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O rigor na seleção genética de touros se reflete na melhoria de suas filhas em termos de produção, saúde e conformação

GENÉTICA

Pré-seleção de touros leiteiros melhoradores

para os índices de des empenho da produção

As Associações dos Criadores de Gado Holandês, Girolando, Jersey e a Asbia, de inseminação artificial, trabalham para identificar indivíduos superiores que contribuam para a melhora dos índices de produção de leite, saúde e conformação das vacas

Erick Henrique

A seleção é um método de melhoramento genético que consiste em escolher os melhores animais em uma população para serem pais da geração seguinte. Isso é um conceito que todo produtor deve ter em mente na hora de escolher o touro de raças leiteiras para inseminação artificial do seu rebanho.

Além disso, segundo o artigo publicado pela zootecnista IZ/Apta, Lenira El Faro Zadra, intitulado “Seleção de Bovinos e Interpretação de DEP/PTA”, o ganho genético obtido por meio da seleção deve trazer o lucro tão almejado na atividade e, para isso, temos de ter em mente perguntas a serem respondidas, após um planejamento: o que selecionar, para qual ambiente, para que selecionar e como selecionar.

Altair Valloto: Ao observamos outras características, como a gordura e proteína, há uma herdabilidade de quase 45%. Portanto, são aspectos que possuem um rápido progresso genético dentro dos rebanhos leiteiros

“A pré-seleção de touros na raça Holandesa é fundamental no sentido de trabalharmos para o produtor buscar superioridade, principalmente quando desejamos incrementar o aumento de produtividade dos animais. Se queremos atingir esse objetivo, como a genética é 50% do macho e 50% da fêmea, logo devemos trabalhar com base naquilo que o mercado está exigindo de nossas vacas”, explica Altair Valloto, superintendente técnico da Associação Paranaense dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH).

Ele observa ainda que, em algumas regiões do Brasil, o fator mais importante pelo qual as indústrias pagam é pelo volume de produção de leite. Dessa forma, o pecuarista tem de selecionar animais com mais características para PTA Leite, visando ao aumento de volume da matéria-prima.

“Muitos laticínios no Paraná compram dos nossos produtores baseados no volume de produção, embora algumas indústrias estejam direcionadas pela busca de mais sólidos, maior porcentual de gordura e proteína. Com isso, temos de buscar a seleção dos touros para as PTAs de capacidade de proteína e gordura”, assinala Valloto, dizendo que, no caso, a orientação da APCBRH é se que utilizem touros com pelo menos 25 libras (11,3399 kg) de leite positivas para gordura e outras 25 libras de leite positivas para proteína, totalizando 50 libras (22,6796 kg) positivas para o teor de sólidos. “Esses são dois aspectos de grande interesse para a cadeia produtiva do leite.”

Outro motivo da seleção, segundo superintendente da entidade, é que, se os produtores visam exportar mais leite, será necessário selecionar animais para as características de saúde: CCS, doenças metabólicas (cetose, alcalose), doenças no trato reprodutivo, como a metrite, dentre outras.

Na APCBRH são gerados relatórios e gráficos genéticos numa parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH) e a Embrapa Gado de Leite, nos quais são acompanhadas mais de 50 mil vacas em controle leiteiro mensalmente, das quais, todos os anos, são classificadas mais de 10 mil vacas de primeira cria, que passam a ser avaliadas nos quesitos de dados de reprodução, de saúde e dos componentes do leite. Com isso, a associação mostra para o criador os exemplares 20% superiores e os bovinos 20% inferiores.

 

Como algumas indústrias estão direcionadas pela busca de mais sólidos, maior porcentual de gordura e proteína, o produtor pode focar na seleção dos touros para as PTAs de capacidade de proteína e gordura

“Para se ter ideia, quando analisamos o desempenho das vacas 20% superiores em relação às 20% inferiores dos nossos criadores, na primeira cria há uma diferença, por lactação/animal em 305 dias, de 3 mil a 5 mil/kg entre o grupo superior e o inferior. Veja o quanto de diferença pode fazer nesse aspecto a genética, a seleção dos touros e suas vacas”, destaca Valloto.

Se for avaliada a característica de PTA Leite, o superintendente da APCBRH diz que 30% dessa característica provém da genética e 70% do meio ambiente. Assim, se uma vaca produz 10 litros de leite/dia, 3 litros são fruto da genética, os outros 7 litros de leite vêm do ambiente (conforto, bem-estar, saúde, alimentação, manejo). “Agora, quando observamos outras características, como a gordura e proteína, estamos falando de uma herdabilidade de quase 45%. Portanto, são aspectos que possuem um rápido progresso genético dentro dos rebanhos leiteiros.”

