A missão de alimentar o mundo está nas mãos dos valorosos produtores rurais. Isto é fato e todos sabem. Contudo, para cumprir o nobre objetivo com maestria, cada vez mais o mercado exige que as propriedades tenham um carinho maior com os recursos naturais, o solo, as pastagens, águas, animais, equipe, além de entender que a atividade pecuária contribui para a emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Por isso, é necessário agir, porteira adentro, para mitigar os impactos no meio ambiente.
Pensando em toda essa responsabilidade, a Nestlé Brasil realizou, no dia 12 de abril, a segunda etapa do Circuito Net Zero Nature por Ninho, que visa destacar as boas práticas de agricultura regenerativa voltadas à produção de leite de alta qualidade e com baixa emissão de carbono. O Estado escolhido foi Goiás, mais precisamente o município de Silvânia, onde mais de 250 produtores da região e participantes tiveram a oportunidade de conhecer in loco o trabalho realizado na Fazenda Marinho, dos produtores Jorge e Lucas Schmidt.
A propriedade está no caminho para se tornar uma fazenda leiteira Net Zero (carbono neutro) no Brasil, a partir da parceria da Nestlé com a Embrapa. A Fazenda Marinho possui um nível avançado de agricultura regenerativa ao fazer rotação de cultura, plantio de cobertura, plantio direto e agricultura de precisão. As ações proporcionam maior retenção de água, fertilidade, saúde do solo e mais produtividade. Partes das áreas de plantio passa por um “descanso”, resultando em uma melhor condição de produção. As vacas vivem no sistema compost barn, climatizado, onde recebem alimentação balanceada e água de qualidade em abundância, em um ambiente que promove o seu bem-estar.
“O Circuito Net Zero é um dia de campo sobre agricultura regenerativa e pecuária de leite de baixo carbono que estimulam uma produção que cuida do solo, da biodiversidade, da água, além do bem-estar dos animais e das comunidades rurais do entorno. O Estado de Goiás é estratégico para a produção leiteira nacional e, por isso, escolhemos, para a segunda edição do Circuito NetZero, a Fazenda Marinho. Assim, podemos, junto com os proprietários, parceiros e técnicos da Embrapa, demonstrar os benefícios dessas práticas para o produtor, tirar dúvidas e engajar cada vez mais e mais produtores nessa jornada”, explica Barbara Sollero, gerente de Agricultura Sustentável da Nestlé Brasil.
Tal jornada citada pela coordenadora da Nestlé teve início em 2021, numa parceria com a Embrapa, para desenvolver uma pecuária de leite Net Zero no Brasil em fazendas-piloto que descarbonizam suas respectivas produções nos Estados de Minas Gerais, Goiás e São Paulo. A propriedade da família Schmidt faz parte desse grupo, que representa a diversidade e a pluralidade dos diferentes sistemas de produção de leite no País.
Essas propriedades – que contam com cerca de 2,5 mil vacas que produzem um total de mais de 60 mil litros de leite por dia – passaram por um diagnóstico inicial das emissões de carbono e estão recebendo o acompanhamento e suporte técnico para a implementação das ações de redução conforme plano personalizado realizado pela Embrapa, para cada realidade, observando itens como manejo e conservação do solo, manejo dos dejetos e práticas de agricultura regenerativa.
PRÁTICAS REGENERATIVAS, UM NOVO JEITO DE FAZER AGRICULTURA
Vale destacar que o evento contou com apresentações de Maurício Cherubin, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) nas áreas de crédito de carbono e agricultura regenerativa. “O fato de estarmos aqui para entender esse novo jeito de fazer agricultura é porque o negócio está mudando e o solo é a base para essa transformação. Desse modo, aquela visão que muitos tinham a respeito de adubar, plantar e colher era suficiente, ou pensando em produzir pasto para ter leite, era a solução, contudo era uma visão muito pequena que não cabe mais sobre essa nova agropecuária que vai ser obrigatoriamente exigida nos próximos anos.”
