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Para o sucesso reprodutivo, é importante centralizar a energia e o foco das ações em poucos problemas, ou seja, naqueles representativos e que abranjam todos os aspectos da reprodução

REPRODUÇÃO

Principais problemas que diminuem a

eficiência reprodutiva das vacas leiteiras

A reprodução é, talvez, o setor de maior expressividade quando analisamos o impacto no sistema de produção como um todo, seja ele a curto, médio ou longo prazos

Bruno Marinho Mendonça Guimarães*

Quando pensamos na eficiência de uma fazenda leiteira, automaticamente nos lembramos de ações rotineiras realizadas nos setores de reprodução, nutrição, sanidade, etc., que, em conjunto, afetam diretamente o resultado da propriedade. Ao observar e analisar os números de fazendas eficientes, ou seja, daquelas que produzem com boa margem de crescimento e retorno da atividade, podemos constatar grande nível de acerto nessas ações que refletem na eficiência geral do negócio.

No entanto, para se chegar a um nível considerável de eficiência é necessário percorrer constantemente caminhos que contenham uma série infindável de variáveis que interferem no resultado. Entender o sistema como um todo, realizar o diagnóstico da propriedade para identificar os principais problemas e colocar em prática propostas de melhoria tendem a ser um excelente recurso para clarear esses caminhos e amenizar as variáveis.

Alimentar corretamente as vacas e prevenir a ocorrência de doenças contribui tanto para a taxa de serviço quanto para a taxa de concepção

Dentre os setores que compõem uma fazenda leiteira, talvez a reprodução seja o de maior expressividade em termos gerais quando analisamos o impacto no sistema de produção como um todo, seja ele a curto, médio ou longo prazos. Entretanto, isso não significa que a reprodução caminhe sozinha. Ela é altamente dependente dos outros setores, como nutrição, sanidade, recria, genética, produção de comida e mão de obra, dentre outros.

Quantificando os problemas – Quais são as possibilidades de problemas relacionados à reprodução em uma fazenda leiteira? Você é capaz de quantificá-las? Seriam 5, 10, 15 ou até mesmo 50 possibilidades? Ou, quem sabe, até mais? Há aqueles que dizem que os problemas relacionados à reprodução são infinitos!

De fato, não está errado quem pensa que são infinitas as possibilidades de problemas, pois tudo o que envolve a rotina de uma fazenda de leite pode interferir na reprodução dos animais, literalmente tudo. Falta de comida, deficiência nutricional, volumoso de baixa qualidade, estresse térmico, doença, carrapato, ausência de rotina, entre outros problemas. Até mesmo se o responsável pelo manejo dormir mal ou não estiver bem, isso afeta a reprodução das vacas!

No entanto, há de se concordar que, se trabalharmos com intermináveis problemas, a chance de conseguirmos alinhar a reprodução do rebanho de forma notável é mínima ou praticamente nula. Devido a isso, para que haja sucesso reprodutivo, torna-se importante centralizarmos a energia e o foco das ações em poucos problemas, desde que eles sejam representativos e abranjam todos os aspectos da reprodução.

A REPRODUÇÃO É ALTAMENTE DEPENDENTE DOS OUTROS SETORES, COMO NUTRIÇÃO, SANIDADE, RECRIA, GENÉTICA, PRODUÇÃO DE COMIDA E MÃO DE OBRA, DENTRE OUTROS

Água, sombra, vento e tempo são os quatro pilares essenciais para a execução de um sistema adequado de resfriamento térmico dos animais

Respondendo então à pergunta realizada no início deste tópico: “Quantas são as possibilidades de problemas relacionados à reprodução em uma fazenda leiteira?” Resposta: 3! Isso mesmo, apenas três possibilidades de problemas!

Mas quais são eles? Conforme mencionado, são três as possibilidades de problemas reprodutivos em vacas leiteiras: 1 – Taxa de serviço: as vacas não estão sendo servidas (inseminadas, cobertas, etc.); 2 – Taxa de concepção: as vacas não estão ficando gestantes; 3 – Perda de prenhez: as vacas não estão mantendo a gestação. Quais os motivos específicos para cada uma dessas possibilidades? São os seguintes:

Problema 1 – Taxa de serviço

A taxa de serviço consiste em um indicador amplamente utilizado para acompanhar e monitorar a reprodução nas fazendas leiteiras. Dos pontos que interferem em seu sucesso, os principais são as condições anovulatórias (anestro), a insuficiência na detecção de cio e a ausência de rotina e de programas reprodutivos na fazenda.

A retomada da ciclicidade ovariana após o parto ocorre de forma gradual, estando bastante relacionada com o status metabólico do animal. Vacas que passam por um período de transição desafiador (três semanas antes do parto até três semanas após o parto), por exemplo, geralmente apresentam maior queda no consumo alimentar e, como consequência, necessitam mobilizar maior quantidade de reserva corporal para tentar atender às exigências nutricionais do organismo, desenvolvendo um balanço energético negativo mais acentuado.

Esses eventos contribuem para que parte da energia que seria utilizada para reprodução seja direcionada e priorizada para a manutenção do animal e para a produção de leite, reduzindo a atividade dos ovários e a expressão de cio. Portanto, ajustar os manejos e reduzir ao máximo possível os desafios no período de transição são medidas essenciais para a reprodução das vacas no pós-parto.

