balde branco
Workers are milking the cows by hand.

MASTITE

Período seco e saúde da glândula:

como fazer bem a terapia da vaca seca

A mastite é a doença mais frequente em rebanhos leiteiros, e interfere negativamente na produtividade e qualidade do leite

Autoria da Equipe Leite/Rehagro

Dados de 2022, com mais de 200 mil análises de rebanhos assistidos pela equipe de consultoria em pecuária leiteira do Rehagro, mostram como a produtividade de leite é comprometida quando as vacas apresentam alta contagem de células somáticas (CCS) (Gráfico 1).

O controle da mastite envolve um conjunto de manejos e ações que devem ser realizadas diariamente com foco na redução da transmissão dos casos entre vacas doentes e sadias, além da redução da exposição da glândula mamária aos agentes causadores de mastite.

Esses manejos preventivos são extremamente importantes, uma vez que, após a ocorrência do caso de mastite clínica (presença de alterações visíveis no leite, úbere e vaca) ou mastite subclínica (CCS > 200 mil células/ml), poucos são os recursos que podemos adotar na propriedade para recuperar essa vaca, para que seja sadia novamente.

Uma oportunidade para os casos de mastite clínica é a realização do tratamento com antibiótico, porém, a proporção de casos de mastite clínica que se beneficiam do tratamento varia de 20% a 33% (Ruegg, 2018). Outro ponto importante é que quartos mamários que apresentam CCS > 200 mil células/ml na secagem e no pós-parto possuem 2,7 vezes mais risco de apresentarem mastite quando comparado com quartos mamários sadios no mesmo período (CCS < 200 mil células/ml na secagem e pós-parto) (Pantoja et al., 2009).

Um compilado com mais de 936 mil controles leiteiros no ano de 2022, de propriedades assistidas pela equipe de consultoria em pecuária leiteira do Rehagro, mostram o impacto da ocorrência de mastite clínica no pós-parto na produção de leite durante toda a lactação (Gráfico 2), representando, em média, uma diferença de 4 litros de leite entre vacas que apresentaram mastite clínica no pós-parto (média de produção de 27,4 litros) e vacas que não apresentaram mastite clínica no mesmo período (média de produção de 31,7 litros).

Quando avaliamos os casos de mastite subclínica, de forma geral, o tratamento durante a lactação não é viável economicamente (com exceção de casos em que o patógeno identificado é o Streptococcus agalactiae). Sendo assim, uma estratégia a ser adotada no controle e prevenção da mastite é a realização da terapia da vaca seca.

A terapia da vaca seca possui dois objetivos: curativo e preventivo. Sua adequada realização pode curar entre 70% e 98% das infecções existentes no momento da secagem, além de reduzir de 50% a 80% as novas infecções que podem ocorrer durante o período seco (Dingwell et al., 2003).

A taxa de infecções intramamárias é maior durante o período seco quando comparado com o período de lactação, sendo os patógenos ambientais mais relacionados com essa ocorrência, especificamente nas três primeiras semanas após a secagem e momentos antes e após o parto (figura 1).

Isso ocorre porque, até a completa involução de úbere, que irá ocorrer em média, entre 21 e 30 dias após a secagem, há o aumento da pressão intramamária e extravasamento de leite, aumentando o risco de mastite durante esse período. Esse processo também ocorre momentos antes do parto, na fase de colostrogênese.

Além desses fatores, falhas relacionadas à demora da formação do tampão de queratina e fechamento do canal do teto interferem diretamente na ocorrência de mastite durante esse período, uma vez que esse tampão atua como barreira física e possui propriedades bacteriostáticas que reduzem o risco de mastite.

Um estudo demonstrou que 97% dos casos clínicos de mastite no início do período seco ocorreram em vacas que não tiveram a adequada formação do tampão de queratina após a secagem (Williamson et al., 1995).

Para minimizar esse risco, uma estratégia de manejo bastante utilizada na terapia da vaca seca é a utilização de selante de teto.

Em um estudo realizado por Godden e colaboradores (2003), vacas que receberam selante na secagem tiveram de 30% a 60% menos risco de apresentarem novas infecções no período seco quando comparadas com vacas tratadas apenas com antibiótico, mostrando que o selante de teto pode ser uma boa opção para o momento da realização da terapia da vaca seca, especialmente quando o desafio com o ambiente é alto.

Como realizar a terapia da vaca seca – Como parte do Programa de 10 Pontos de Controle da Mastite proposto pelo National Mastitis Council (NMC), temos como recomendação realizar adequadamente o manejo da terapia da vaca seca. Veja na Figura 2 como realizar esse manejo e usufruir de seus benefícios.

Figura 2. Procedimento para realização da terapia da vaca seca. Adaptado de NMC

O primeiro passo é definir na rotina da propriedade um dia para realizar a secagem das vacas. Com base nas informações de data prevista de parto, podemos selecionar as vacas que estão entre 45 e 60 dias para parir para realizar esse manejo. Isso reforça a importância de trabalharmos na propriedade com anotações e informações de qualidade.

