Nas últimas décadas, a pecuária de leite brasileira foi marcada por grandes transformações, afetadas principalmente pelo caráter desafiador que a atividade exige

Por Thiago Francisco Rodrigues, zootecnista, Assessor Técnico em Pecuária Leiteira na CNA-Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

A cadeia do leite, impulsionada pela produção da década de 80, começou a ganhar novos rumos e novas formas de comercialização com a popularização do leite longa vida. Essa evolução desobrigou o consumidor de ter que se deslocar diariamente ao mercado ou padaria para adquirir o alimento que era, e ainda é, parte fundamental do café da manhã da família brasileira. Porém, o que não se imaginava na época era que o impacto desta praticidade sobre a cadeia produtiva do leite transformaria as grandes redes de supermercados nos atuais ditadores comerciais.

Diante desta nova possibilidade, o setor industrial da época se animou, novas regiões do País passaram a contar com fábricas e uma logística que permitia aos produtores de diversos municípios, antes, saturados pela produção local, expandirem a atividade leiteira. Traçando um novo paralelo com a realidade atual, este fato poderia explicar em parte a grande capa¬cidade ociosa de várias plantas industriais espalhadas pelo Brasil.

Com a chegada dos anos 90, outra revolução aconteceu: o preço pago pelo litro de leite ao produtor, que durante 40 anos foi imposto ao mercado por um sistema de tabelamento, deixou de existir. Pego de surpresa, o produtor começou a sentir o efeito do livre comércio a partir desta década, em que a indústria ditava as regras do jogo e nem sempre explicava ou justificava ao elo produtivo da cadeia os critérios utilizados para sua remuneração.

Outro agravante desta época foi a abertura comercial imposta pela implantação do Mercosul, que, combinado à estabilização econômica advinda do Plano Real, favoreceu as importações de lácteos. Deste mal o setor ainda sofre, pois em anos em que os desafios para a produção são maiores, o reflexo é sentido no desestímulo à manutenção de um quadro de crescimento impactado pelas importações. A atratividade provocada por preços e câmbio favoráveis repercute no mercado interno afetando de forma negativa o balanço comercial lácteo, com o volume de importações dominando as exportações, causando sérios danos à estruturação do setor produtivo nacional.

Retomando o relato da década de 90, outro marco desenhou uma parte importante da evolução da produção de leite brasileira, a coleta a granel. Migrar do latão para os tanques de resfriamento alterou toda a rotina na propriedade, possibilitando o uso de novas tecnologias e uma busca por melhorias nos índices produtivos. Aliados a esta nova realidade, os atuais sistemas especializados de produção de leite tinham sua concepção sinalizada.

O crescimento médio de mais de 3% ao ano na produção de leite era maior do que o crescimento da população, que girava em torno de 1,5% ao ano. Com isso, a produção per capita aumentava gerando um cenário de eventuais excessos na produção, já que os níveis de consumo da população também cresciam lentamente.

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Leia a íntegra desta matéria na edição Balde Branco 637, de novembro 2017

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