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Vencedores do Prêmio Referência Leiteira 2023 foram conhecidos durante a Expointer

REFERÊNCIA LEITEIRA

Prêmio reconhece eficiência, produtividade e boas práticas no RS

Produtores se destacam pela atuação e contribuição à excelência da cadeia produtiva no Estado, com base em dados como produção anual por hectare, produtividade da mão de obra e índices de qualidade do leite

João Carlos de Faria

Um total de 105 propriedades gaúchas participaram da 2a edição do Prêmio Referência Leiteira, promovido conjuntamente pelo Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) e a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural.

A premiação aconteceu em clima de festa durante a 46a Expointer, em Esteio (RS) e os vencedores foram a Granja Ritter (São Martinho-RS) e a Estância das Pedras (Água Santa-RS), respectivamente, nas categorias Produção de Leite a Pasto e Produção de Leite em Sistema de Semiconfinamento ou Confinamento.

Entre julho de 2022 e junho de 2023, elas tiveram seus dados anotados mensalmente por extensionistas da Emater/RS e obtiveram as melhores pontuações, segundo critérios de avaliação como o cálculo da produtividade (litros de leite/hectare/ano); da mão de obra (litros de leite/pessoa/ano) e pela qualidade do leite (índices de CCS e CPP/CBT), com bonificação adicional para propriedades certificadas como livres de brucelose e tuberculose.

Jaime Eduardo Ries

Fomento – O gerente técnico da Emater/RS, Jaime Eduardo Ries, explica que o prêmio é um estímulo aos produtores que, apesar de todas as dificuldades, continuam trabalhando e mantendo a produção de leite no Rio Grande do Sul em alto nível, com excelentes resultados. O Estado produz anualmente 4,3 bilhões de litros de leite sendo o 3o maior produtor do país, com aproximadamente 13% da produção nacional (Anuário Embrapa/2023).

“Ao mesmo tempo, para nós que trabalhamos com assistência técnica, essa avaliação gera indicadores importantes para sabermos onde estão as propriedades de excelência, que se destacam com níveis de produtividade altíssimos e indicadores de qualidade excepcionais.”, afirma.

Na categoria Semiconfinamento ou Confinamento, venceu a Granja Ritter

Segundo ele, nesse conjunto de propriedades, há sistemas de confinamento com produtividade acima de 40 mil litros de leite por hectare/ano e média de 40 litros/dia por vaca. “São indicadores muito bons em qualquer lugar do mundo”, diz.

Para sistemas a pasto, evidentemente que, por ser menos intensivo, os indicadores são menores, mas, mesmo assim, chegam a atingir em torno de 20 mil litros de leite por hectare/ano e média de 25 a 30 litros/dia por vaca. Ries afirma que a divisão em duas categorias proporcionou uma premiação mais justa, pois cada sistema apresenta suas diferenças no manejo e nos resultados.

Estância das Pedras, da família Lorenzon, foi vencedora na categoria Produção a Pasto

Nesta edição, também foram inclusos “cases” de sucesso, avaliados em seis categorias: inovação, sustentabilidade, bem-estar animal, protagonismo feminino, sucessão familiar e gestão da atividade leiteira. O objetivo foi destacar boas práticas que não necessariamente estivessem relacionadas aos indicadores de produtividade ou qualidade do leite, mas avaliadas de acordo com sua abrangência e relevância, grau de consolidação, impactos, resultados e a possibilidade de ser adotada por outras propriedades.

Darlan Palharini

Motivação – O secretário executivo do Sindilat, Darlan Palharini, revela que a ideia da premiação surgiu com o Fórum Itinerante do Leite – evento realizado entre 2015 até a pandemia – que apresentava boas práticas de sucesso em tecnologias ou gestão da propriedade.

“Desde então, alimentávamos a ideia de se ter indicadores para identificar os melhores produtores, independentemente do momento, com uma metodologia que fosse bastante transparente e sem patrocínios externos para não sofrer nenhum tipo de influência”, explica.

Por essa razão, a premiação é bancada exclusivamente com recursos da própria entidade, contando com a credibilidade da Emater, responsável pela metodologia e pelos levantamentos e contabilização dos dados, aos quais tem acesso exclusivo até a divulgação da pontuação.

