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Com produção suficiente de alimento de qualidade, o produtor tem mais alternativas na formulação da dieta sempre que precisar

VOLUMOSO

Planejar para não faltar

durante o ano todo

A estratégia para ter volumoso suficiente e de qualidade deve ser prática comum na fazenda leiteira, como é o caso do Sítio Santa Luzia

João Antônio dos Santos

Está entre os principais pilares de uma gestão eficiente e profissional da atividade leiteira, o planejamento nutricional para os 12 meses do ano. No caso, aqui, o tema é o planejamento de volumoso, que compreende a pastagem e o alimento conservado, como a silagem. Assim, sem risco e sem susto devido a alguma eventualidade, pode-se fazer uma formulação de dieta equilibrada, dependendo das circunstâncias do preço do milho e da soja, e da situação climática (falta de chuvas, veranico).

Essa prática não só traz tranquilidade ao produtor para garantir alimento de qualidade aos animais, como ajuda a superar qualquer crise que venha a ocorrer. Esse é o caso do Sítio Santa Luzia, em Batatais (SP), de 10 hectares, pertencente a Luís Carlos Roma e a Maria Ângela, que contam com a consultoria técnica do médico veterinário Bruno Vicente Nadruz, da Gestão Leite Consultoria.

Como o sistema de produção do rebanho Jersey caracteriza-se por semiconfinamento, o planejamento do volumoso tem grande importância como estratégia nutricional, em que se combinam pastagem em tifton e capim mombaça, com sobressemeadura de aveia e azevém no inverno, além da capineira de BRS capiaçu, cana-de-açúcar e silagem de milho. “Essa estratégia se justifica e ganha uma imensa importância na atividade leiteira, pois os animais precisam comer alimento de qualidade durante o ano todo”, assinala o consultor Nadruz.

 

Planejamento passo a passo – Conforme observa a produtora Maria Ângela, a cada ano ela e seu marido se reúnem com Bruno Nadruz para calcular, avaliar e definir as ações para garantir a quantidade de volumoso necessária, e até mesmo com alguma sobra, para a alimentação dos animais. “Não há nada mais frustrante do chegar no período de seca ou numa crise de preço alto da ração e a gente não ter alternativas de como superar o problema e se ver obrigado a adquirir comida de fora. Já nos aconteceu, anos atrás, de precisar comprar cana-de-açúcar de uma usina distante do sítio, o que elevou muito o custo por causa do transporte e da mão de obra adicional”, relata Maria Ângela.

O consultor recomenda que o produtor deve ficar atento em alinhar a demanda de alimento que o rebanho necessita com a oferta, considerando suas condições para produzir o que for calculado. Ou seja, que essa oferta seja suficiente para não correr o risco de o animal comer menos do que o necessário, bem como que para que essa oferta não fique onerosa, pelo fato de ter de comprar volumoso de terceiros para atender às necessidades do rebanho. “Costumo dizer que o volumoso mais caro é aquele que o produtor não tem na propriedade. E sua atividade fica à mercê do mercado, correndo o sério risco de não conseguir fechar suas contas”, alerta.

Nadruz orienta Maria Ângela em cada ação e inovação no Sítio Santa Luzia

Exemplo típico dessa situação é o momento atual em que vive o setor leiteiro, em que muitas propriedades estão enfrentando falta de volumoso. Isso confirma o quanto o planejamento de volumoso é necessário na produção leiteira. Além da seca severa que se abateu em diversas regiões do País, há o problema do elevado custo de ingredientes do concentrado, sobretudo do farelo de soja e milho. Mesmo que o preço do leite tenha aumentado, o custo da ração reduziu drasticamente a margem do produtor. “Essa situação obriga o produtor a reformular a dieta do rebanho para tentar equilibrar os custos. E a saída para isso é usar menos milho e soja na dieta. Assim, é preciso dispor de volumoso em quantidade e qualidade para compensar nutricionalmente a menor quantidade desses ingredientes na formulação da dieta”, avalia Nadruz.

Com a perspectiva de se prevenir ante situações como essas é que no Sítio Santa Luzia se faz o planejamento do volumoso, em sua área de 9 hectares destinada à produção de alimento para o rebanho. Nadruz explica que o planejamento de volumoso do ano é feito no ano anterior.

Primeiramente, realiza-se a estratificação das diversas categorias animais (bezerras, novilhas, vacas em produção, vacas secas) que compõem o rebanho, e o número de animais de cada categoria. Em seguida, calcula-se a demanda de volumoso para cada categoria, o que vai gerar a quantidade de volumoso necessária. “Com esse raio-x da propriedade, em que entra também a variante clima da região, como se comportam as estações – se o verão é chuvoso, e o inverno é seco –, pensando também nos riscos de veranico”, observa ele.

