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MERCADO

Rodrigo Silva

Analista de mercado da Scot Consultoria

Quando o assunto é suplementar, o produtor encontra momento favorável

O aumento no preço do leite tem possibilitado melhor poder de aquisição de alimentos concentrados em 2022 e 2023

A Região Centro-Sul do País é a principal produtora de leite nacional. Há, evidentemente, a questão cultural de produção, porém, esse status muito se deve à tecnificação da propriedade. Vivemos em um cenário de diminuição na captação de leite, com muitos pequenos produtores não resistindo às intempéries da economia, como o aumento do custo de produção, a queda no consumo e os grandes núcleos produtivos que os cercam. Dessa forma, a produção nacional acaba se concentrando.

O Estado mais populoso e que apresenta grande relevância na captação de leite é São Paulo. Logo, grande produtor e consumidor, mostra aos leitores um termômetro de relação custo-lucro para o setor.

A produção leiteira, como toda empresa no sistema que vivemos, precisa, necessariamente, gerar lucro sobre o produto manufaturado, então os custos na produção de leite devem ser menores do que a receita gerada.
Esses custos são diversos. A cadeia produtiva tem como pilares a mão de obra, a sanidade dos animais, os combustíveis, os fertilizantes, os defensivos agrícolas e a alimentação dos bovinos (suplementos e concentrados energéticos/proteicos).

Sendo a alimentação um dos principais custos, temos, como insumos centrais, o milho moído e o farelo de soja. Em uma relação na qual o milho tem 70% da composição da mistura dessa ração e o restante provém do coproduto da soja, obtemos um alimento genérico, mas que propicia ao leitor entender como está o cenário de custo com a suplementação do rebanho.

São Paulo, mencionado anteriormente, será a referência para o preço pago pelo litro de leite ao produtor e dos insumos (aqui utilizaremos milho grão e farelo de soja). A pergunta é: quantos quilos o produtor consegue adquirir dessa mistura ao vender um litro de leite?

Atualmente, a referência paulista de preço do litro de leite está em R$ 2,60, lembrando que este é o preço pago em fevereiro do captado em janeiro. Já a saca (60 quilos) de milho em grão, em fevereiro, fechou a R$ 87,29 e, no mesmo período, a tonelada do farelo de soja ficou em R$ 2.915,50.

Assim, em fevereiro, o produtor paulista obteve, a cada litro de leite vendido, a possibilidade de adquirir 1,051 quilo da ração. A dúvida que paira em nossas cabeças é se esse número é vantajoso para o produtor de leite.

A fim de explicar essa relação de troca, utilizamos os comparativos entre igual mês de anos anteriores. Assim, temos: em fevereiro de 2022, a relação de troca estava em 0,807 e, para igual mês de 2021, a 0,743.

Logo, definitivamente, estamos no melhor fevereiro para o produtor de leite, quando observamos apenas esses dois insumos. 

O gráfico mostra um comportamento parelho ao longo dos meses, sendo que, no período das secas, há um aumento na relação de troca, visto que o preço pago ao produtor tende a aumentar e, nos meses das águas, com a maior produção de leite, o preço acaba caindo e a relação acompanha.

Então, nos dois primeiros meses do ano, observamos um aumento expressivo. Comparando fevereiro/23 com fevereiro/22, houve um incremento de 30,2%, em relação a fevereiro/21, um aumento de 41,3%.

A dúvida final fica: este cenário mais positivo ao produtor deve seguir ao longo de 2023?

Ao observarmos o cenário de precificação do leite pago ao produtor, uma tendência a curto prazo é de incremento nos pagamentos de março e abril. Posteriormente, entrando no período das secas, geralmente há novos reajustes positivos no litro de leite.

Outro importante fator é que, com a menor captação dos últimos trimestres, temos uma oferta menor e o poder de compra do brasileiro está se reestruturando – segundo o IPCA o índice de consumo voltou aos padrões anteriores ao início da pandemia de covid-19. Esses pontos resultam em aumento no preço pago ao produtor de leite.

Para esta safra de milho, deveremos ter uma produção em bom volume e um dólar trabalhando em cotações não tão cavalares como nos anos anteriores. Assim, o preço da saca no mercado interno pode ser mais convidativo para os produtores. Entretanto, não deverá retomar aos patamares de R$ 40/saca. Mas a demanda internacional está mais firme este ano, resultando em cotações não tão frouxas.

Quanto à soja, há tendência de safra recorde no Brasil e a demanda interna e externa tende a manter o consumo constante. A cotação do farelo de soja segue a tendência da soja grão. Logo, uma demanda ajustada e oferta maior farão com que o preço dessa commodity trabalhe em menores patamares.

Porém, é importante lembrar que a participação do biodiesel no óleo diesel aumentará no meio do ano. Tal ajuste pode fazer a demanda pela soja aumentar, uma vez que o óleo de soja compõe a produção de biodiesel, e consequentemente um reajuste positivo no preço, só que não tão intenso como o observado em períodos de alta demanda internacional, do dólar e quebras de safras.

Dito isso, temos que o produtor de leite pode ter um ano positivo, quando observamos o comportamento dos preços dos insumos e do leite. Há tendência de preços mais firmes para o leite e os insumos de estáveis a quedas propiciarão isso.

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