Segundo Cherubin, há uma série de aspectos agronômicos e técnicos que precisam ser considerados pelos produtores: fazer uma análise de solo; entender a eficiência do fertilizante; incluir na rotina de trabalho a questão das emissões de GEE, tentar reduzir, e essa redução ocorre no dia a dia, prática por prática, um pouquinho de cada vez. Aliás, é fundamental ter cuidados com a contaminação de água, solo, que há até pouco tempo ninguém falava sobre isso, promover a biodiversidade na propriedade como um todo, cuidar da sanidade das plantas, dos animais, e entender que se está produzindo alimento, que precisa sair com qualidade da fazenda, que obviamente será premiada cada vez mais, avalia o especialista da Esalq/USP.
Fazenda Marinho (antes e agora) – Quem está acompanhando essa reportagem deve pensar que a propriedade de 103 hectares, do interior de Goiás, sempre foi um exemplo de alta tecnificação, uma realidade distante para a maioria dos produtores brasileiros. Ledo engano, pois a Fazenda Marinho, com seus 30 anos de história, passou por vários momentos difíceis até atingir o estágio atual, esclarece o jovem sucessor Lucas Schmidt.
“Meu pai comprou a propriedade em 1991, desde criança eu visitava a fazenda, principalmente nos fins de semana. Só que chegou o momento de o meu pai se aposentar, e eu estava perto de concluir a faculdade de engenharia civil, quando vimos a necessidade de construir o galpão, em 2018”, diz, explicando que os animais da raça Holandesa são mais sensíveis, não andam longas distâncias e preferem ficar mais na sombra. Daí a necessidade de trazer mais conforto para o rebanho.”
O produtor recorda que, antes de realizar esse investimento, o gado era criado praticamente no lamaçal, a CCS era alta, a CBT era relativamente alta também, mas, ao abrigar os animais no galpão do compost barn, conseguiram controlar mais a qualidade do leite. “Antigamente, a fazenda chegou a atingir cerca de 800 mil CCS/ml, mas hoje os níveis estão entre 200 mil e 250 mil. Isso foi um grande avanço rumo ao bem-estar dos animais e à maior qualidade do leite. E estamos aprimorando continuamente. Esse é nosso objetivo”, ressalta Schimidt.
Além da evolução na produção de leite, a Fazenda Marinho adotou uma série de medidas para melhorar o conforto animal, investindo em ventiladores para manter a cama seca, garantindo um ambiente mais arejado para os animais, oferecendo também dieta balanceada à vontade no cocho e água nos bebedouros.
“Esse conforto todo é correspondido em maiores índices de produção do rebanho, que produzia, em média, 18 litros/vaca/dia (antes do compost). Passando alguns meses a fazenda atingiu uma produção de 32 litros/vaca/dia, um crescimento de 80%. Porém, há outras coisas que vamos implementar nos próximos meses, como o resfriamento do gado por aspersão, pois entendemos que é uma necessidade da fazenda. Atualmente, trabalhamos com 160 animais em lactação, rebanho total de 360 animais”, destaca o produtor de Silvânia.
Adubo orgânico – A questão dos dejetos, antigamente, era um problema para o sistema de produção da Fazenda Marinho, mas, segundo o jovem produtor, com incentivo da Nestlé, a propriedade conseguiu transformar esse gargalo numa solução. “Atualmente a fazenda consegue utilizar todos os dejetos na área de agricultura, onde nós temos um separador de sólidos, a parte líquida que fazemos a aspersão na lavoura usando um canhão. Já a parte sólida do esterco é jogada nas áreas de lavoura, para adubação orgânica. Esse material pode ser utilizado também numa reposição de cama”, explica Schmidt.
Pastagens consorciadas – Outra prática sustentável que auxilia no sequestro de carbono e fixação de nitrogênio é a utilização de pastagens consorciadas. “Na safra, a fazenda consorciou o milho com feijão guandu e produzimos a silagem. Agora, na safrinha, utilizamos o sorgo com feijão mungo, além de milheto e braquiárias brizantha e ruziensis. Tudo vira silagem, mas desse mix de plantas sempre sobra uma camada de palha no solo, que ajuda na proteção dos raios solares, retenção de água na terra, atividade microbiológica, armazenagem e reciclagem de nutrientes, dentre outros benefícios”, diz.
Tudo isso faz parte da agricultura regenerativa, um conceito criado em 1980, que alia a produção de alimentos, no caso o leite, ao mesmo tempo que propicia condições para a natureza se recuperar.