Além da ciclicidade ovariana, a maioria das propriedades não detecta os episódios de cio com eficiência. Esse fato pode estar relacionado ao nível de produção de leite dos animais, pois as vacas modernas de alta produção normalmente expressam cios de menor duração e intensidade e, além disso, boa parte das atividades de estro ocorre no período noturno, momento em que geralmente não há colaboradores na fazenda.

Entretanto, grande parte das falhas na detecção de cio acontecem devido à ausência de rotinas e programas reprodutivos. É bastante comum nos depararmos com fazendas que acreditam que a observação de cio somente nos instantes em que as vacas são guiadas dos lotes para a ordenha já é suficiente e que isso consiste em uma rotina reprodutiva. Ledo engano.

As rotinas reprodutivas devem ser elaboradas e seguidas de forma sistemática e fiel. Devem ser definidos dias específicos para que os manejos predeterminados ocorram, por exemplo, o dia para início e continuação dos protocolos de inseminação, observação de cio todos os dias com auxílio de ferramentas (bastão de cera, raspadinha, etc.), dentre outros. Estabelecer rotinas reprodutivas é sinônimo de organização e padronização do serviço, fornecendo melhores condições para a otimização da reprodução e visualização do cenário real do rebanho por intermédio de indicadores coerentes e que façam sentido.


Problema 2 – Taxa de concepção

Os fatores que influenciam na taxa de concepção são mais complexos, pois, conforme já mencionado, tudo, de forma geral na fazenda, interfere na fertilidade das vacas. Podemos mencionar alguns dos principais fatores que influenciam bastante na taxa de concepção: doenças, condição anovulatória, nutrição, estresse térmico e técnica de inseminação.

Doenças, condição anovulatória e nutrição estão intimamente relacionados. Vacas que possuem consumo de matéria seca abaixo da necessidade nutricional e que, além disso, consomem dieta desbalanceada são mais propensas a desenvolverem doenças, tanto metabólicas quanto infecciosas. Vacas malnutridas e doentes reduzem consideravelmente a condição ovariana e a fertilidade e, consequentemente, possuem menor taxa de concepção. Portanto, a lição é clara: alimentar corretamente as vacas e prevenir a ocorrência de doenças contribui tanto para a taxa de serviço quanto para a taxa de concepção.

Vários estudos científicos objetivam quantificar qual o impacto do estresse térmico na reprodução de vacas leiteiras. De forma majoritária e até mesmo unânime, os resultados comprovam que os animais submetidos ao estresse térmico possuem pior desempenho reprodutivo quando comparados àqueles criados em situações de conforto térmico. A elevação da temperatura corporal das vacas exige a ativação de processos fisiológicos de termorregulação que alteram as rotas de equilíbrio do organismo, prejudicando a concepção. Água, sombra, vento e tempo são os quatro pilares essenciais para a execução de um sistema adequado de resfriamento térmico dos animais.

Dentre os fatores citados, a técnica de inseminação tende a ser o que é mais bem compreendido. Logicamente, quando os passos da inseminação não são seguidos corretamente, a reprodução é afetada. Armazenamento e manejo do sêmen, temperatura de descongelamento, montagem dos equipamentos, higiene do processo e deposição correta do sêmen são alguns dos pontos que influenciam diretamente no resultado positivo da técnica. Realizar auditorias periódicas pode ser uma boa estratégia para cercar surpresas negativas com este fator.


Problema 3 – Perda de prenhez

O sucesso reprodutivo de um rebanho não consiste apenas em servir adequadamente as vacas de modo que elas obtenham boa concepção. É necessário que as gestações sejam mantidas para efetivamente gerar um parto. Logo, as perdas de prenhez devem ser baixas.

De forma geral, a perda de prenhez está estreitamente relacionada com a taxa de concepção, sendo que grande parte dos problemas com baixa taxa de concepção envolvem uma alta perda de prenhez. Ou seja, é muito comum que fazendas com baixa taxa de concepção possuam alta taxa de perda de prenhez antes do primeiro diagnóstico de gestação.

Logo, os fatores que influenciam na taxa de concepção e na perda de prenhez se assemelham bastante. Em vista disso, além dos fatores já citados no tópico sobre taxa de concepção, a técnica pela qual a vaca está emprenhando também possui relação com a perda gestacional (fertilização in vitro – FIV, transferência de embrião – TE, inseminação artificial – IA, etc.). Como exemplo, animais que emprenham por FIV geralmente possuem uma perda de prenhez superior aos animais que emprenham por IA.

Considerações – São inúmeros os problemas que influenciam na reprodução dos rebanhos leiteiros. Entretanto, esses problemas podem ser resumidos em basicamente três: taxa de serviço, taxa de concepção e perda de prenhez. Realizar o diagnóstico situacional da reprodução do rebanho e identificar em qual desses pontos se encontra o problema reprodutivo da fazenda é essencial. Ter foco no direcionamento das ações de melhoria possibilita que a otimização da reprodução seja certeira e mais efetiva.

*Bruno Marinho Mendonça Guimarães é médico veterinário e técnico da Equipe Leite do Grupo Rehagro

Bruno Marinho Mendonça Guimarães

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