 

Pastagem – A propriedade conta com pastagem em área de 2 hectares, em dois módulos irrigados: 1 hectare de tifton, dividido em 18 piquetes; 1 hectare de capim mombaça, com 28 piquetes, utilizados no verão. Nessa área, é feita a sobressemeadura com aveia e azevém, que permite atravessar a seca no inverno, com alimento de qualidade até outubro. Além de pequena área com cana-de-açúcar, há também 1,5 hectare de BRS capiaçu, em parte irrigado. Para a produção de silagem de milho são destinados 2,5 hectares por safra, com produtividade de 50 toneladas por hectare, e safrinha, com uma produtividade de 25 toneladas por hectare, bem menor que em anos anteriores, devido à prolongada estiagem neste ano.

Nadruz explica que, com os cálculos em mãos, tudo se inicia antecipadamente, com a compra das sementes escolhidas, o preparo das áreas de cultivo a partir da análise do solo, correção e adubação necessárias, em abril a junho. “No verão, trabalhamos com pastagem e na sequência com a sobressemeadura de aveia e azevém. Também o BRS capiaçu, que é cortado verde e fornecido picado meio a meio com a silagem de milho no cocho para os animais.”

Pastagem abundante durante todo o ano, com o uso da sobressemeadura prolongando o pasto até outubro

Silagem – Três meses antes do plantio, é comprado o híbrido para ensilagem, o mais adequado para as condições do sítio, e feita a análise e a correção do solo (em agosto), no mínimo com 90 dias antes do plantio, que ocorre no início das chuvas. Dias antes de iniciar o plantio, verificam-se os implementos, a plantadeira, e o trator para deixar a manutenção em dia, de modo a evitar qualquer imprevisto que obrigue à interrupção dos trabalhos.

Daí, em meados de novembro, inicia-se o preparo do solo, com gradagem para incorporar o calcário. Com as indicações da análise do solo, é feita a adubação de plantio, e em seguida o plantio convencional (sem plantio direto, por ser uma área pequena) na área de 2,5 hectares. “Para a colheita, o proprietário trabalha com uma forrageira de uma linha, que é adequada em face da área de cultivo, e conta com dois tratores. E tudo é feito com muito esmero para evitar perdas e obter um alimento de qualidade”, nota o consultor, reforçando que há muito capricho em todo esse processo, desde a escolha certa do híbrido, o preparo do solo, os tratos culturais, a colheita e o ensilamento. Essa quantidade de silagem é suficiente para atender à demanda no período da seca.

A área de pastagem de 2 hectares irrigados com tifton (18 piquetes) e capim mombaça (28 piquetes) suporta a lotação de em média 10 UA/ha nas águas, e, no inverno, com a sobressemeadura de aveia e azevém, a lotação é de 5 UA/ha. A adubação da área é feita segundo as recomendações da análise do solo, anualmente. A cada saída dos animais do piquete, este recebe adução nitrogenada e, em caso de necessidade, também potássio.

A produção de volumoso da pastagem dá e sobra, juntamente com o capim capiacu, com três cortes/ano, numa base de 250 a 300 t/ha/ano (equivalente a 50-60 t/ano de matéria seca). Essa forrageira é de alta qualidade, embora seja sempre utilizada meio a meio, com silagem de milho para as vacas em lactação. Já a recria recebe esse capim picado e, se necessário, também cana-de-açúcar.

Como o rebanho cresceu no último ano, exigiu novo arranjo no aproveitamento das pastagens: uma parte das vacas em lactação fica exclusivamente no pasto, enquanto outra parte, de menor produção, recebe volumoso no cocho numa mistura de capiaçu picado e silagem. Nas águas, estas recebem apenas o capiaçu picado no cocho.

Resultados com o BRS capiaçu, em parte irrigado, têm sido muito bons

Sobressemeadura – Em meados de março e abril, as chuvas diminuem (embora se tenha irrigação) e, como em maio a temperatura noturna começa a cair (por volta dos 15oC), começa a estacionalidade do tifton e do mombaça, que reduzem seu desenvolvimento. “Aí entra a estratégia da sobressemeadura de aveia e azevém. Iniciamos a semeadura no dia 1º de maio (na quantidade certa de sementes de aveia e azevém, misturadas com adubo), de forma escalonada, isto é, um piquete por dia”, explica Nadruz.

De manhã, depois que os animais deixam o piquete semeado, é feita a roçada da sobra do capim para que se forme uma camada orgânica para proteger as sementes e contribuir para sua boa germinação. Entre 40 e 45 dias do plantio, inicia-se o pastejo da aveia no primeiro piquete pelas vacas de maior produção em número menor (5 UA), em relação à lotação durante o verão. A aveia suporta três a quatro pastejos, ao longo de cerca de três meses. Depois desse tempo, o azevém, que demora mais para germinar, já estará apto para ser pastejado e dura até outubro, quando o tifton e o mombaça começam a se desenvolver novamente e estarão prontos para serem pastejados normalmente.