Metas e requisitos do Net Zero – Conforme a gerente do programa, cerca de 33% das emissões de GEE são provenientes da produção de matéria-prima e, nesse contexto, a Nestlé entende que precisa dar suporte aos produtores, trabalhar nessa transição para uma pecuária de leite de baixo carbono e fazer isso por intermédio da implementação da agricultura regenerativa, pois é um novo contexto de como se deve produzir.
“Por essa razão o programa de certificação, lançado em 2021, está embasado numa série de condutas que a propriedade precisa implementar, em diferentes níveis, em que as fazendas são divididas por categorias (bronze, prata e ouro), e vão evoluindo, conforme forem adquirindo mais maturidade na adoção das boas práticas de produção de leite. No entanto, esse programa da Nestlé não é algo novo, pois o embrião do projeto teve início no ano de 2005, quando o nosso desafio ainda era a qualidade do leite e estamos progredindo em conjunto com os produtores/fornecedores”, lembra Bárbara Sollero.
Por isso, segundo ela, o projeto Net Zero da companhia passou a adicionar critérios de bem-estar animal, recursos humanos, manejo de dejetos, uso da água, até abraçar, em 2022, a agricultura regenerativa, e dar esse novo nome ao produto Ninho, que é a marca que vai comunicar ao consumidor final sobre tudo o que é feito durante essa jornada.
A respeito das categorias bronze, prata e ouro, elas correspondem a diferentes níveis dentro dos pilares de bem-estar animal, cuidado com a água, qualidade do leite, manejo de dejetos e agricultura regenerativa. Dentro do programa de certificação, o nível prata é considerado como um certo nível de engajamento da agricultura regenerativa, enquanto o produtor ouro já está no patamar avançado.
“Quando falamos dos produtores na categoria bronze, hoje, eles trabalham muito focados nos pilares de qualidade do leite. Por causa disso, existe uma série de requisitos que eles precisam executar, desde as vacas que estão em tratamento com antibióticos, que precisam ser segregadas do rebanho, até deixar tudo registrado. Além disso, os funcionários precisam passar por treinamento, assim como a questão do bem-estar animal, o cuidado com a bezerras, dentre uma série de outras práticas. Em resumo, é interessante destacar que essa jornada é muito nova, então a gente precisa ver uma forma de adaptar esse projeto para que o produtor entenda isso como um benefício, uma evolução, que trará uma melhoria continua para o seu negócio”, pontua Bárbara Sollero.
Atualmente o projeto conta com 100 fazendas na categoria ouro, e, na categoria prata, são cerca de 70 propriedades; na categoria bronze, contabiliza mais de 1 mil fornecedores. O número da categoria bronze é justamente porque é o berço da produção de leite, pois ainda não abraça os critérios da agricultura regenerativa, a não ser o manejo dos dejetos.
O programa realiza as certificações anualmente na categoria bronze, já as categorias prata e ouro são avaliadas a cada semestre. Tudo isso é importante para a Nestlé para verificar se de fato estão ocorrendo as evoluções nas boas práticas das fazendas.
Dentro do projeto Net Zero, apenas 2% das fazendas trabalham no sistema free-stall; mais de 50% estão inseridas no compost barn; 15% de produção de leite a pasto e, do restante, de 30% a 35% atuam no sistema semiconfinado.
Bonificações – Com base na certificação por categorias, a empresa estabelece a bonificação correspondente. O time de campo ajuda o produtor a fazer as adequações e adotar os ajustes necessários. Em seguida, vem uma certificadora que avalia ponto a ponto, classifica a propriedade e determina a categoria. “A empresa envia o relatório sobre a fazenda para a Nestlé, que deixa tudo registrado no sistema para depois, no fim do mês, bonificar o produtor conforme a sua categoria, que varia de 5 a 15 centavos a mais por litro de leite”, explica a gerente da Nestlé.
Segundo o produtor da Fazenda Marinho, desde o início do projeto a propriedade recebe bonificação por adotar essas práticas, e à medida que progride dentro do projeto Net Zero, a bonificação aumenta. No momento, a propriedade recebe 12 centavos a mais por litro de leite produzido, mas já na próxima auditoria, em maio, a bonificação passará ser 15 centavos/litro/leite. Essa certificação da Fazenda Marinho é feita a cada seis meses”, conclui Schmidt, que demonstra uma enorme satisfação em produzir leite de forma sustentável.
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