Um dos fatores que justificam o aumento de produção é a expansão dos sistemas confinados, cujos produtores seguem investindo na busca de aumento de produção e ganhos de escala, com adoção da tecnologia de automação
Nos últimos dez anos a produção de leite sob inspeção passou de 20,98 bilhões para 25,53 bilhões de litros, um avanço de 4,55 bilhões de litros ou 1,98% ao ano. Nesse mesmo período, a disponibilidade interna ou consumo total aparente (produção de leite nacional mais importação menos exportação) subiu 5,27 bilhões de litros, expansão equivalente a 2,3% ao ano. Essa disponibilidade representa o volume de leite formal/inspecionado que é absorvido no País, via consumo direto ou indireto. A disponibilidade aumentou mais do que a produção graças à maior importação de lácteos em relação à exportação. Entre 2010 e 2020, na média anual, o Brasil importou 1,17 bilhão de litros de leite equivalente e exportou 187 milhões de litros.
Em 2020, o ano de início da pandemia da covid-19 no Brasil, a disponibilidade de leite aumentou 2,8%, com um volume 734,08 milhões de litros superior a 2019. Desse aumento, cerca de 70% vieram da produção interna e 30% da importação líquida de lácteos, que é a importação menos a exportação. Nossas importações cresceram 23,6% em volume, atingindo 1,34 bilhão de litros, enquanto as exportações, somente 100,65 milhões de litros. Ou seja, tivemos um volume adicional à produção doméstica de 220 milhões de litros disponibilizados para os consumidores brasileiros.
Apesar do incremento da importação, o desempenho da produção nacional foi robusto para um ano de tantas incertezas. Os dados mais recentes da Pesquisa Trimestral do Leite, do IBGE, consolidando as informações referentes à produção inspecionada em 2020, mostraram um volume recorde de 25,53 bilhões de litros produzidos no País. Alguns fatores foram importantes para esse crescimento de produção. O primeiro foi a própria rentabilidade, que melhorou em toda a cadeia produtiva, considerando a média do ano. Dessa forma, houve aumento em volume vendido e em preço médio recebido pelo produtor e pela indústria.
Um segundo fator refere-se ao crescimento de sistemas confinados no País, com forte impacto na produção média por vaca e em outros indicadores de eficiência técnica-econômica. O próprio crescimento médio da produção das Top 100 fazendas do Brasil, que foi de 10,29% sobre 2019, ilustra esse movimento. Finalmente, a medida do Ministério da Agricultura, que autorizou laticínios com o Selo de Inspeção Federal (SIF) a comprar leite de laticínios com selos de inspeção estaduais ou municipais e que teve importante papel nesse crescimento da produção formal e atenuou os gargalos de logística e distribuição enfrentados pelas indústrias lácteas no início da pandemia. Possivelmente contribuiu também com a maior formalização decorrente da queda das vendas informais (porta a porta e pequenas queijarias) prejudicadas pelo distanciamento social.
Algumas características chamam a atenção nas estatísticas de produção formal. Observando as regiões, verifica-se que Sudeste e Sul representaram, juntas, 77,1% do leite brasileiro em 2020. Em 2010, essa participação era de 73%, mostrando um processo de concentração regional. A Região Sul, apesar da seca que afetou algumas localidades, registrou o maior aumento absoluto de produção (358 milhões de litros). Os três Estados contribuíram para esse incremento. Já na Região Sudeste, o crescimento da produção recebeu forte contribuição de Minas Gerais, seguido do Espírito Santo. Os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo perderam produção, movimento também observado em Goiás e que afetou a produção total do Centro-Oeste. O Nordeste, por sua vez, registrou crescimento importante, sobretudo oriundo do leite da Bahia, enquanto o Norte teve pequena queda.
Finalmente, no caso dos Estados, os TOP 10 em produção foram responsáveis por 92,5% do volume de leite adquirido pelos laticínios sob inspeção em 2020. Essa participação é semelhante à observada em 2010, mas o ranking sofreu alterações neste período. O principal destaque é Santa Catarina, que passou de 6º para 4º maior produtor, à frente de Goiás e São Paulo. Paraná também assumiu a segunda posição nacional, superando o Rio Grande do Sul. A tendência é de que mais movimentos ocorram nos próximos anos, inclusive com um processo mais intenso de consolidação. A economia brasileira não cresce de forma sustentável e isso tem gerado pressão sobre as margens nos diversos setores, em especial o de leite e derivados, que tem forte dependência da renda doméstica. Um outro fator é a expansão dos sistemas confinados, cujos produtores seguem investindo na busca de aumento de produção e ganhos de escala. Além disso, há um processo de automação em curso e o analfabetismo digital vai aprofundar o vale da exclusão. Neste sentido, a pressão por ganhos de eficiência será cada vez maior.
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