balde branco

COLUNA DO CEPEA

Natália Grigol

Pesquisadora do Cepea

  Em 2020, a retomada da produção não tem ocorrido de forma intensa, já que as condições climáticas foram menos favoráveis”

Preço do leite captado em outubro e pago em novembro cai 11 centavos/litro

O preço do leite no campo recuou em novembro, interrompendo, portanto, o movimento de alta que vinha sendo verificado desde junho. De acordo com levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a “Média Brasil” líquida do leite captado em outubro e recebido por produtores em novembro caiu para R$ 2,0435/litro, baixa de 5,3% (ou de 11 centavos/litro) frente ao mês anterior.

É importante lembrar que os preços do leite no campo são influenciados pelos mercados de spot e derivados, com atraso de um mês nesse repasse de tendência. Assim, o preço do leite captado em outubro que é pago em novembro é influenciado pelo desempenho dos mercados de derivados e spot de outubro.

Por causa da sazonalidade da produção, é esperado que, a partir de outubro, ocorra a desvalorização do leite no campo, uma vez que as chuvas da primavera e do verão elevam a disponibilidade de pastagem. Porém, em 2020, a retomada da produção não tem ocorrido de forma intensa, já que as condições climáticas foram menos favoráveis. Além disso, a elevação dos custos de produção prejudica a atividade. Mesmo assim, na primeira e segunda quinzenas de outubro, houve maior oferta de leite spot (negociado entre indústrias) em Minas Gerais, de modo que a média mensal caiu 16,8% frente à de setembro/20, indo para R$ 2,23/litro.

Nesse sentido, de acordo com agentes consultados pelo Cepea, a redução das cotações no campo esteve mais atrelada à pressão dos canais de distribuição sobre as negociações de lácteos com as indústrias em outubro. Isso porque o consumo esteve enfraquecido naquele mês, em função dos altos patamares de preços atingidos pelos derivados em meses anteriores. Como consequência, em outubro, houve a diminuição dos preços médios de derivados importantes para a formação do preço ao produtor, como leite longa vida (UHT), muçarela e leite em pó. É importante destacar que, mesmo com estoques enxutos de lácteos, a valorização intensa de vários gêneros alimentícios nos últimos meses tem pesado sobre a decisão de consumo do brasileiro, o que também resulta em maior competição entre redes varejistas para atrair clientes com preços baixos.

 

PERSPECTIVAS – A grande dificuldade para o setor neste fim de ano está em equalizar a demanda, sensível aos elevados patamares de preços dos lácteos, com a oferta que deve seguir restrita, já que a ocorrência de La Niña deve afetar negativamente a atividade leiteira nos próximos meses. Além disso, as expressivas altas dos custos de produção (atreladas, sobretudo, à valorização dos grãos) impossibilitam investimentos na atividade, além de já comprometerem as margens dos produtores, visto que ocorrem em um momento muito sensível de redução da receita. Outro agravante para a situação é a valorização da arroba ao longo deste ano, que acaba estimulando o abate de fêmeas. Assim, a produção de leite pode não se recuperar no verão, como em outros anos, o que pode frear o movimento de queda no campo.

 

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