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LEITE EM NÚMEROS

Glauco Rodrigues Carvalho

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

Produção brasileira de leite registra queda de 7% em dois anos

Uma nova dinâmica vai surgindo na pecuária nacional. Grandes projetos em andamento proporcionam aumento de escala e de produtividade

Em 2022, a produção de leite inspecionado recuou pelo segundo ano consecutivo. Depois de atingir um recorde histórico em 2020, com volume de 25,641 bilhões de litros, a produção encolheu 7% em dois anos, o que equivaleu a um volume de 1,787 bilhão de litros a menos adquiridos pelos laticínios brasileiros no ano. A produção registrada em 2022 ficou próxima do volume obtido em 2013, ou seja, nove anos atrás (gráfico). Esses resultados foram divulgados pelo IBGE em sua Pesquisa Trimestral do Leite.

A queda registrada foi reflexo da piora na rentabilidade do produtor, sobretudo no fim de 2021 e início de 2022. Mas o fato é que a produção de 2022 foi inferior à de 2021 em todos os meses. O setor vem convivendo com mudanças estruturais na produção, com saída de alguns produtores da atividade e maior investimento por parte de outros. Observa-se uma dinâmica de consolidação em curso na produção de leite, exigindo maiores investimentos, uma visão de negócios e um volume maior de produção por fazenda. Além disso, o custo de oportunidade da terra vem subindo, com opções de arrendamento e venda para produtores de grãos pressionando a pecuária.

Comparando 2020 – ano em que a produção atingiu a máxima histórica – com 2022, houve recuo em 18 das 26 unidades da Federação. As maiores quedas, em valores absolutos, foram observadas em Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul, este último afetado por seca no período analisado. No grupo dos TOP 10 Estados na produção de leite, responsáveis por 92% do leite brasileiro em 2022, também se observam movimentos distintos e interessantes. Sergipe, que em 2020 estava na 12ª posição, chegou em 2022 na 10ª posição entre os principais produtores do Brasil. Não apenas a melhoria no ranking nacional, mas merece destaque também que a produção sergipana cresceu 31,2% nesse período.

Outro destaque foi Santa Catarina, o único Estado a apresentar crescimento entre os cinco maiores produtores do País, mostrando que a maior propensão à gestão dos produtores, intensificação da atividade e organização da cadeia produtiva são importantes pilares para o crescimento da atividade leiteira.

Ainda que a produção nacional tenha diminuído entre 2020 e 2022, o volume aumentou expressivamente em Sergipe e Santa Catarina. Outros Estados do Nordeste, como Ceará, Pernambuco, Alagoas e Paraíba, também aumentaram a produção de leite entre 2020 e 2022. Mesmo que o volume de produção desses Estados nordestinos seja pequeno, apenas 5% do leite brasileiro, vale salientar que o contínuo crescimento é importante na região, que tradicionalmente é importadora de lácteos.

O crescimento recente do Nordeste tem chamado a atenção, destoando na média nacional. É fato que o clima foi favorável na região nos últimos anos, mas também é possível observar que tem ocorrido um processo acelerado de tecnificação da atividade, com reflexos na produtividade dos animais e das fazendas. Por outro lado, é notória também a dimensão das quedas observadas em tradicionais produtores, como Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Rondônia (ver mapas).

Uma nova dinâmica vai surgindo na pecuária nacional. Por um lado, grandes projetos em andamento proporcionam aumento de escala e de produtividade. De outro lado, há uma parcela expressiva de produtores que, individualmente, produzem pouco e exibem padrão tecnológico e de produtividade ainda modestos, mas influenciam no volume total nacional. Tudo isso ilustra a dinâmica atual da produção leiteira nacional, onde importantes transformações espaciais e tecnológicas estão construindo a nova realidade da produção leiteira no território nacional.

Coautores: Samuel José de Magalhães Oliveira e Walter Coelho P. de Magalhães Júnior, da Embrapa Gado de Leite

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