balde branco
revista-balde-branco-goias-01-ed675

Com a atuação do projeto ATeG-Senar/GO, cada vez mais as propriedades leiteiras estão se profissionalizando

LEITE EM GOIÁS

Quarto maior produtor do país,

Goiás tem potencial

de avançar ainda mais

Um dos principais gargalos ainda é o baixo índice (20%) de propriedades leiteiras que contam com assistência técnica

Erick Henrique

Goiás mostra a força do cerrado, com a produção anual de mais de 3 bilhões de litros de leite, segundo dados do IBGE. No entanto, há muito trabalho pela frente para melhorar os índices zootécnicos e econômicos da maioria das fazendas, pois apenas 20% utilizam algum modelo de assistência técnica, de acordo com especialistas do Senar-GO

A profissionalização das propriedades leiteiras em Goiás, sobretudo nas principais bacias, que ficam na região centro-sul, foi responsável pelo Estado atingir produção de leite superior a 3,1 bilhões de litros por ano, conforme o mais recente levantamento do IBGE realizado em 2019.

Essa marca colocou a “Capital do Cerrado” na quarta colocação do ranking entre os maiores produtores do Brasil. Isso não é pouca coisa. Entretanto, a produtividade média ainda é baixa, com 1.597,5 litros/vaca/ano, inferior à média brasileira, que é de 2.068,8 litros/vaca/ano.

“No último estudo que fizemos sobre o diagnóstico da pecuária leiteira do Estado de Goiás, em 2019, cerca de 80% dos produtores de leite ainda não tinham nenhum modelo de assistência técnica, seja ele privado ou público, em suas propriedades. Isso revela o quanto de trabalho precisa ser feito para melhorar ainda mais a produtividade do setor”, explica Guilherme Bizinoto, gerente de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar-GO.

Guilherme Bizinoto: “Se juntássemos todo o nosso rebanho assistido, a média de produção vaca/dia seria de 8 litros a mais em comparação à do Estado de Goiás"

De acordo com gestor da ATeG, existem vários níveis de especialização e de implementação de tecnologias nas fazendas leiteiras do Estado. “No nosso caso, prestando assistência técnica, por exemplo, temos produtores que estão naquela média baixa de produção por animal, até aqueles que atingem por volta dos 10 mil/litros/vaca/ano. Ou seja, quando se pega o volume produzido em todo o Estado, divide-se pelo número de vacas ordenhadas, presentes nos 246 municípios goianos, com vários níveis de qualificação, obviamente o resultado é de produtividade baixa.”

Segundo Bizinoto, isso acontece tanto em Goiás como no Brasil, porque é necessário melhorar os índices de produtividade por área e também por animal. Dessa forma, pontua, a diferença com outros Estados é muito pequena. Agora, comparados aos principais países como Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia, que são a referência na produção leiteira mundial, a maior parte deixa muito a desejar nesse quesito.

“Portanto, o nosso trabalho na ATeG é pegar essas fazendas ineficientes do ponto de vista da produção e produtividade, bem como do aspecto econômico e gestão das atividades, e transformá-las em um sistema mais atrativo, principalmente levando rentabilidade para o produtor de leite”, avalia o especialista.

Para Bizinoto, os principais gargalos da pecuária leiteira são a baixa produtividade, que deve ser resolvida por meio da implementação de tecnologias como o uso do melhoramento genético no rebanho leiteiro – que já é uma constante na maioria das fazendas profissionalizadas –; a produtividade por área/animal; a taxa de lotação das pastagens, entre outros. “Porém, vale ressaltar que por meio dos esforços das universidades, da própria Embrapa, do Senai e Senar-GO, como uma instituição de extensão, que transfere tecnologia para o campo, isso já está sendo resolvido aos poucos.”

Diante desse cenário, os cinco princípios da ATeG são fundamentais. Começando com o diagnóstico individualizado da propriedade, em seguida vem o planejamento estratégico, uma importante etapa de pactuação dos objetivos que ocorre entre o produtor de leite e seu técnico de campo. Depois vem a adequação tecnológica, quando são feitas as recomendações pela equipe técnica que geram efeito direto em todo o sistema de produção.

Metas específicas


Produtor

• Capacitar para o empreendedorismo e a gestão do negócio
• Elevar a renda e a produtividade buscando eficiência e eficácia
• Aumentar a rentabilidade
• Estabelecer o perfil tecnológico, social e econômico
• Elaborar o planejamento estratégico da propriedade

Técnico

• Propiciar acesso ao mercado de trabalho
• Desenvolver a formação continuada
• Remunerar por mérito (renda fixa + variável)

(Fonte: ATeG do Senar-GO)

Apesar do baixo índice de assistência técnica nas propriedades leiteiras, é grande o número que utiliza o melhoramento genético do rebanho

Capacitação é fundamental – Em quarto lugar, surge a capacitação complementar, utilizando a experiência do Senar, com os cursos de curta e média duração, que complementam os conhecimentos trazidos pelo técnico de campo e auxiliam nas decisões tomadas pelo pecuarista. Fecha-se com a sistemática de resultados, que é o conjunto de ferramentas operacionais e tecnológicas desenvolvido pelo Senar-GO que apontam para o alcance do resultado ou sinalizam a necessidade de ajustes no planejamento da propriedade leiteira.

“A partir daí, o extensionista elabora, juntamente com o produtor, um planejamento para melhorar a produção de leite, mas nem sempre isso acontece rapidamente. Quando, porém, se melhora a produtividade, todos os indicadores zootécnicos e econômicos são afetados de forma positiva. Com isso, fazemos um balanço desses dados e os transformamos em números”, diz Bizinoto.