 

As vacas recebem o concentrado na hora da ordenha

Formulação da dieta – Esse é um ponto-chave para o máximo aproveitamento de todo o trabalho de planejamento do volumoso e concentrado na dieta para ter o alimento adequado para as vacas. Nessa formulação, Nadruz monitora a quantidade dos ingredientes com base na análise do nitrogênio ureico do leite (NUL), feita todos os meses, tanto individualmente, nas vacas, como no tanque. O manejo alimentar consiste no pastejo na aveia depois da última ordenha. Durante a noite, na primeira ordenha, recebem o concentrado individualmente, de acordo com a produção. As com menor produção recebem mistura meio a meio de silagem e capim capiaçu picado no cocho.

Sempre atenta às tecnologias e inovações, a produtora diz que procura adotar as tecnologias que estão a seu alcance e que possam contribuir para o incremento da atividade no Sítio Santa Luzia. “Neste ano, por exemplo, plantamos a variedade de aveia esmeralda, do Iapar, e o azevém da variedade ponteio, da Embrapa, que mostraram resultados muito positivos”, relata ela, observando que isso é ponto importante da consultoria para que se possa explorar todo o potencial da propriedade, pelo fato até mesmo de ela ser pequena.

Maria Ângela faz questão de enfatizar que a assistência técnica é algo que o produtor não pode abrir mão, pois é sua oportunidade de evoluir a passos seguros na melhoria de seu negócio, usando novas tecnologias que sejam adequadas ao tipo e à condição de cada propriedade. “E isso se torna mais importante ainda em tempos de crise como a que estamos vivendo, uma questão do altíssimo preço da ração e ao mesmo a seca, que foi muito grande, o que nos obrigou a aumentar a irrigação”, diz ela.

Benefícios do planejamento – “Em primeiro lugar, dá mais segurança em termos de ter alimento de qualidade suficiente para os animais durante todo o ano. E, pelo fato de a propriedade ser muito pequena, há sempre o risco de problemas na produtividade da lavoura, como ocorreu neste ano, na safrinha, devido à forte seca prolongada. E também tivemos de ir atrás para aumentar a irrigação, já que algumas áreas de capim não eram irrigadas”, relata a produtora, ressaltando que, com a consultoria, consegue tomar as decisões com maior rapidez para superar os problemas.

Nadruz faz questão ressalvar que o planejamento de volumoso é um dos itens básicos na boa gestão da propriedade e que o produtor deve sempre buscar mais conhecimentos. A informação de qualidade existe e é acessível. O produtor pode buscá-la na assistência técnica, em cursos os mais diversos e também nas redes sociais. “Porém, ela precisa ser muito bem aplicada, no conceito e na técnica correta, ao contrário do que a gente vê em muitas propriedades. Muitas vezes, o produtor faz a dose certa na hora errada ou a dose errada na hora certa e os resultados são insatisfatórios e não raro essa falha acarreta sérios prejuízos”, alerta.

O capim capiaçu picado é fornecido meio a meio com a silagem no cocho

Em sua visão calcada em estudos e experiência junto a muitas propriedades, ele diz que esse produtor não percebe que é necessário um conjunto de ações coordenadas para que se obtenham os resultados desejados. Se existem tantas informações disponíveis e o produtor está em dúvida, ele deve buscar um profissional especializado para orientá-lo naquilo que precisa e seguir rigorosamente as orientações. “É uma questão de atitude, de acreditar e de seguir as orientações. A diferença de tudo não está na terra, não está nos animais, não está em nenhum sistema. A diferença está nas pessoas, em suas atitudes. É isso o que transforma: acreditar, aprender e fazer bem feito para ter sucesso.”

PERFIL: Sítio Santa Luzia, em Batatais (SP)


• Área:
10 hectares: 1 ha para as instalações e 9 ha para produção de volumoso

• Proprietários: Luís Carlos e Maria Ângela Roma

• Rebanho Jersey: 65 animais, sendo 34 em lactação; 5 vacas secas; 17 bezerras até um ano e 9 novilhas

• Produtividade: 18.000 litros/hectare/ano

• Produção diária: 480 a 500 litros, na média do ano

• Produtividade: 16 l/vaca/dia, na média do ano

• Custo/litro: R$ 1,88

• Preço recebido/litro: R$ 2,10

• Qualidade do leite:
– Gordura: 4,45,%
– Proteína: 3,61%
– Sólidos totais: 13,45%
– Nitrogênio ureico: 12 mg/dl
– CBT (contagem bacteriana total): 7 mil UFC/ml
– CCS (Contagem de Células Somáticas): 309 mil/ml

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