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O projeto de energia fotovoltaica da Fazenda Ponte Alta é “personalizado”, com os painéis formando as iniciais SRN (Sérgio Rodrigues Nunes)

TECNOLOGIAS

Produzir qualidade

com felicidade graças à tecnologia

Produtores mostram que é possível melhorar a qualidade de vida e o desempenho das fazendas com a adoção de tecnologias de última geração, como robôs de ordenha, colares de monitoramento e painéis de energia solar

Erick Henrique

Com a tecnologia 4.0, a cadeia do leite pode reduzir custos e melhorar margens, e resolver atividades do dia a dia com maior confiabilidade. As inovações que mostraremos a seguir são muito importantes para a evolução da pecuária leiteira, pois, segundo o produtor Marcelo Maldonado Cassoli, o que não se mede não se controla. “Não há caminho alternativo se não a adequada eficiência, mais do que isso, a eficácia”, diz o proprietário da Fazenda Capetinga, em São João Batista do Glória (MG), que investiu, há um ano, na ordenha robotizada.

Cassoli recorda que ficou cinco anos estudando a tecnologia e planejando sua instalação. “Hoje, não tenho dúvidas de que foi o melhor investimento que fiz na produção. Temos outra fazenda agora, seguindo nossa missão: produzir qualidade com felicidade. Era difícil lidar com a terceira ordenha antes. Alta rotatividade de pessoas, impossibilidade de realizar turnos adequados pelo tamanho da propriedade, pessoas insatisfeitas e minha consciência insatisfeita também”, recorda. 

Segundo ele, a Fazenda Capetinga até conseguia qualidade no leite, mas não havia felicidade. Os robôs, da marca Lely, resolveram essas questões para o pecuarista e médico veterinário e ainda trouxeram vantagens adicionais, como bem-estar animal, jornadas adequadas de trabalho, mais tempo de atenção aos animais, muito mais informações importantes, filtradas diariamente, e uma equipe menor de pessoas para treinar e gerenciar.

Marcelo Cassoli: "Os robôs trouxeram vantagens adicionais ao que já tínhamos de bom, como mais bem-estar animal, jornadas adequadas de trabalho, mais atenção aos animais, muito mais informações, filtradas diariamente, e uma equipe menor para treinar e gerenciar"

“Como a fazenda já tinha indicadores excelentes de qualidade de leite, mastites, reprodução e produtividade de leite, seria covardia esperarmos grandes melhoras nesses indicadores após instalar a ordenha robotizada. Se não piorasse nada, já estaríamos satisfeitos. Mas ainda assim algumas coisas melhoraram”, destaca.

Na propriedade, a média de produção de leite/vaca/dia estava bem afetada pelas obras no free stall para a instalação dos robôs e do túnel de vento. “Transformamos um monomotor em um jato comercial com ele voando, sem aterrissar, ou seja, sem tirar uma vaca sequer do barracão. Logo após iniciar a ordenha com os robôs, as médias foram só subindo (saímos de 24 para 39 kg de leite/vaca/dia). Mas é fato que climatizamos o barracão também, ao mesmo tempo, então não sabemos dizer quanto dessa melhora se deve só aos robôs”, avalia o produtor.

Segundo Marcelo Cassoli, com a cultura microbiológica na fazenda, o funcionário faz parte de todo o processo, o que o empodera e valoriza

Outro ponto que melhorou os resultados da propriedade foi a redução do uso de protocolos de IATF, com a detecção de cios pelo sistema, sem prejudicar a taxa de prenhez. Também o monitoramento da saúde pós-parto ficou muito mais simples e eficiente, com a medição da taxa de ruminação, relação gordura/proteína do leite, atividade, temperatura e condutividade do leite.

Na parte do manejo alimentar, segundo o produtor, a fazenda tem de usar o máximo de eficiência nos processos, a despeito do sistema de ordenha adotado. “Dieta eficiente não tem muito o que mexer, independentemente dos custos dos insumos. Não temos subprodutos baratos, todos acompanham os preços do milho e da soja. E, se tivéssemos, provavelmente a fazenda já estaria utilizando na dieta. O que pode pesar no custo na ordenha robotizada é a ração peletizada que é fornecida no robô. Mas temos como trabalhar sua quantidade no robô e, no nosso caso, a formulação dela é personalizada.”

 

Cultura microbiológica, na própria fazenda, para o controle da mastite – Marcelo Cassoli, que já prestou serviço como consultor, avalia que é de responsabilidade do veterinário e do produtor o uso racional de antibióticos e outros medicamentos. “Somos atores importantes da saúde única e na biosseguridade alimentar. Acho esse ponto mais importante do que apenas a questão econômica, de se fazer o cultivo/identificação de agentes microbiológicos na fazenda.”

