pela retirada e nova injeção do sangue do próprio animal).

 

Grau severo, com grande número de papilomas em várias partes do corpo

Alguns tratamentos podem apresentar níveis curativos ótimos, enquanto outros não indicam nenhum efeito, uma vez que a doença é autolimitante. Por se tratar de uma virose, não há medicamentos ou fórmula milagrosa para cura dos animais doentes. A mutação do vírus dificulta o desenvolvimento de um remédio ou vacina capaz de resolver todos os tipos de verrugas que acometem os bovinos.

A utilização de materiais descartáveis e esterilizados na vacinação, castração, descorna e instalações desinfetadas são as principais formas de se evitar a disseminação das verrugas. Desinfetantes à base de formol ou soda cáustica são recomendados para controlar a doença, com a desinfecção das mãos de manejadores da ordenha com soluções que contenham cloro ou iodo, após o contato com vacas com verrugas nos tetos, que devem ser ordenhadas por último no lote.

O controle de moscas e carrapatos deve ser realizado regularmente, assim como atividades que envolvam animais sadios e doentes, uma vez que o foco de infecção são os próprios animais doentes.

A papilomatose gera prejuízos econômicos e problemas de manejo nos rebanhos doentes, sendo a melhor alternativa aumentar e garantir os métodos de controle. Entre as principais formas de controle estão: não adquirir animais com verrugas; garantir o controle de moscas e carrapatos; manejar por último bovinos doentes; realizar a desinfecção correta, com desinfetantes apropriados, de agulhas, seringas e materiais para manejo com bezerras e vacas; uso de pomada repelente no úbere.

 

*Zootecnista, mestra, doutora e pós-doutoranda pela USP. Atua no laboratório de Etologia, bioclimatologia e nutrição de animais de produção (bovinos, suínos e ovinos)

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