LEITE EM NÚMEROS

Denis Teixeira da Rocha

Analista da Embrapa Gado de Leite

PRODUÇÃO BRASILEIRA DE LEITE

Uma análise do País e dos seus municípios

Os dados mostram que a atividade leiteira nacional vem evoluindo a cada ano, com destaque para os muitos exemplos de sucesso demonstrados pelos dados de produtividade animal

O IBGE divulgou recentemente os resultados da Pesquisa Pecuária Municipal referentes ao ano de 2019. Com dados de produção de leite, rebanho de vacas ordenhadas e produtividade, a análise permite traçar um extenso diagnóstico da atividade leiteira no Brasil, partindo de uma visão mais macro, seja nacional ou regional, até chegar num olhar detalhado, em nível de mesorregião, microrregião ou município.

No ano passado, o País registrou novo crescimento da produção, consolidando a retomada iniciada em 2018, após três anos de quedas sucessivas (2015 a 2017). Em 2019, a produção total chegou a 34,8 bilhões de litros, o segundo maior volume da série histórica, atrás apenas de 2014, quando foram produzidos 35,1 bilhões de litros.

O Sudeste voltou a registrar a maior captação (11,9 bilhões de litros), superando a Região Sul, que desde 2014 liderava a estatística. Juntas, essas duas regiões foram responsáveis pela maior parte da produção nacional, com o Sudeste contribuindo com 34,3% e o Sul com 33,4% do total.

Vale destacar o crescimento de 8,4% da produção nordestina, o maior porcentual dentre as regiões brasileiras, consolidando-a no terceiro lugar nacional, à frente do Centro-Oeste e do Norte. Em nível estadual, Minas Gerais segue como o maior produtor do Brasil, com volume superior à soma das produções do Paraná e do Rio Grande do Sul, segundo e terceiro colocados, respectivamente. Completam o Top 5 Goiás e Santa Catarina. Estes cinco Estados produziram 70% do leite brasileiro no ano passado.

Neste último ano, a produção mineira cresceu 5,7%, o que representa mais de 508 milhões de litros, sendo responsável por mais da metade do crescimento da produção nacional, que aumentou em 928 milhões de litros.

Dentre as mesorregiões, o Noroeste Rio-Grandense (RS) lidera a produção nacional, com 2,8 bilhões de litros, seguido pelo Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (MG) e Oeste Catarinense (SC), que também apresentaram produções superiores aos 2 bilhões de litros por ano (Tabela 1). O volume captado pelas dez mesorregiões de maior produção foi de 15,1 bilhões de litros, perfazendo 43% do total nacional.

Já nos municípios, Castro, no Paraná, continua fazendo jus ao título de capital nacional do leite, com volume anual de 280 milhões de litros, seguido por Patos de Minas (MG), Carambeí (PR), Patrocínio (MG), Coromandel (MG), Pompéu (MG), Lagoa Formosa (MG), Orizona (GO), Prata (MG) e Carmo do Paranaíba (MG), todos com mais de 100 milhões de litros em 2019. Entre os 100 municípios maiores produtores, 40 estão no Sudeste; 29 no Sul; 12 no Nordeste; 14 no Centro-Oeste e cinco no Norte. Juntos, somam 7,1 bilhões de litros (20,4% da produção nacional).

O rebanho de vacas ordenhadas continuou a queda iniciada em 2015, mas em porcentual bem inferior ao dos anos anteriores. Em 2019, foram contabilizadas 16,3 milhões de vacas, redução de 0,5% ou quase 82 mil cabeças em relação a 2018. As maiores quedas foram registradas em três Estados importantes na produção: Paraná (-50.759), Rio Grande do Sul (-46.899) e Goiás (-44.643).

O aumento da produção junto com a redução do rebanho de vacas resultou em novo aumento na produtividade animal, que atingiu a marca de 2.142 litros/vaca em 2019. Entretanto, esta média variou muito pelo País. Entre as regiões, o Sul foi o líder, com 3.546 litros/vaca, seguido pelo Sudeste, com 2.522 litros/vaca. Já nas demais regiões este desempenho ficou bem abaixo: 1.655 litros no Centro- Oeste, 1.405 no Nordeste e apenas 981 no Norte. Na análise por Estados, destaque novamente para o Sul, com Santa Catarina liderando esta estatística, com 3.817 litros/vaca, seguido por Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. Também destacam-se os Estados nordestinos de Alagoas, Sergipe e Pernambuco, que completam a lista dos que superaram a média nacional (Figura 1).

Quando se aprofunda a análise para mesorregiões e municípios, percebe-se a expressiva evolução da atividade leiteira pelo Brasil, com patamares equivalentes aos dos países mais competitivos do mundo, em termos tecnológicos. O Centro Oriental Paranaense (PR) lidera com folga a estatística, com 6.741 litros/vaca, seguido do Oeste Catarinense (SC), Oeste Paranaense (PR), Noroeste Rio-Grandense (RS) e Nordeste Rio-Grandense (RS), todas com produtividades próximas de 4.000 litros/vaca.

Finalmente, no caso dos municípios, esses números são ainda maiores: em 1.759 municípios a produtividade superou a média nacional, sendo que em 135 a produtividade ultrapassou os 5 mil litros/vaca. A paulista Araras lidera nesse indicador, com 13.171 litros/vaca, seguida de Carambeí (PR), com 9.023 litros; Cachoeira Dourada (MG), com 8.834 litros; Castro (PR), com 8.023 litros, e Arapoti (PR), com 7.300 litros.

Portanto, os dados da Pesquisa Pecuária Municipal mostraram que a atividade leiteira nacional vem evoluindo a cada ano, apesar da heterogeneidade no País, que reduz a média nacional. Entretanto, é importante destacar que o Brasil conta com muitos exemplos de sucesso demonstrados pelos dados de produtividade animal – indicador do nível de tecnologia praticado pelos produtores – que são compatíveis com os dos países mais competitivos mundialmente.

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Coautores: Glauco Rodrigues Carvalho – pesquisador da Embrapa Gado de Leite; João Cesar de Resende – pesquisador da Embrapa Gado de Leite

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