Mas claro, segundo ele, todo investimento tem que pagar a conta, e, neste caso, se paga fácil. Não só pela redução do uso de antibióticos, mas pela rapidez e assertividade da ação corretiva. “Também pela possibilidade de acompanhar melhor a estratégia de controle de agentes contagiosos, fundamental para a eficiência sanitária e qualidade do leite. O cultivo e a identificação microbiológica na fazenda é um caminho sem volta, bem como o uso de outros kits rápidos de diagnóstico para CBT do leite e do colostro, diagnóstico de agentes de diarreia, de hemograma e outros”, elenca o produtor.

Nesse quesito, a Fazenda Capetinga foi uma das primeiras propriedades mineiras a adotarem tecnologia desenvolvida pela startup OnFarm, que permite a identificação da causa da mastite em 24 horas, na própria fazenda. “Como já citado, a fazenda sempre teve indicadores muito bons de qualidade do leite e da mastite”, diz, e continua: “Assim como com a ordenha robotizada, nossa expectativa em relação à nova técnica não era de grandes mudanças em números, mas a de somar com mais agilidade, redução de custos com tratamentos (que já eram escassos) e, principalmente, obter informações precisas para o gerenciamento das mastites, mantendo-a em níveis bem baixos de incidência”, diz ele.

Foi interessante, destaca, ver a motivação dos funcionários, pois muitos deles nunca tinham “visto” uma bactéria. Anteriormente, coletavam uma amostra de leite, que ia para o laboratório distante e voltava com uns nomes esquisitos numa folha de papel. “O legal do SmartLab OnFarm é que os funcionários passaram a fazer parte de todo o processo e agora ‘veem’ as bactérias crescendo na placa, as identificam e decidem o que fazer (ou não fazer) em cada caso. É uma forma de empoderamento e valorização da pessoa responsável.”

Além disso, a propriedade utiliza as ferramentas da OnFarm para a saúde das bezerras, uma vez que, conforme frisa o produtor, elas são o futuro do rebanho. Ele complementa que tem de ser zero de mortalidade e ter a melhor condição de crescimento e bem-estar, porque isso se reflete lá na frente, no desempenho da vaca adulta e do rebanho.

Teste microbiológico do colostro – “Aqui, utilizamos o CBTest, para cultivo e contagem bacteriana do colostro, como forma de monitorar e aprimorar a coleta do colostro, que hoje é feita no próprio robô. Não são todas as amostras analisadas, fazemos aleatoriamente, só para monitoramento mesmo, de tempos em tempos. Também utilizamos um kit rápido para diagnóstico de Cryptosporidium e rotavírus nas diarreias”, explica.

Esse kit tem ajudado a Fazenda Capetinga a traçar o perfil etiológico (a causa) das diarreias e a estratégia de tratamento e prevenção. Por ser feito na hora, sem congelamento, permite ações rápidas e mais eficazes. “Também utilizamos o aplicativo de celular da OnFarm para registro e controle das ocorrências no bezerreiro, muito prático e rápido”, conclui o produtor.

Com o uso dos colares de monitoramento, a família Barboza reduziu 200 protocolos de IATF/mês para cerca de 60, economizando mais de R$ 7 mil por mês. Da esq. para a dir.: Roberto Barboza, sua esposa, Tereza Cristina, e o filho Fernando

Colar com sensor – Outra tecnologia, também conhecida como pecuária de precisão e disponível no mercado, é a que permite captar, por sensor, os movimentos e o comportamento dos animais, de modo a monitorar sua saúde, nutrição e reprodução. Trata-se de um dispositivo eletrônico fixado num colar no pescoço ou num brinco na orelha do animal. Essa tecnologia tem proporcionado bons resultados para o sistema de produção leiteira em muitas fazendas. Com ela, o produtor acompanha, em tempo real, ruminação, atividade de cio e ócio de seus animais, confinados ou no pasto, e recebe na palma da mão, em seu celular, alertas de cio, indícios precoces de algum problema de saúde e avisos de alterações de dietas ou manejo.

Na Fazenda Real, localizada no município de Cabrália Paulista (SP), dos produtores Roberto Barboza, e seu filho Fernando Maia Barboza, 405 vacas da raça Holandesa estão utilizando a coleira de monitoramento desenvolvida pela startup CowMed. Na propriedade, que trabalha no sistema de compost barn, são produzidos 14.110 litros de leite por dia, com média de produção por animal de 35 kg/leite/dia.

A família Barboza deixou, há dois anos, sua atividade principal em uma empresa de construção civil na capital paulista e entrou de cabeça no projeto de impulsionar a atividade leiteira da propriedade, trabalhando integralmente na Fazenda Real, com a meta de produzir cerca de 20 mil litros de leite por dia nos próximos anos.

