CRÔNICA

Paulo do Carmo Martins

Economista e pesquisador da Embrapa Gado de Leite

 A profa. Mônica Cerqueira liderou vários estudos feitos em consonância com
as necessidades dos produtores e da indústria, sempre relacionados à qualidade do leite”

Professora emérita

No mês passado vivenciei um momento único. Estive na cerimônia de homenagem à Profa. Mônica Maria Oliveira Pinho Cerqueira, feita pela UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais. A UFMG lhe concedeu o título de Professora Emérita. Talvez você não a conheça, embora ela tenha interferido na sua vida, sem que você saiba, sendo você produtor, técnico ou consumidor de leite. Talvez, também, não saiba que título é esse que ela recebeu de uma das melhores universidades do Brasil. Então, continue aqui comigo, lendo.

Em termos de organização administrativa, o modelo universitário é único. As decisões são tomadas em colegiado, ou seja, após a manifestação de todos os participantes, chamados de pares. Nenhuma empresa de grande porte adota o modelo colegiado, sob pena de trazer lentidão às decisões. O único ambiente em que as empresas exercitam este modelo é no seu Conselho de Administração, o órgão mais importante de toda empresa, através do qual se busca decidir as suas questões estratégicas. Já na Universidade, em todas as instâncias, as decisões sempre são colegiadas.

A Universidade tem como marca fomentar visões múltiplas sobre a mesma realidade. Do debate de ideias é que surgem soluções potenciais para problemas reais. E o poder não está no cargo ou no patrimônio de cada professor. O poder está no mérito. Então, para se evidenciá-lo, é preciso conhecer e reconhecer as contribuições de cada professor para os colegiados, quer sejam os departamentos, as faculdades ou outras instâncias administrativas da Universidade, além de entidades de caráter técnico-científicas e entidades da sociedade. Quando um de seus pares se destaca muito, atinge o título de professor emérito. Para obter esse título, é preciso ser reconhecido pelos professores e pela sociedade. Então, poucos são os que galgam esta posição, o de Professor Emérito. E foi isso o que a professora Mônica Cerqueira conquistou – o reconhecimento por mérito. Mas qual o seu mérito?

A Profa. Mônica fez toda a sua trajetória profissional vinculada à Escola de Medicina Veterinária da UFMG. Ali se graduou, fez os cursos de Mestrado e Doutoramento. E desde 1989 integra seu seleto quadro de professores. Dali, se destacou por buscar a interação com a realidade concreta da cadeia produtiva do leite. Em quatro décadas dedicada ao magistério, cerca de 3 mil profissionais tiveram oportunidade de serem seus alunos e orientandos, em programas de iniciação científica e de extensão, e nos cursos de graduação, mestrado e doutorado.

A Profa. Mônica é uma humanista! Em seu discurso, ela ressaltou que…“sempre procurei ouvir muito os meus estudantes e muitas vezes me surpreendia com situações que não percebíamos em sala de aula. Aprendi muito a ter empatia e a me colocar no lugar do outro. Procurei entender meus alunos como seres humanos distintos, com habilidades e necessidades diferentes, e, a partir disso, trilhei o meu caminho. Aprendi que o nosso maior desafio era entender e motivar os que estavam com dificuldades.”

A profa. Mônica Cerqueira liderou vários estudos feitos em consonância com as necessidades dos produtores e da indústria, sempre relacionados à qualidade do leite. Ela não se conteve em permanecer no espaço físico da UFMG e, literalmente, foi a campo. Em seu discurso na solenidade, ela justificou esta belíssima prática. “Penso que não há como dissociar o professor, do pesquisador e do extensionista. Entendo que de nada adianta produzirmos conhecimento se ele não puder beneficiar a sociedade e o setor produtivo, promovendo transformações. Por isso, sempre procurei estar atenta à cadeia produtiva do leite, minha área de atuação, disseminando o conhecimento gerado para produtores e técnicos ligados à atividade leiteira.”

A Profa. Mônica Cerqueira se entregou ao laboratório de Qualidade do Leite da UFMG desde 2004 e dali passou a ter uma visão amplificada do setor, ao realizar análises de amostras de leite para as empresas e cooperativas. Somada à experiência e ao conhecimento que ela já detinha, ao aliar o mundo da ciência com a realidade concreta, isso lhe permitiu atuar na formulação de políticas públicas, sendo presença marcante nas discussões da RBQL – Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite, no CBQL – Conselho Brasileiro da Qualidade do Leite, formado por especialistas e do qual é vice-presidente, e na CTC/Leite – Comissão Técnica Consultiva para Monitoramento da Qualidade do Leite, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Em quase quatro décadas formando pessoas pelo exemplo e pelo conhecimento transmitido, gerando bases para políticas públicas, assessorando empresas e entidades do setor, a Profa. Mônica Cerqueira decisivamente interferiu na realidade da qualidade do leite brasileiro. E fez com humildade, com determinação, com paixão e com brilho nos olhos. Não só para a UFMG, mas para todos nós do setor lácteo, a trajetória de Mônica Cerqueira a torna a nossa eterna Professora Emérita!

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