É importante identificar essas vacas que receberão a terapia da vaca seca para reduzir o risco de resíduo de antibiótico no leite, podendo ser utilizado o bastão marcador, pulseiras nas pernas ou cordas no pescoço.

Após a ordenha da vaca, é fundamental utilizarmos luvas limpas e desinfetar a ponta dos tetos utilizando álcool 70.

Para a aplicação do intramamário para vaca seca, recomenda-se a introdução de meia cânula para aplicação do medicamento, realizando na sequência a massagem nos tetos, de baixo para cima.

Em seguida, realizamos a aplicação do selante de teto lentamente, segurando a base do teto, sem realizar a massagem.

Por fim, devemos aplicar a solução pós-dipping cobrindo todo o teto, separar a vaca para o lote de vacas secas e registrar o tratamento realizado, para acompanhamento da vaca e avaliação do período de carência e data do parto, reduzindo o risco de resíduo de antibiótico no leite do tanque.

Outros pontos que devemos nos atentar durante esse período seco é garantir um ambiente seco, limpo e confortável para as vacas, contribuindo para a menor exposição dos tetos aos agentes ambientais durante esse período, fornecer uma dieta adequada, auxiliando a imunidade da vaca durante esse período desafiador, além da possibilidade de utilização de vacina para mastite ambiental (cepa J5), com o objetivo de reduzir a severidade dos casos clínicos de mastite que possam ocorrer nesse período.

Terapia seletiva – Com as melhorias na rotina das propriedades, análise de dados e realização da cultura microbiológica do rebanho, além da demanda mundial para redução do uso de antimicrobianos, muitas propriedades estão adotando a realização da terapia seletiva da vaca seca.

Essa terapia consiste em selecionar, dentro do rebanho, quais vacas e quais tetos deverão ser tratados com antibiótico para vaca seca, e quais receberão apenas o selante de teto.

Considerando o benefício curativo da terapia da vaca seca, é importante que esse manejo de terapia seletiva seja realizado seguindo alguns critérios, que não comprometam a saúde da glândula mamária da vaca e a produção de leite futura.

Para esse manejo devemos considerar alguns pontos como a ausência de patógenos contagiosos no rebanho, o histórico de CCS da vaca, o histórico de mastite clínica durante toda a lactação (apenas um caso na lactação ou sem caso de mastite clínica nos três meses anteriores à secagem) e o resultado de cultura microbiológica do leite negativo antes da secagem (McCubbin et al., 2022).

Outro ponto fundamental a ser considerado é a qualidade do ambiente em que as vacas estarão durante todo o período seco. A maioria dos casos de mastite que ocorrem durante esse período é causada por agentes ambientais, portanto, a realização da terapia seletiva em situações em que o ambiente de permanência das vacas é desafiador pode contribuir para maior ocorrência de mastite.

Como avaliar a terapia da vaca seca – Independente da estratégia adotada na propriedade para a realização da terapia da vaca seca, é importante monitorar os indicadores e identificar oportunidades de melhoria nos manejos.

Para essa avaliação precisamos dos dados de CCS individual antes da secagem e após o parto e iremos comparar esses dois valores de CCS para identificarmos a taxa de cura na secagem e de novos casos após o parto.

Um ponto importante é que essa coleta após o parto seja feita com, no mínimo, cinco dias após o parto, pois logo após o parto a CCS elevada pode estar relacionada ao processo fisiológico do pós-parto e não representa casos de mastite subclínica.

A referência é que, no mínimo, 70% das vacas que apresentavam mastite subclínica na secagem (CCS > 200 mil células/ml) estejam sadias após o parto (CCS < 200 mil células/ml) (Dingwell et al., 2003; Henderson et al., 2016). Para a avaliação de novas infecções, a referência é que o valor seja menor que 17% (Pantoja et al., 2009; Henderson et al., 2016).

Como podemos observar nos gráficos, a Fazenda 1 apresenta, na média, bons resultados na avaliação da terapia da vaca seca e na taxa de novas infecções após o parto, enquanto a Fazenda 2 possui oportunidades de manejo e melhoria da saúde da glândula mamária.

Considerações finais – O controle da mastite é multifatorial e realizar os manejos diários adequadamente garante um rebanho mais sadio e produtivo.

É importante atuar na prevenção e realizar a terapia da vaca seca de forma adequada para usufruir dos benefícios curativo e preventivo desse manejo, além de coletar os dados e realizar o monitoramento do rebanho para avaliar a qualidade dos manejos realizados na propriedade e definição das ações para melhorias dos resultados.

(Obs: No original são citadas várias referências. O interessado pode solicitá-las à redação da Balde Branco)

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