Para atingir esse objetivo, a família sentiu a necessidade de investir em ferramentas de tecnologias mais avançadas para corrigir alguns problemas na reprodução do rebanho, que estavam prejudicando o desempenho da Fazenda Real. “Investimos nos colares de monitoramento das vacas depois de um tempo de estudo sobre os protocolos de IATF em vacas, algo que estávamos utilizando em 100% das vacas e, praticamente, esquecendo o cio natural. Por isso, fizemos as contas do quanto a gente gastava com os protocolos de IATF/mês, e era muita coisa, tanto de protocolos investidos quanto com as vacas vazias que não emprenhavam”, diz Fernando Barboza.

Para se ter ideia, a Fazenda Real realizava por volta de 200 protocolos de IATF/mês, custando, em média, R$ 52/por protocolo. “Com a nova ferramenta, que já estamos utilizando há um ano e meio, passamos a investir somente em cerca de 60 protocolos de IATF por mês. Uma redução nos custos de R$ 7.280/mês”, diz o produtor.

De acordo com Barboza, além do impacto econômico, as coleiras de monitoramento foram pensadas para reduzir o esforço do inseminador, pois esse trabalho é muito cansativo, sobretudo quando realizado em 200 animais. “Para nós é fundamental dar uma boa condição de vida aos colaboradores, caso contrário não vai parar ninguém na fazenda.”

Sérgio Nunes (com seu pai): "Com a combinação na geração de energia com os painéis fotovoltaicos e o biodigestor (biogás), zeramos o gasto com energia, que era superior a R$ 20 mil/mês"

Energias renováveis, que reduzem os custos na fazenda leiteira – A energia solar e de biodigestor (biogás) chegou ao Grupo Ponte Alta, de Formiga, interior de Minas Gerais, para reduzir os custos e otimizar a produção leiteira com mais sustentabilidade. Isso ocorreu depois que o patriarca da família, Paulo Rodrigues Nunes, um homem com visão empresarial, dividiu a propriedade de 990 hectares entre seus dez herdeiros. Apenas três filhos, Marcos, Ricardo e Sérgio, continuaram na bovinocultura leiteira.

Hoje, as três propriedades, juntas, somam 254 hectares. Mudou-se o sistema de produção, antes semi-intensivo, para confinamento em compost barn, produzindo 27 mil litros de leite por dia, com 800 vacas em lactação. “Aqui, na propriedade do meu pai, temos a primeira usina de energia fotovoltaica do Grupo Ponte Alta. Estamos com 290 vacas em lactação, produzindo 10 mil litros de leite/dia, com média de 34 litros/vaca/dia”, explica o médico veterinário e produtor Sérgio Nunes. Segundo Nunes, na Fazenda Ponte Alta não havia problema com queda ou falta de energia, ou algo que prejudicasse o desenvolvimento da propriedade. Mas o que estimulou os produtores a trabalhar com a energia solar foi a questão do custo do kW pago à Cemig, com uma tendência de alta neste ano e também nos próximos.

Depois de passar dois anos estudando esse sistema e as formas de financiamento, o pecuarista Sérgio Nunes aproveitou que o custo das placas de energia solar foi melhorando, bem como as taxas de financiamento, imposto sobre o equipamento, para finalmente investir nos painéis fotovoltaicos, com a parcela fixa ao banco custando R$ 5.500/mês.

“A nossa usina foi instalada pela empresa Renovigi e possui 330 placas que produzem, em média, 15 mil/kW/mês, gerando uma economia de R$ 10 mil a R$ 12 mil/mês. Essa demanda era metade do consumo da propriedade. Na época, a gente optou por colocar a metade do nosso consumo, projetando ampliar essa usina depois de alguns anos. Nesses 12 meses em que o sistema está funcionando, pesquisamos e decidimos que, em vez de ampliarmos a usina, adotamos o sistema de biodigestor, de modo que o restante da energia seja produzida através do biogás”, relata o médico veterinário.

Conforme Nunes, a tecnologia está com somente 50 dias de uso e agora a propriedade conseguiu praticamente zerar a conta de energia, uma vez que pagava de R$ 20 mil a R$ 22 mil por mês. Com essas duas tecnologias (solar e biogás), a Fazenda Ponte Alta conseguiu reduzir os custos, pagando apenas a tarifa mínima, que é de R$ 80,57, no mês de julho, ficando com crédito na Cemig.

“O sistema ainda é novo, logo dá para produzir mais biogás. Não estamos com a quantidade de animal suficiente para fechar o projeto, visto que a meta é trabalhar com 350 animais em lactação na fazenda. Portanto, há espaço para produzir mais biogás, consequentemente mais energia”, conclui o produtor de Formiga.

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