balde branco

O zootecnista da Emater/GO, Fernado Coelho (à direita), explica para os produtores como foi planejando o sistema de irrigação da Fazenda Douradossobrinhos Usain e Simael, de férias

IRRIGAÇÃO

PRODUTOR GOIANO

aumenta produtividade e UA/ha graças à

IRRIGAÇÃO DA PASTAGEM

Com orientação técnica da Emater/GO, o sistema instalado na Fazenda Dourados tornou-a uma referência em desempenho, servindo de vitrine para produtores de leite da região

Erick Henrique

Quando o assunto é tecnologia no campo, é corriqueiro cair no senso comum de que isto está muito distante da realidade de pequenos produtores. Ledo engano, pois cada vez mais as porteiras das fazendas estão abertas para absorver toda a gama de conhecimento que as ferramentas tecnológicas têm a oferecer em prol da sustentabilidade de um negócio agropecuário. Ignorar este fato é não apostar na profissionalização da produção de leite como o caminho mais seguro para avançar em produtividade, qualidade e melhoria da rentabilidade.

Por isso, cabe sempre informar que, dentre tantas tecnologias disponíveis, segundo especialistas, a irrigação permite um aumento na capacidade de suporte das pastagens, permitindo maior lotação, ou unidades animais (UA) por hectare. Esse aumento da lotação possibilita ao produtor trabalhar com lotações acima de dez unidades animais por hectare, gerando crescimento de produção em arrobas ou litros de leite por hectare. Aliás, a irrigação visa atender à necessidade de água pelas culturas forrageiras nos períodos de estiagem e também durante os veranicos.

Um exemplo de todas essas possibilidades relatadas acima é o da Fazenda Dourados, do produtor Wilton Luiz de Freitas, de Abadia de Goiás (GO), que tem recebido grupos de pecuaristas para conhecer o sistema de irrigação e fertirrigação desenvolvido pela Emater-GO. A instalação consiste no modelo de aspersão em malha para pastagem rotacionada, com irrigação planejada em quadrantes, abrangendo 26 hectares cultivados com capim tifton 85.

Fernando Coelho, zootecnista da Emater-GO, é o responsável pelo projeto. Ele explica que a fazenda possui 250 cabeças, das quais 70 vacas em lactação, em uma área de apenas 26 hectares, dividida em piquetes, com 2.500 m² cada um, e, em média, a lotação animal está em 12 cabeças/ha/ano. Atualmente, a produção diária chega a uma média de 1.650 litros de leite, aumento de mais de 150% sobre o volume de leite produzido registrado antes da instalação do projeto.

“Os ganhos significativos em produtividade comprovam que estamos no caminho certo, e espero de alguma maneira que esse exemplo possa ajudar o setor"

Wilton Luiz de Freitas

“Iniciamos esse trabalho com o produtor, em 2016, já utilizando a fertirrigação, jogando uma mistura de alguns hormônios vegetais (auxinas, citocininas e giberelinas), mais vitaminas, aminoácidos e boro em uma área com apenas 1 hectare de pastagem durante um longo período”, recorda Coelho.

O especialista revela que estava realizando um experimento, portanto não poderia pôr em risco a fazenda e sua produtividade. “Contudo, agora, já estamos utilizando a adubação foliar, via irrigação, em sua área total de produção, porque temos certeza de que o efeito é positivo, lucrativo e reduz consideravelmente o custo de produção da Fazenda Dourados”, ressalta.

De acordo com o zootecnista da Emater-GO, para se ter uma noção das vantagens econômicas desse sistema, enquanto um produtor investe, geralmente, em adubação com NPK, algo por volta de R$ 700/ha/ano, Freitas aplica essa mistura de hormônios, mais micronutrientes na pastagem, com o custo girando em torno de R$ 165/ha/ano.

Segundo Coelho, a técnica de bioestimulantes permite que a quantidade adequada de nutrientes seja administrada no pasto, deixando-o mais protéico para os animais. Além disso, a área que recebeu os compostos via irrigação apresentou 19,5% de proteína, contra os 14,2% registrados na área que não recebeu o tratamento.

Fernando Coelho detalha para produtores as vantagens da irrigação para alcançar maior produtividade e qualidade da forragem

“Vale lembrar também que o capim tifton 85 é muito rico em proteína, entretanto registra um déficit muito grande na parte energética. Por isso, precisamos complementar a alimentação do rebanho com milho, visando aumentar o teor de energia dessa pastagem”, destaca o produtor goiano.

O produtor Freitas considera muito gratificante atingir esse nível de produtividade, pois, segundo ele, é algo que muitos duvidam, mas quem está na lida e conhece a realidade sabe o quanto isso é possível, uma vez que se tenha dedicação em cima de um objetivo, tudo se torna viável.

“Tanto é verdade que uma caravana com produtores rurais da Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Brasília visitou, em fevereiro, a propriedade. Para mim, isso é ótimo indicador de que estamos no caminho certo, e espero de alguma maneira ajudar o setor”, diz o produtor de Abadia de Goiás.

A próxima meta do pecuarista goiano para impulsionar ainda mais a produção leiteira da fazenda é melhorar a genética do seu rebanho. Por isso está adquirindo sêmen de touros da raça Holandesa, importados da Nova Zelândia, para, por meio de uma central de inseminação gaúcha, inseminar suas vacas Girolando, que, segundo ele, são resistentes ao clima do cerrado, bem como aos endo e ectoparasitas.

