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Segundo especialista da Embrapa Gado de Leite, as silagens de capins tropicais, embora de menor valor nutritivo, levam a vantagem de eliminar os custos com o plantio anual

NUTRIÇÃO

Produção de silagens de capins tropicais ganha cada vez mais espaço

Especialistas em nutrição animal apontam que técnica é uma interessante estratégia para reduzir custos, dispensando o plantio a cada ano, como ocorre com as forragens mais comuns (milho, sorgo), e oferece menores riscos às variações climáticas, dentre outros fatores que impactam a produtividade da silagem convencional

Erick Henrique

A conservação dos capins tropicais na forma de silagem para uso em sistemas de produção de leite ou carne tem aumentado muito nos últimos anos. Propriedades que não utilizavam esse tipo de silagem começaram a incorporá-la em seu sistema de produção e aquelas que já adotavam essa tecnologia vêm aumentando a quantidade produzida.

Segundo especialistas em nutrição animal, as culturas do milho e do sorgo são amplamente difundidas para essa técnica de conservação, porém a silagem de capim (como Mombaça, Tanzânia, Brachiaria, Tobiatã e capim-elefante) traz benefícios devido à produtividade elevada de matéria seca (MS) por hectare que apresenta quando bem manejada.

Jackson Silva e Oliveira

“Todo produtor de leite ou carne que mantém seu rebanho em pastagens tem que se preocupar em ter uma reserva de alimento volumoso para a época de escassez de forragem. A maneira mais comum de fazer isso é conservando o volumoso na forma de silagem. No Brasil, as silagens mais comuns são de milho, sorgo e capim. As silagens de capins tropicais, embora de menor valor nutritivo, apresentam algumas vantagens relevantes. Primeiro, devido ao menor custo, já que, por ser uma cultura perene, dispensa o trabalho e as despesas com o plantio a cada ano”, explica Jackson Silva e Oliveira, agrônomo, zootecnista, doutor em nutrição animal e pesquisador da Embrapa Gado de Leite.

Outra vantagem, conforme o especialista, dá-se pela menor exposição aos riscos decorrentes das variações climáticas. “Enquanto as lavouras de milho podem ter sua produtividade prejudicada com a ocorrência de veranicos no pós-plantio ou na época de florescimento, os capins tropicais não são tão afetados por estes eventos. Nessas situações, eles voltam à produtividade normal após o retorno das chuvas. Em algumas regiões, além dos fatores já citados, o ataque de maritacas às lavouras de milho e sorgo, especialmente na safrinha, também é motivo para o aumento do uso da silagem de capim”, destaca o pesquisador.

Capacidade de produzir proteína e energia por área de cultivo é maior no BRS Capiaçu

Dicas de ouro – Para acertar em cheio na produção desse tipo de forrageira e fornecer um alimento de qualidade para os animais, antes de tudo, é necessário realizar o preparo do solo.

“Independentemente de onde venha o capim a ser ensilado, é importante que tanto a pastagem como a capineira sejam implantadas e, principalmente, manejadas como uma lavoura. Reposição de nutrientes com base em análises de solo periódicas, monitoramento e controle de pragas e ervas daninhas são importantes para a produtividade e valor nutritivo da forragem colhida. A irrigação e adubação orgânica, quando usadas, aumentam consideravelmente a produtividade da área. Além desses cuidados, o manejo da pastagem ou capineira deve ser planejado para que se tenha, a cada corte, forragem com fartura e qualidade”, pontua Oliveira.

Escolha das cultivares – O agrônomo explica que o objetivo principal do capim em uma área de pastagem é ser pastejado. Com base nesse objetivo, somado ao clima, tipo de solo, tipo de rebanho, sistema de pastejo que se pretende adotar etc., é que a forrageira é escolhida. Qualquer capim pode ser usado para silagem, basta que, no início das águas, quando há “sobra” de pasto, uma área seja separada e manejada com o objetivo único de produzir forragem para ensilar.

Forragem colhida no ponto certo e picada no tamanho correto facilitam a compactação

“Já no caso das capineiras, cujo objetivo principal é ser colhida para fornecimento no cocho e/ou produção de silagem, a escolha do capim é muito importante. Como o foco principal é a produtividade, a melhor indicação é de capins do gênero Pennisetum (capim-elefante), que tenham porte alto”, ressalta o especialista.

Segundo Oliveira, até alguns anos atrás, havia dúvida entre os produtores sobre qual capim-elefante plantar, já que havia diversos materiais no mercado. Hoje, já não há, para a grande maioria dos produtores, essa dúvida. “O BRS Capiaçu é, invariavelmente, o capim escolhido. Isso se deve à sua excelente produtividade e adaptabilidade em todas as regiões do país. Além dessas vantagens, a característica que o destaca dos demais capins-elefante é seu maior teor de carboidrato solúvel, que melhora sua fermentação e conservação quando ensilado”.

Outras gramíneas tropicais bastante utilizadas, sobretudo para a produção de silagem pré-secada, que tem crescido muito no período de verão, são as forrageiras do gênero Cynodon, principalmente Tifton e Jiggs. A técnica do pré-secado, oriunda dos EUA, consiste num sistema intermediário entre silagem e feno e, como o próprio nome diz, ele é pré-secado ou pré-desidratado, colhido murcho e armazenado com umidade média de 50 a 55%. No caso da silagem, armazena-se a planta com média de 65 a 75% de umidade.

Os benefícios do BRS Capiaçu – Conforme estudos da Embrapa Gado de Leite, o potencial de produção de biomassa do capim-elefante pode chegar a 50 t/ha/ano de matéria seca, superando o milho e a cana-de-açúcar.

