CRÔNICA

Paulo do Carmo Martins

Chefe-geral da Embrapa Gado de Leite

 A pandemia nos mostrou que é possível interagir, aprender, emocionar, sentir, mesmo distante. Foi o que o Vacathon digital mostrou”

Qual o valor?

Em 2016 eu li uma pesquisa que dizia que apenas um em cada quatro estudantes de uma universidade norte-americana usava o aparelho celular para fazer ligações telefônicas regularmente. Não acreditei. Então, decidi testar essa afirmação na minha sala de aula. Pois apenas 12% usavam celular como telefone. Voltei para casa estarrecido, comentei com os meus três filhos, na faixa de 15 a 25 anos, e eles disseram que somente usavam o aparelho para falar comigo e com minha esposa. Este evento me mostrou que o mundo ao meu redor já era outro. Hoje, quando quero ligar para alguém, pergunto antes se posso.

Foi assim que decidimos intensificar a busca de um modelo que possibilitasse transpor as tecnologias criadas para o setor lácteo, para o ambiente do computador. Foi assim que surgiu o Ideas for Milk, um evento multidimensional. Pode ser visto como tecnológico, motivacional, de empreendedorismo, de construção de relações em rede.

Este ano o Ideas for Milk se consolidou. Deixou de ser um evento para se tornar um movimento. Ganhou o mundo sem sair de casa. Esta proeza começou com o Caravana 4.0, em que 27 universidades brasileiras foram visitadas, por meio de reuniões remotas que ocorreram em oito Estados de quatro regiões brasileiras. Além disso, mais quatro universidades, da Argentina e de Angola, participaram, formando um conjunto de 31 universidades de três países e dois continentes.

Num só ambiente virtual, em cada uma dessas universidades, reuniram-se estudantes e professores dos cursos de agronomia, medicina veterinária, zootecnia, biologia, ciência da computação, engenharias, economia, administração, nutrição e outras. O propósito foi mostrar as oportunidades para empreender oferecidas pela cadeia produtiva do leite para a criação de soluções inovadoras e resultante de conhecimentos multidisciplinares.

A pandemia nos mostrou que é possível interagir, aprender, emocionar, sentir, mesmo distante. Foi o que o Vacathon digital mostrou. Fizemos 21 encontros temáticos, com 54 pessoas falando sobre assuntos vinculados a três trilhas: transformação digital, foodtech e empreendedorismo e inovação. Pelo Canal da Embrapa, mais de 19 mil visualizações já ocorreram. Os temas foram desde biosseguridade, fazenda 4.0, nanotecnologia, gestão de propriedade, sanidade, mas todas as abordagens feitas de maneira muito original, por profissionais que estavam na Argentina, nos Estados Unidos, em Angola, em Portugal e no Brasil. Além dessas lives, houve um conjunto focado em negócios, com os seguintes títulos: “Como convencer alguém a acreditar no meu negócio”; “Design sprint: da ideia ao propósito”; “Esse tal negócio de thinking” e “Criando modelos inovadores e conscientes”.

O Vacathon busca reunir universitários, professores e estudantes, em torno de problemas existentes nos elos da cadeia produtiva do leite, visando à obtenção de soluções digitais. Este evento tem apresentado ganhos fenomenais para os participantes e para o Brasil. Por exemplo, o Insper, uma conceituada escola de negócios paulista, admitiu que a decisão da criação de sua divisão em agronegócio aconteceu depois que ganharam o Vacathon, em 2017. Já a conceituada equipe da Coppe/UFRJ, especializada em petróleo e energia, acaba de criar um núcleo para gerar soluções para o agronegócio, depois que ganharam o Vacathon este ano.

Além da Caravana 4.0 e do Vacathon, o Desafio de Startups e o Prêmio Ideas for Milk de Inovação completam os pilares do Ideas for Milk. No Desafio de Startups, o que se busca é dar visibilidade a jovens de todas as idades que têm soluções inovadoras para problemas não tão novos. Nesta modalidade, mais de uma dezena de startups estão hoje no mercado em função do Movimento Ideas for Milk e duas iniciaram o processo de internacionalização este ano. O que os jovens buscam é serem vistos para receberem apoio e investimento.

Já no Prêmio Ideas for Milk de Inovação, o que se busca é valorizar empresas que estejam atuando em consonância com os valores do novo consumidor, que exige rastreabilidade do que é produzido, cadeias curtas, comércio justo, reuso, cuidado com os animais, com o meio ambiente, com os trabalhadores envolvidos no processo produtivo e também com a vizinhança.

O que se ganha participando do Ideas for Milk? Ou, sendo mais claro, que valores esse movimento gera? O primeiro valor é para os jovens envolvidos. Vários são os relatos gravados, todos espontâneos, de jovens que contam as transformações em suas vidas.

Mas o derradeiro é o institucional. Por exemplo, a Esalq hoje atua em parceria com Instituto Federal São Paulo depois que se aproximaram para participar do Ideas for Milk. Na PUC/Minas o pessoal da engenharia nunca tinha conversado com o pessoal da veterinária. Em Chapecó, o Parque Tecnológico deixou o petróleo de lado para cuidar do hoje óbvio: agronegócio. As Federações de Agricultura de GO e MG entraram no movimento para se aproximarem de jovens. E a Embrapa Gado de Leite? E as empresas que participam e bancam todos os desembolsos? O que ganham? Em 2021 eu conto.

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