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TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

Qualidade do leite e informação para decisões

Com as Instruções Normativas 76 e 77, os setores de produção e de industrialização do leite estão aumentando o rigor nas suas práticas para garantir mais qualidade na entrega da matéria-prima para a etapa seguinte na cadeia produtiva, até o consumidor.

O cumprimento da legislação quanto ao envio periódico de amostras do leite produzido para análise nos laboratórios da Rede Brasileira de Qualidade do Leite (RBQL) não deve ser encarado como mais uma medida imposta pelo governo. Ao contrário, devemos compreender o aspecto estratégico das INs, que, impondo normas e padrões de qualidade, organizam a cadeia e valorizam os produtores comprometidos em manter o consumo de leite e lácteos pela sua qualidade.

Por outro lado, os resultados das análises são informações valiosas para a tomada de decisões na propriedade, assim como na indústria. Decisões que aumentam a qualidade do produto como prioridade, e que, se bem utilizadas, podem elevar também a rentabilidade da atividade e a produtividade de vários insumos.

Amostras de leite geram dados de CCS, informando a saúde da glândula mamária; de CBT, que informa de um modo geral a higiene com a qual o leite foi obtido, além dos teores de proteína, gordura, extrato seco, extrato seco desengordurado e lactose. Tais resultados dos laboratórios da RBQL, se devidamente interpretados, permitem também a identificação de problemas nutricionais e de manejo, permitindo ao produtor ajustar suas operações do rebanho, de lotes ou até mesmo de vacas individuais. O conhecimento de outros componentes do leite e sua comparação com a composição da alimentação fornecida podem resultar num balanço melhor da dieta, com impacto positivo no seu custo. Um exemplo: temos a medida do teor de ureia no leite, que permite avaliar se a dieta fornecida ao rebanho está balanceada nos seus componentes mais caros, proteína e energia.

   Apesar da atual pandemia de covid-19 e das graves consequências econômicas que poderão durar alguns anos, a atividade leiteira no Brasil é resiliente, e seu futuro é promissor quanto à oferta de mais e melhores produtos”

É possível também associar a composição do leite com informações sobre a genética do rebanho, e selecionar os animais com maior produção de sólidos, ou com componentes específicos, como o teor de caseína, importante para o rendimento de derivados lácteos, como queijos, ou a caseína A2, de mais fácil digestão.

Recentemente, além das análises acima, o Laboratório de Qualidade do Leite da Embrapa Gado de Leite, um dos pioneiros da RBQL, passou a oferecer, gratuitamente, resultados de nitrogênio ureico e caseína. Além disso, foi adotada uma logística de recebimento das amostras de leite dos clientes, que são buscadas por caminhões refrigerados nas propriedades e nos laticínios e fazendas, duas vezes por mês e em datas programadas. Esse procedimento proporciona mais segurança e confiabilidade aos resultados das análises.

Exemplos como o do Laboratório de Qualidade do Leite da Embrapa, que promove mais serviços para os produtores e indústrias da cadeia do leite, demonstram que, apesar da atual pandemia de covid-19 e das graves consequências econômicas que poderão durar alguns anos, a atividade leiteira no Brasil é resiliente, e seu futuro é promissor quanto à oferta de mais e melhores produtos.

O uso de informações geradas pela análise do leite em cumprimento às INs pelos laboratórios da RBQL, somado aos procedimentos mais complexos na propriedade, para fazer face ao “novo normal”, à nova realidade imposta pela pandemia de covid-19, demandam mais assistência técnica para produtores e laticinistas poderem operar em um nível de maior complexidade, garantindo a biosseguridade. Desta forma, produtores, indústrias e consumidores terão sustentabilidade na produção e alimento seguro à mesa.

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