Além disso, possui tolerância ao estresse hídrico, ou seja, é uma ótima opção para regiões com risco elevado de veranicos. O cultivo deve ser instalado em solo bem drenado, fértil e com boa profundidade, preferencialmente facilitando a mecanização e, quando possível, a irrigação. Várzeas úmidas ou sujeitas a alagamentos devem ser evitadas.

Se o pH do solo não estiver corrigido, deve ser feita a calagem de acordo com a análise de solo. O preparo deve ser convencional e o plantio em sulcos de 20 a 30 cm de profundidade, com espaçamento de 0,8 m a 1,20 m e, no mínimo, 1 m para a colheita mecanizada. A adubação de base deve ser feita de acordo com a análise de solo e as recomendações.

A produção de biomassa pode chegar a 100 t/ha/corte de massa verde e até 300 t/ha/ano em três cortes anuais. Esse potencial pode superar em torno de três vezes a cultura do milho e sorgo.

Para servir como capineira, os cortes da forragem devem ocorrer entre 50 e 70 dias de crescimento. Com cerca de 50 dias de crescimento, atingindo 2,4 m de altura, pode produzir cerca de 54,3 t/ha de matéria verde (MV) e 5,1 t/ha de matéria seca (MS). Para produção de silagem, a idade de corte deve ser de 90 a 110 dias de crescimento, com a planta mais madura e menor conteúdo de água, ter cerca de 3,6 a 4,1 m de altura, podendo produzir cerca de 108,5 a 112,2 t/ha/corte de matéria verde e de 17,5 a 22,5 t/ha de matéria seca.

Embora o teor de proteína bruta (PB) da silagem de BRS Capiaçu seja menor que o da silagem de milho e sorgo e superior à silagem da cana-de-açúcar e os teores de energia (NDT) sejam menores que os das demais silagens, deve-se observar que a capacidade de produzir proteína e energia por área de cultivo é maior no BRS Capiaçu, devido ao maior potencial produtivo.

Ponto de colheita – Quanto ao ponto de colheita das gramíneas tropicais, o pesquisador da Embrapa diz que, se o objetivo é colher, picar e colocar o capim no silo, sem qualquer processamento adicional ou uso de aditivo, o capim pode ser ensilado com 22-23% de MS. “Com essa umidade, a produção de efluente (chorume) é muito baixa e as perdas são mínimas. O tamanho médio da partícula picada deve ficar entre 1 e 2 cm e o corte deve ser perfeito. Para isso, basta seguir as orientações que constam no manual da ensiladeira referentes à regulagem do corte e afiação das facas. Forragem colhida no ponto certo e picadas no tamanho correto facilitam a compactação”.

Oliveira acrescenta que, para colheita de áreas vedadas do pasto ou nas capineiras, as ensiladeiras devem ser de área total (AT). Nas capineiras de BRS Capiaçu, mesmo sendo plantadas em linha, as ensiladeiras (AT) são as mais eficientes. Como o volume de forragem por metro linear é muito grande, a ensiladeira deve ser tracionada lentamente, usando tratores equipados com embreagem reduzida.

Especialista chama a atenção para dosagem, diluição e composição dos inoculantes

De acordo com o gerente técnico da Lallemand Animal Nutrition, o engenheiro agrônomo Mateus Castilho Santos, a importância do uso de inoculantes microbianos em silagens de capins tropicais decorre do fato de essas plantas normalmente apresentarem baixo teor de matéria seca (menor que 25%) no momento da ensilagem.

Mateus Castilho Santos

“O alto teor de umidade favorece o desenvolvimento de microrganismos que deterioram a silagem e os inoculantes microbianos são utilizados com o objetivo de inibir o crescimento desses microrganismos indesejáveis. Tudo isso para que, no final do processo, a silagem tenha uma boa qualidade nutricional, com baixas perdas de matéria seca”.

O especialista informa também que a quantidade de inoculante a ser aplicada deve ser definida segundo as recomendações descritas no rótulo do produto em uso. Por exemplo: um sachê de 100 gramas que é recomendado para 50 toneladas deve ser utilizado na dosagem de 2 gramas/tonelada de material ensilado.

Com relação à maneira correta de diluir o inoculante, Santos diz que, para fazer uma diluição bem-feita, recomenda-se realizar uma pré-diluição do inoculante em 5 ou 10 litros de água potável, misturar bem e depois completar com o volume final da solução, seguindo sempre as recomendações descritas no rótulo.

“O produtor também deve observar sempre o rótulo do produto e verificar a composição em termos de espécies de bactérias e dosagem de inoculação. Bactérias homoláticas das espécies Pediococcus acidilactici e L. plantarum são mais indicadas para capins ensilados com alto teor de umidade; no caso de pré-secado, recomenda-se o uso da combinação de bactérias homo e heteroláticas (Pediococcus acidilactici e L. buchneri)”, destaca o técnico da Lallemand.

Com relação à dosagem, ele orienta sempre utilizar inoculantes que apresentem dosagem total de, no mínimo, 100 mil UFC (unidade formadora de colônia) por grama de silagem.

“Outro ponto importante a ser destacado é que alguns inoculantes também apresentam enzimas que auxiliam na liberação de açúcares da forragem, aumentando a taxa de fermentação da silagem e melhorando a digestibilidade da fibra. Todos esses cuidados irão contribuir para a produção de uma silagem de boa qualidade, melhorando o consumo e desempenho dos animais”, conclui.

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