Além disso, conforme ele destaca, quando a equipe de campo do Senar começa os trabalhos de assistência ao produtor de leite, nota-se que a maioria dos pecuaristas não sabe o custo de produção, tampouco a sua margem bruta, líquida ou lucro total, quando são retirados todos os custos envolvidos na atividade. “Felizmente, a gente vê que o nosso produtor, ao fim do ciclo de dois anos, já sabe calcular os custos de produção, qual composição afeta mais na sua atividade.”

Em Goiás são oito cadeias produtivas do agronegócio que o Senar atende. Na ATeG, desde que se iniciou o projeto, em 2016, já foram atendidos cerca de 8 mil produtores. Atualmente, a equipe presta serviço para 3 mil pessoas, dentre elas 1.700 são produtores de leite, e isso sempre foi assim. No mínimo, conforme Bizinoto, metade dos produtores assistidos pelo programa é de bovinocultores de leite. Contudo, a meta da instituição é encerrar o ano de 2021 com cerca de 5 mil produtores ativos na iniciativa.

“Hoje, só para ilustrar, em termos de produção de leite, se a média no Estado é de 1.597,5/litros/vaca/ano, se calcularmos uma lactação de 365 dias, dá uma média diária de 5/litros/vaca, já a média dos nossos produtores assistidos pelo Senar-GO figura em 13/litros/vaca/ano. A vaca só produz essa quantidade? Claro que não, pois ela tem o pico de lactação, tanto que temos fazendas em que determinado lote produz cerca de 26 litros/leite/dia. Dessa forma, se juntássemos todo o nosso rebanho assistido, o volume de produção é de 8 litros de leite a mais em comparação à média do Estado de Goiás como um todo”, destaca Bizinoto.

Orientação da assistência técnica – Um exemplo que representa a evolução de muitos produtores goianos que incrementaram a atividade leiteira é o produtor Wilson Braz da Costa, proprietário da Fazenda Pastinho, em Anápolis (GO). Com orientação da ATeG, há seis anos na produção de leite, ele relata ter passado por maus bocados nos últimos anos, chegando até a pensar em desistir da atividade. Em 2018, desestimulado, esteve prestes a vender o rebanho e encerrar os contratos. Isso porque os gastos estavam maiores que os lucros na produção – que girava em torno de 4 mil litros de leite por mês, em sua propriedade de 74 hectares. Porém, em 2019, começou a vislumbrar um futuro mais promissor quando recebeu a visita do técnico de campo do Senar-GO, André Milhardes, que avaliou instalações, estrutura, genética do rebanho, área de utilização para a atividade, localização e lhe fez ver que a fazenda tinha um grande potencial, com base num projeto de reestruturação.

Wilson Braz Costa: Embora os desafios sejam muitos, com a atividade bem ajustada é possível ter receita líquida satisfatória

André Milhardes: A partir do diagnóstico feito na Fazenda Pastinho, de Wilson Braz Costa, traçamos junto com o produtor o planejamento para implementação de melhorias

“Melhoramos muito a produção de volumoso. Antes da ATeG, a produtividade da silagem de milho era de 30 t/hectare, chegamos ao fim do primeiro ano de assistência, na safra 2019/20, com a produtividade de 45 t/hectare e na safra 2020/21 com a marca de 62,5 t por hectare”, relata o produtor goiano.

Além disso, Costa também formou uma área com piquetes irrigados de tifton 85, e outra área com capim BRS Quênia. “Isso são apenas exemplos de como conseguimos aumentar a produtividade do rebanho, baixando o custo, apenas utilizando o que já tinha de disponível na propriedade.”

Atualmente o produtor está com 17 animais em lactação, produzindo em média 24 litros de leite por dia em duas ordenhas. “Antes da assistência técnica, estava com a produção de leite mensal de cerca de 4 mil litros e fechamos o primeiro ano de ATeG com cerca de 8 mil/litros/mês. E, no fim do ciclo de dois anos, já passava de 12 mil/litros/mês”, comemora o pecuarista de Anápolis.

Segundo ele, a assistência técnica do Senar-GO foi determinante para a sobrevivência na atividade leiteira e não somente isso: a renda do leite já possibilitou a compra de um tanque resfriador com capacidade de 2.000 litros, ensiladeira, e a construção de um silo trincheira para armazenar o volumoso.

“Estou construindo pista de tratamento, já visando comprar um vagão forrageiro e outros implementos para otimizar a produção. Tenho como meta chegar ao fim de 2021 com produção diária de 600 litros/leite/dia, ou seja, 18 mil/litros leite/mês. Embora os desafios sejam muitos, com atividade bem ajustada é possível ter receita líquida satisfatória. Enfim, tudo isso graças à assistência técnica e gerencial do Senar, que não somente apontou a direção para minha atividade, como também caminhou junto até que os resultados positivos se concretizassem”, arremata Costa.

Cadeia do leite em GO


• Produz 3,1 bilhões de litros de leite, representa 10,6% da produção nacional

• 70 mil propriedades têm o produto como principal fio condutor da fazenda

• As maiores bacias leiteiras estão concentradas nos municípios de Piracanjuba, Orizona, Jataí, Rio Verde e Morrinhos

• As regiões sul e centro são as maiores responsáveis pela produção leiteira do Estado, com 46,9% e 33,4, respectivamente

• 4ª maior bacia leiteira do País

• Apenas 20% dos produtores utilizam algum tipo de assistência técnica

• Senar-GO, por meio da ATeG, presta assistência para 1.700 produtores

• Goiás possui cerca de 200 laticínios

• Há 12 laticínios goianos habilitados a exportar, conforme relação do Ministério da Agricultura

• Exportações de lácteos de Goiás movimentaram US$ 312.113, em 2019

 

(Fontes: IBGE, Ministério da Economia, Senar/GO, Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento-Seapa)

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?