balde branco

LEITE EM NÚMEROS

Denis Teixeira da Rocha

Analista da Embrapa Gado de Leite

Preço do leite ao produtor e seus efeitos na produçao

Tanto produtores quanto laticínios encontram-se com margens bastante apertadas. Neste contexto, a tendência é de que a disponibilidade também siga mais fraca no segundo semestre

Em 2020, o preço do leite pago ao produtor superou pela primeira vez a barreira dos R$ 2 por litro, em termos nominais. Impulsionados pela demanda aquecida com o auxílio emergencial e os novos hábitos de consumo de lácteos com a pandemia, os preços dos lácteos experimentaram uma expressiva valorização ao longo de toda a cadeia. Esse cenário permitiu ao produtor de leite obter uma boa rentabilidade na atividade, principalmente durante o segundo semestre do ano. Ao analisar o preço real do leite ao produtor, deflacionado pelo ICPLeite/Embrapa (Figura 1), que reflete a relação de troca ao produtor, observa-se que o preço recebido no segundo semestre de 2020 (R$ 2,59/litro) foi o mais alto dos últimos anos, ficando bem acima da média da última década – 2011 a 2020, que foi de R$1,92/litro.

Entretanto, esse cenário não durou muito tempo. Dentro da porteira, o produtor passou a conviver com sucessivos aumentos de custo de produção. Já fora da porteira, o setor sofreu com o aumento da disponibilidade de leite reforçada pelos altos volumes de importação ocorridos na parte final do ano, ao mesmo tempo em que a demanda ficou enfraquecida, com a redução do auxílio emergencial. Para complicar mais um pouco a situação, no início de 2021, o auxílio emergencial foi extinto e o Brasil, que esperava acelerar a retomada da atividade econômica, conviveu com uma nova onda de contaminações e mortes ocasionadas pela covid-19, que afetou em cheio a economia. Ao mesmo tempo, problemas climáticos no País afetaram as safras de grãos e causaram perdas em pastagens, enquanto a pandemia também afetava a economia mundo afora, pressionando os preços das commodities e de importantes insumos de produção para a atividade leiteira.

Nesse primeiro semestre de 2021, o preço do leite ficou mais estável, enquanto o custo de produção continuou subindo de forma consistente, com os grupos ligados à alimentação animal acumulando altas expressivas. O grupo “Produção e compra de volumosos” subiu quase 30%, ao mesmo tempo em que a “alimentação concentrada” e “sal mineral” subiram próximos a 18% no acumulado de janeiro a junho de 2021. No agregado, o ICPLeite acumulou alta de 16% nesse período. Nesse cenário, o preço real ao produtor recuou em relação ao segundo semestre de 2020, atingindo a marca de R$ 2,17/litro. Mas ainda assim foi o segundo maior valor médio desde 2017.

Ao observar a série de preços reais, em valores médios por semestre desde 2015, tem-se que os menores valores se concentraram entre 2015 e o primeiro semestre de 2016. Esse período de baixa rentabilidade ao produtor resultou em recuo na produção de leite brasileira (Figura 2). Nos anos de 2015 e 2016, a produção de leite inspecionado registrou quedas consecutivas, atingindo o menor volume no primeiro semestre de 2016, quando a produção ficou 6% abaixo do volume registrado no primeiro semestre do ano anterior. Com a melhora no preço real do leite, a partir do segundo semestre de 2016, a produção voltou a crescer em 2017. Mas, logo em seguida, os preços do leite ficaram novamente abaixo do valor médio da década 2011-2020, o que refletiu na menor produção do primeiro semestre de 2018.

Desde o segundo semestre de 2018, o preço médio semestral tem ficado acima do valor médio da década 2011-2020. Nesse período, a produção tem crescido, em diferentes patamares, com exceção do segundo semestre de 2019, quando a produção ficou estável em relação ao segundo semestre de 2018. Nesse primeiro semestre de 2021, o crescimento da produção também perdeu forças. Após crescer acima dos 2% nos dois semestres de 2020, nesse último semestre a produção avançou apenas 0,4%. Esse resultado reflete o momento delicado que atravessa a cadeia produtiva do leite, devido ao forte incremento de custos. Tanto produtores quanto laticínios encontram-se com margens bastante apertadas. Neste contexto, a tendência é de que a disponibilidade siga mais fraca também no segundo semestre.

Coautoria: Glauco Rodrigues Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?