“Nessa edição, tivemos diversas excursões para a Expointer especialmente para acompanhar a premiação, o que nos motiva a manter o prêmio, porque ele também é um incentivo ao produtor. Eu diria que o prêmio reflete bem o cenário da pecuária de leite gaúcha e impulsiona o setor rumo a uma produção cada vez mais sustentável, competitiva e eficiente”, diz Palharini.

SEGREDO É BOA GENÉTICA E COMIDA PARA OS ANIMAIS

Para André Ritter (na foto com os pais Arnoldo e Maria Lurdes), genética e boa comida para os animais são questões fundamentais

“A Granja Ritter é um exemplo de sucesso da agricultura familiar no sistema de produção de leite e na sua evolução a partir da sucessão, quando um jovem dá continuidade à atividade dos pais”. É dessa forma que o assistente técnico regional de Sistemas de Produção Animal da Emater/RS-Ascar, Oldemar Weiller, define a propriedade classificada como a melhor referência na categoria Sistemas de Semiconfinamento ou Confinamento.

De fato, a trajetória da propriedade demonstra que suas bases foram solidamente construídas pelo patriarca da família, Arnoldo Ritter, pai de André Ritter, atualmente à frente dos negócios. “Meu pai começou há mais de 40 anos, quando o leite era só um complemento na propriedade, mas fui criado no meio das vacas e me lembro de quando foi instalada nossa primeira ordenha mecânica”, conta.

Em 2006, após se formar como técnico em agropecuária, trabalhou um período com a venda de produtos agropecuários, mas decidiu voltar para casa e encarar a produção de leite na propriedade, que tem apenas 23 hectares, e que à época ainda explorava o sistema a pasto.

“Meu pai tinha 12 vacas e produzia entre 250 e 300 litros/dia. Coloquei como meta melhorar a estrutura, que era bem simples, tudo de madeira, e chegar a 30 vacas. Quando chegamos a 700, 800 litros/dia, a meta passou a ser 1.000 litros/dia. Por onze anos, trabalhamos nesse sistema a pasto, mas, em 2017, partimos para o compost barn e, em janeiro de 2018, confinamos as vacas”, resume.

André conta que antes teve que convencer o pai a fazer o investimento, mas, a partir do confinamento, as surpresas foram acontecendo. “Saímos de uma média de 25 litros/dia e, com esses mesmos animais, chegamos a 40 litros. Em agosto de 2018, partimos para a terceira ordenha e chegamos a 44 litros de média.”

Oldemar Wieller

A razão de ter evoluído a ponto de se tornar a melhor referência na sua categoria se deve basicamente a dois pontos. “A primeira é a genética, porque sem genética não se vai a lugar nenhum; a segunda é ter boa comida para os animais. Hoje estamos com três ordenhas, fazemos cinco tratos por dia e estamos o tempo todo em volta das vacas colocando comida fresca. O produtor às vezes acha que é só fazer o galpão e jogar as vacas lá dentro que vai dar certo. Tem que acompanhar de perto, mais do que a pasto.”

Assistência – Embora hoje seja praticamente autossuficiente em termos de assistência técnica e manejo, a Granja Ritter sempre teve o apoio dos extensionistas da Emater/RS-Ascar, conforme conta o médico veterinário Oldemar Weiller.

“Ele vem de um sistema a pasto, período em que a Emater foi muito relevante, ajudando na implantação das pastagens perenes e orientando na adoção do pastoreio rotativo. Se hoje eles são praticamente autossuficientes, pode ter certeza que, para chegar a isso, tiveram que percorrer um longo caminho, porque isso não acontece de uma hora para a outra”, resume.

A propriedade também é apontada por Weiller como um exemplo de sucessão familiar bem sucedida na cadeia do leite. “Muito se fala da sucessão e seus gargalos, como a falta de um projeto da família muitas vezes, e a dificuldade de encontrar jovens com aptidão. Mas, no caso deles, acho que deu tudo certo.”

