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LEITE EM NÚMEROS

Denis Teixeira da Rocha

Chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Gado de Leite

Produção de leite brasileira registra queda em 2021, puxada pelo fraco desempenho do segundo semestre

Os mais prejudicados nessa conjuntura são os pecuaristas com baixo volume de produção, que são a imensa maioria do contingente de produtores de leite espalhados por todo o Brasil

Em 2021, a produção de leite inspecionado caiu após quatro anos consecutivos de crescimento. Depois de atingir um recorde histórico em 2020, com volume de 25,641 bilhões de litros, a produção recuou 2,4% no ano passado, o que equivaleu a um volume de 620 milhões de litros a menos adquiridos pelos laticínios brasileiros no ano (Figura 1), com a produção retomando o volume processado em 2019. Esses resultados, ainda preliminares, foram divulgados pelo IBGE em sua Pesquisa Trimestral do Leite.

A queda registrada foi reflexo do fraco desempenho da produção no segundo semestre de 2021. Mesmo com o início da pandemia no primeiro trimestre de 2020, a produção de leite inspecionado continuou crescendo, com alta de 2,2% no primeiro semestre e de 2,8% no segundo semestre de 2020 em relação a igual período do ano anterior. Esse resultado foi reflexo da boa rentabilidade registrada no setor naquele ano, em função da demanda aquecida, que resultou em aumento dos preços dos lácteos ao longo da cadeia.

Em 2021, a produção perdeu força, mas ainda continuou sua trajetória de crescimento, com alta de 0,7% no primeiro semestre. Já no segundo, o cenário foi mais complicado e a produção recuou 5,3% em relação ao segundo semestre de 2020. Essa foi a maior queda semestral registrada desde o primeiro semestre de 2016, quando a produção caiu 6%, e a segunda maior nos últimos dez anos (Figura 2).

Com o menor auxílio financeiro do governo para as famílias de baixa renda, o elevado desemprego e a inflação em alta, o cenário econômico ficou mais complicado em 2021. Essa conjunção de fatores prejudicou a renda das famílias, o consumo de lácteos e, consequentemente, os repasses de preços ao longo da cadeia. Ao mesmo tempo, os custos de produção do leite, que já estavam crescendo em 2020, seguiram em elevação. Com os preços do leite em desaceleração e custos de produção em alta, houve redução nas margens de rentabilidade da atividade, situação que desestimulou os produtores e se refletiu na produção de leite nas fazendas.

Nesse cenário, o que se tem observado é que muitos produtores têm deixado a atividade, enquanto outros estão reduzindo a produção para tentar minimizar os efeitos deste momento de baixa rentabilidade. Por outro lado, existem também produtores mais bem posicionados em termos de rentabilidade e que seguem elevando a produção. De forma geral, os mais prejudicados nessa conjuntura são aqueles com baixo volume de produção, que são a imensa maioria do contingente de produtores de leite espalhados por todo o Brasil, que possuem baixa bonificação por volume e rentabilidade comprometida.

Esse estrato de produção enfrenta piores condições para compra de insumos e contratação de serviços, além de ter menor poder de negociação na venda do seu leite, com menor bonificação pelo volume produzido. Mas é um grupo que representa muito na oferta de leite nacional. Analisando os dados do Censo Agropecuário do Brasil 2017-2018, o mais recente, e avaliando aqueles produtores que venderam leite, tem-se que 82% da produção brasileira foi proveniente de estabelecimentos com menos de mil litros por dia. Isso ajuda a explicar a forte retração na oferta de leite no segundo semestre de 2021, já que o perfil de produtores mais prejudicados em termos de rentabilidade é também aquele com maior participação na produção brasileira.

Coautor: Glauco Rodrigues Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite

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