A irrigação, a fertirrigação e sobressemeadura são práticas que trazem produtividade e qualidade às pastagens, por um período maior no ano

Avaliar custos e viabilidade na fazenda – “É bom lembrar que cada produtor precisa colocar tudo no papel, e avaliar se a irrigação é realmente vantajosa para sua propriedade. Aquilo que acontece na minha fazenda pode não ocorrer em outras propriedades. Portanto, é muito importante enfatizar os problemas que podem ocorrer, como os custos elevados da energia, além do fato de que sempre ocorrem quedas no fornecimento. Sem se esquecer do custo de instalação, que no meu caso foi de R$ 10 mil/hectare”, diz Freitas.

O engenheiro agrônomo, especialista em pastagens irrigadas, Carlos Eduardo Freitas Carvalho, consultor da Cooperideal, diz que vale a pena investir no sistema, desde que haja um estudo de viabilidade técnica e financeira do caso, partindo desde um projeto de irrigação muito bem delineado, avaliação da suficiência hídrica, custos de energia, licenciamento ambiental, até as características do rebanho que se alimentará da forragem escolhida.

COM A FERTIRRIGAÇÃO, o custo da adubação da pastagem teve uma redução bastante significativa

“Reitero a necessidade de se ter um projeto executivo do sistema. Muitos produtores, com o intuito de desembolsar o menos possível, preferem adquirir os equipamentos e materiais nas lojas agropecuárias, sem nenhum projeto nem estudo de viabilidade do sistema. Claro que só terá problemas. Isso levou muitos produtores a não acreditarem ou desconfiarem da eficiência da irrigação, pois, no passado, diversos pecuaristas não tiveram sucesso com sua instalação, divulgando erroneamente que a tecnologia era ruim”, explica o consultor da Cooperideal.

 Para ele, a qualidade do pasto está relacionada muito mais ao manejo do que ao sistema de irrigação em si. Isso porque o produtor precisa se adequar às exigências da forragem em questão, como altura de entrada e saída dos piquetes por parte dos animais, fundamentalmente.  

“Falar apenas em faturamento por área não traduz a lucratividade do sistema. É necessário buscar, e a irrigação pode ajudar neste quesito, a elevação das margens da atividade com a diminuição de volumosos mais caros, bem como na quantidade de concentrado para as vacas”, salienta Carvalho, observando que, sendo alcançados esses fatores,  com a irrigação pode-se  atingir produtividades acima de 30.000 litros/ha/ano, desde que outros indicadores como a produtividade animal e a estruturação do rebanho estejam adequados

Fatores climáticos – Segundo ele, de maneira geral, a região Centro-Sul do Brasil possui características climáticas que não permitem que apenas o sistema irrigado atenda à necessidade de volumoso do rebanho, principalmente devido à queda da luminosidade e de temperaturas mínimas. “Dessa forma, a fazenda terá que ter ainda uma reserva de volumoso armazenada para completar a dieta frente à queda de produção do capim, que pode ser de até 70%, dependendo das condições citadas acima”, diz.  

Ele nota ainda que nas regiões Norte e Nordeste, com características climáticas diferenciadas, favorecem a pastagem, menos em regiões de elevada altitude, onde ocorrem quedas acentuadas do fotoperíodo e da temperatura. Com fotoperíodo favorável mais persistente durante o ano, a forragem continua com seu crescimento pleno, desde que suprida corretamente com os nutrientes adequados, o que permite que a fazenda possua apenas esta opção como oferta volumosa aos animais. “Um bom exemplo do tipo acontece na Agropecuária Irrigarural, que fica no norte do Estado do Piauí, com taxa de lotação constante acima de 9 UA/ha.” 

"A irrigação eleva as margens da atividade, pois reduz o uso de volumosos mais caros e a necessidade de concentrado para as vacas"

Carlos Eduardo Carvalho

Fernando Coelho explica que, quando ocorrem picos de temperatura na região, de menos de 5 graus Celsius por um período de mais de 5 horas durante a madrugada, ou no decorrer do dia, fatalmente a gramínea não tem um crescimento vegetativo ideal. “Então, nesta época do ano, com certeza, a capacidade de lotação cai um pouco na Fazenda Dourados. Porém, em compensação, na primavera e verão a capacidade vai lá em cima. Assim, quando o proprietário fecha a média do ano, o patamar de lotação animal está muito alto, bem acima da média das propriedades brasileiras”, aponta o zootecnista da Emater-GO.

Já Carvalho destaca que, por meio de observações a campo, os consultores da Cooperideal verificaram que as forragens do gênero Cynodon têm respondido melhor na produtividade na época seca do ano, fato explicado por serem consideradas subtropicais. “Em porcentagem, pode-se dizer que a queda de produção, no período de maio a setembro, encontra-se na ordem de 30% a 40%. Mesmo assim, a introdução de plantas temperadas por meio da sobressemeadura é uma tecnologia que pode minimizar esta queda, principalmente quando se tem uma elevada fertilidade de solo e um manejo adequado da planta tropical, reduzindo o resíduo nesta época do ano por meio de roçadas estratégicas”, conclui ele.

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