Além das pastagens, a falta de chuvas tem diminuído a produtividade das lavouras de milho e a qualidade da silagem, agravando a situação de pecuaristas, que
se deparam com preços recordes
da alimentação“
Os preços do leite no campo registraram alta pelo segundo mês consecutivo. Segundo pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a “Média Brasil” líquida do leite captado em abril e pago em maio subiu 2,7% em relação ao mês anterior, indo para R$ 2,0364/litro. Esse valor é recorde para um mês de maio e supera em 37,9% o registrado no mesmo período de 2020, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de abril/21).
A valorização do leite no campo está atrelada ao contexto de diminuição da oferta, devido ao clima seco e à elevação dos custos de produção. O Índice de Captação Leiteira (Icap-L) caiu 1,1% de março para abril, puxado por uma queda média de 2,7% no Sudeste. Desde o início deste ano, o Icap-L já acumula recuo de 13,2%.
A redução da produção leiteira acontece tipicamente entre o outono e o inverno. O menor volume de chuvas nesta época do ano limita a disponibilidade e a qualidade das pastagens, afetando negativamente a alimentação volumosa do rebanho e, consequentemente, a produção de leite. Com a oferta reduzida, observa-se a elevação sazonal dos preços no campo entre março e agosto. Contudo, neste ano, a seca tem sido mais intensa, atingindo com gravidade importantes bacias leiteiras do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do País. Além das pastagens, a falta de chuvas tem diminuído a produtividade das lavouras de milho e a qualidade da silagem, agravando a situação de pecuaristas, que se deparam com preços recordes da alimentação. Adubos e fertilizantes, insumos importantes para a produção de volumoso e que são importados, também se valorizam, diante do dólar em alto patamar.
Mesmo com a valorização do leite no campo, pesquisas do Cepea mostram perda substancial na margem do produtor nos últimos meses. De janeiro para abril, a quantidade de leite necessária para adquirir uma saca de 60 kg de milho saltou de 42 litros para 47 litros, um aumento de 13,4%. Comparando abril deste ano com o do ano passado, a perda no poder de compra chega a 31%. Essa situação tem freado investimentos na atividade, prejudicado o manejo alimentar dos animais e estimulado o abate de vacas, uma vez que as cotações no mercado de corte estão atrativas. E o descarte de vacas, por sua vez, é um indicador de que a produção de leite deve demorar a se elevar, mesmo diante do estímulo dos preços, o que deve reforçar o cenário de baixa da oferta nos próximos meses.
Leite spot – Com a oferta de leite limitada, a competição entre indústrias pela compra de matéria-prima se acirrou em abril. Como resultado, o preço do leite no mercado spot de Minas Gerais subiu 1,7% entre a primeira e a segunda quinzenas de abril, com a média mensal chegando a R$ 2,04/litro. Esse movimento de avanço seguiu em maio, com elevação de 16,7%, e a média a R$ 2,39/litro (o que, por conseguinte, deve impactar sobre o preço do leite captado neste mesmo mês).
Os estoques de derivados lácteos nas indústrias e atacados em abril também estão reduzidos. A pesquisa do Cepea realizada com apoio financeiro da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) mostrou que os laticínios têm conseguido repassar a alta da matéria-prima aos derivados. No entanto, o menor poder de compra do consumidor e a pressão dos canais de distribuição limitaram maiores valorizações. É importante frisar que o aumento do desemprego, a elevação da inflação e o avanço da pandemia têm fragilizado a demanda, o que pode manter controlado o movimento de avanço nos valores do leite no campo, mesmo no contexto de baixa disponibilidade e de custos elevados.
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