Os touros aptos ao teste de progênie são classificados pelo Índice Final de Classificação de Touros (IFCT), obedecendo a determinados pesos para cada uma das características avaliadas pelo Clarifide Girolando

Edivaldo Ferreira Júnior: “É importante que os criadores façam a genotipagem do maior número de bezerros candidatos ao teste de progênie, pois isso vai resultar em uma diversidade maior de reprodutores, aumentando a pressão de seleção”

Seleção no Girolando – Anualmente são avaliados mais de 600 bezerros pelo Clarifide Girolando. Em média, são inscritos no programa cerca de cem touros. Os dados das avaliações genéticas dos touros são publicados abrangendo as seguintes características: produção de leite, idade ao primeiro parto, intervalo de partos e longevidade.

De acordo com Edivaldo Ferreira Júnior, coordenador operacional do Programa Melhoramento Genético Girolando (PMGG), a pré-seleção de touros teve as inscrições abertas no dia 1º de setembro e se encerraram no dia 29 de outubro. Segundo ele, a prova não ocorre mais de forma física desde o ano passado. 

Os animais, para serem aprovados, devem atender aos seguintes critérios: serem submetidos à genotipagem pelo Clarifide Girolando e estarem considerados aptos ao teste de progênie; serem submetidos à avaliação morfológica por um técnico habilitado da associação, com base nos critérios estabelecidos pelo PMGG e obterem parecer favorável para participação no teste de progênie. 

Os touros aptos ao teste de progênie serão classificados pelo Índice Final de Classificação de Touros (IFCT), obedecendo aos seguintes pesos para cada uma das características avaliadas pelo Clarifide Girolando: 50% gPTA Leite (produção de leite), 30% gPTA IPP (idade ao primeiro parto) e 20% gPTA IP (intervalo entre partos).

“A confirmação de participação do exemplar no grupo se dará por meio da assinatura de contrato específico e pela cessão, à associação do Girolando, de no mínimo 200 doses de sêmen coletadas e industrializadas em estabelecimento registrado pelo Ministério da Agricultura, podendo estas serem convencionais ou sexadas, a critério do proprietário”, diz Ferreira Júnior. 

Para o coordenador do PMGG, é importante que os criadores façam a genotipagem de um maior número de bezerros candidatos ao teste de progênie, pois isso vai resultar em uma diversidade maior de reprodutores, aumentando a pressão de seleção.

O gráfico a seguir ilustra o ganho genético para produção de leite dos grupos de touros em teste de progênie do PMGG:

Os critérios no Jersey – Na avaliação do superintendente do SRG, Paulo Henrique Souza, da Associação dos Criadores de Gado Jersey do Brasil (ACGJB), a raça é a que mais cresce nos Estados Unidos. Nos últimos anos, passou da marca de 5% para atualmente atingir 25% do rebanho estadunidense, seja com animais puros, seja em cruzamentos com outras raças.

“Acreditamos que os números do Jersey no Brasil estejam seguindo esta mesma tendência, dado o aumento significativo no número de criadores que estão em busca de animais para ingressar na atividade pecuária ou mesmo para realizar cruzamentos em seu rebanho, buscando incorporar as características inerentes à raça, especialmente o aumento de sólidos no leite, que lhe trará maior remuneração pelo leite comercializado”, informa Souza.

Conforme o especialista da ACGJB, com base nesse aumento significativo de animais Jersey no rebanho nacional, os reprodutores se tornam um ponto de atenção, já que eles têm a capacidade de deixar muito mais descendentes do que uma fêmea, seja através da monta natural, seja sobretudo pelas técnicas de inseminação artificial ou multiplicação de embriões.

A base dos touros da raça Jersey utilizada no rebanho nacional é oriunda, em sua maioria, dos EUA e Canadá, e uma pequena parcela de material genético vem de outros países, como Nova Zelândia e Ilha de Jersey

“A base dos touros utilizados no rebanho nacional é oriunda, em sua maioria, dos EUA e Canadá, e uma pequena parcela de material genético vem de outros países como Nova Zelândia e Ilha de Jersey. A seleção dos touros segue critérios sugeridos pelo seu conselho técnico-CDT da Jersey Brasil e aprovados pelo Ministério da Agricultura para a importação de material genético e para a inscrição de touros nacionais em centros de coleta e distribuição de sêmen. Tais critérios exigem animais considerados PO e índices acima da média em seu país de origem”, destaca o superintendente.

Além disso, o coordenador do SRG ressalta que a avaliação genômica é a ferramenta com maior confiabilidade para identificar o potencial genético dos animais. Ele acrescenta que a avaliação genômica acelerou o processo de seleção de touros da raça, com a identificação de animais com um mérito genético superior, assim como a imensa maioria dos touros importados pelas centrais de sêmen é oriunda de novilhas sem provas de desempenho, o que também é realidade no Brasil.