Granja Ritter

Área total: 21,5 he
Rebanho total: 130 animais (raça Holandesa)
Vacas em lactação: 60
Produção hectare/ano: 42 mil litros
Produção/dia: 2.400 a 2.500 litros
Média/dia/vaca: 40 litros

APOSTA NO CONHECIMENTO E NA PROFISSIONALIZAÇÃO

O que caracteriza a Estância das Pedras – pelo segundo ano, consagrada na categoria Produção de Leite à Base de Pasto – é a valorização do conhecimento, colocando em prática os fundamentos recebidos através da assistência técnica e ou da troca de experiência e atividades fora da propriedade, ou mesmo nas redes sociais, além do foco e profissionalização na produção de leite.

Para Gabriel Lorenzon, premiação é uma certificação das boas práticas na propriedade

“Tem que estar atento para exercer a atividade como profissão de fato e eleger prioridades. Não adianta querer fazer diversas atividades ao mesmo tempo e não conseguir desempenhar bem nenhuma delas. Há um bom tempo, a gente já fez essa opção”, diz Gabriel Lorenzon, que divide 100% das tarefas da propriedade com a esposa Fabiana Lorenzon, além dos filhos Matias e Artur, que também acabam ajudando em algumas situações.

O casal ficou uma temporada de 11 anos fora, quando Lorenzon atuou como dirigente e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais local e se elegeu vereador em Água Santa por um mandato, voltando à fazenda para fazer a sucessão familiar, pois os pais, Paulo e Marileda, estavam se aposentando.

De início, Lorenzon fez algumas mudanças e investiu principalmente em estrutura e no melhoramento genético do rebanho. Levou alguns “tombos” com a aquisição de animais de terceiros, mas “virou a chave” e decidiu criar seus próprios animais. “Escolhemos as melhores vacas, através de controle leiteiro, apostamos na boa genética e fomos felizes. Hoje, nosso rebanho é quase meio a meio entre vacas e terneiras”, afirma.

Também apostou forte na qualidade do solo. “Fizemos análise, correção e sempre buscamos um manejo adequado. Deu certo e o resultado veio”. Neste ano, o pastejo, que antes era rotacionado, passou a ser rotatínuo, opção nova na qual se diminui o número de piquetes e amplia sua área para abrigar o gado por mais tempo. “Dá menos trabalho, pois é menos cerca para manter”, afirma Lorenzon.

A opção pelo confinamento pode ser o passo seguinte, mas, por enquanto, a opção é continuar no sistema a pasto. “Colocar o compost ou freestall é uma avaliação que a gente vai ter que fazer mais adiante”, diz o produtor. Quanto ao prêmio, segundo ele, é “uma certificação” de que as coisas estão sendo feitas da forma correta na sua propriedade.

Diógenes Fracasso

Incentivo – “Não é uma grande propriedade, mas investe em qualidade e no manejo e bem-estar animal e, quando se faz bem esse trabalho, envolvendo a família e cuidando bem dos animais e da alimentação, a resposta certamente vem. Essa é a equação do sucesso deles”, resume o extensionista Diógenes Fracasso, quando fala da Estância das Pedras.

Além disso, outra vantagem da propriedade é ter boa disponibilidade de pastagens perenes. “Isso faz a diferença e, no caso dele, como o sistema é a pasto, a pastagem perene dá um lastro maior de segurança de alimento garantido para os animais. Quer dizer, não falta comida”, afirma.

O extensionista diz ainda que Lorenzon é “uma pessoa visionária”, numa referência ao fato de ele ser um dos poucos a utilizar insumos biológicos na propriedade, fato que ainda é raro na região. “Ele é pioneiro e tem incentivado outros produtores a usar”, diz.

Fracasso trabalha na unidade da Emater/RS-Ascar, de Água Santa, e, segundo ele, a assistência técnica da Emater é sempre um grande diferencial e tem fundamental importância para que essas propriedades tenham sucesso. “O que a gente faz é incentivar os produtores para que consigam perceber as coisas bem além da propriedade.”

ESTÂNCIA DAS PEDRAS

Área total: 24 hectares
Área utilizada para a produção de leite: 10 hectares
Rebanho total/raça: 42 animais – Holandês
Vacas em lactação: 20 vacas
Produção hectare/ano 2022: 18 mil litros
Produção/dia: 500 litros
Média/dia/vaca: 30 litros

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