Desta forma, os critérios para a inscrição de reprodutores em centros de coleta indicam características que permitam ao criador ter animais que propiciem maior rentabilidade, sendo exigidas características positivas de produção: leite e sólidos (gordura e proteína), de conformação: PTAT (tipo) e JUI (índice de úbere) e saúde: VP (vida produtiva). Além disso, sob o mesmo conceito de agregar rentabilidade ao rebanho nacional os critérios para importação de material genético são baseados nas características de produção e conformação e saúde acima das médias no país de origem. Sendo para o material proveniente dos EUA: produção de leite, JPI, vida produtiva, mérito líquido, composto de úbere e mérito fluido. Para o material oriundo do Canadá: produção de leite, LPI, conformação, sistema mamário, herd life e profit.

Paulo Henrique Souza: “Os reprodutores têm a capacidade de deixar muito mais descendentes do que uma fêmea, seja através da monta natural, seja sobretudo pelas técnicas de inseminação artificial ou multiplicação de embriões”

De acordo com Valloto, o preço da avaliação genômica dos indivíduos Holandês e Jersey gira em torno de R$ 170 a R$ 190. A depender do dólar, os criadores têm três grandes empresas à disposição para fazer o serviço no País: NeoGen, ST Genetics e Clarifide-Zoetis. Geralmente é coletado o pelo do bezerro e os resultados da prova genômica saem no prazo de dois a três meses. Antigamente esperava-se de cinco a seis anos para ter uma prova de determinado touro, seja ela nacional realizada pela Embrapa, seja promovida no exterior.

Márcio Nery: “As centrais estão muito alinhadas com o mercado, com as demandas do criador, com aquilo que as pesquisas apresentam, e o uso da genômica é muito intenso”

O olhar do mercado de IA – “Em relação ao trabalho da pré-seleção de touros, devemos separar as raças nacionais Gir Leiteiro e Girolando das raças Holandesa e Jersey, porque a grande maioria dos animais, cerca de 98% do rebanho, é importada da América do Norte, e alguma coisa da Europa também. O trabalho sobre as duas raças taurinas hoje é 100% genômico. Vale assinalar que houve uma mudança muito forte nos últimos anos, saindo de tipo funcional, úberes, pernas e pés, e entrando na seara dos critérios de saúde: vida produtiva, fertilidade, CCS”, analisa o presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), Márcio Nery.

Agora, segundo ele, quando se olha a seleção de touros nacionais, como o Girolando, o Gir Leiteiro e também o Guzerá Leiteiro, aconteceu uma evolução muito grande, porque no passado esse trabalho era feito somente por tipo racial, com alguma coleta de dados de leite da mãe. Porém, hoje já há o apoio da genômica no Girolando, Gir Leiteiro e, no Guzerá Leiteiro, está começando.

Nesse aspecto, a velocidade de progresso genético será muito grande, tanto pela assertividade da tomada de decisão, sobre que touros colocar no teste de progênie, quanto pela idade dos pais, pois, quanto mais jovens forem os pais da próxima progênie, mais progresso genético será feito. A genômica possibilita isso.

“As centrais têm algumas nuances em relação ao foco de seleção. Existem empresas que priorizam o tipo, enquanto outras, as características de saúde. Todavia, eu diria para os leitores da Balde Branco que as centrais estão muito alinhadas com o mercado, com as demandas do criador, com aquilo que as pesquisas apresentam, e o uso da genômica é muito intenso”, destaca Nery.

Ele assinala também uma novidade que já ocorre nos rebanhos Holandês e Jersey: os núcleos genéticos próprios, no quais as companhias possuem seus plantéis de fêmeas que produzirão os seus touros. Isso é um caminho que começa a ser seguido aqui também em relação às raças nacionais. Em sua visão, esse trabalho está alinhado com a demanda do mercado e a conversa entre as associações de raças e as centrais é muito forte.

“No gado de corte, somos campeões mundiais no uso da IA, entretanto, no leite, ainda somos lanterninhas, com toda certeza. Essa biotecnologia democratiza o acesso à genética de qualidade, independente do tamanho da fazenda, pois tanto uma pequena propriedade como uma grande podem usar o mesmo touro leiteiro provado e, dessa forma, viabilizarão o progresso genético de ambas”, explica o presidente da Asbia.

Ele complementa, observando que a diferença genética é muito grande, levando em consideração uma produtividade média de 3.500 kg/leite/vaca/ano reportada pelo Ministério da Agricultura, a qual já pode, em uma geração, atingir a média de 5.500 kg/leite/vaca/ano, graças às ferramentas de melhoramento animal e IA.

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