balde branco
revista-balde-branco-medico-veterinário-01-ed678

DESTAQUE

Quem tem parceiro bom,

TEM TUDO

O papel do médico veterinário na saúde do rebanho e na saúde financeira da propriedade leiteira, e a importância de contar com o apoio de laboratórios especializados para o trabalho a campo

Angela Balen*

O aparecimento de doenças que não são solucionadas pelo diagnóstico inicial está entre as maiores preocupações do médico veterinário que atende propriedades leiteiras. Examinar, diagnosticar através dos sintomas que o animal está manifestando, tratar e não curar. Ou, pior ainda, se surgirem mais casos com a mesma sintomatologia que não foi possível curar, é extremamente frustrante para o médico veterinário e muito preocupante para o proprietário dos animais acometidos por enfermidades. Neste texto, publicado nesta edição de setembro, em que se comemora o Dia do Veterinário, vamos falar um pouco do nosso trabalho, como profissionais da sanidade animal que, muitas vezes, vai além dessa particularidade, tendo uma ação mais ampla e especializada em sistema de produção para atender às necessidades da fazenda leiteira.

Uma forma importante de apoio ao diagnóstico veterinário é contar com exames e testes variados, feitos por laboratórios especializados, que trazem maior precisão quanto à identificação das causas do problema que está afetando o animal. Por exemplo, a necropsia, por meio da qual o médico veterinário faz um exame exploratório no animal morto, buscando órgãos que apresentem aspecto irregular, diferente do aspecto do órgão sadio. E, mesmo quando os órgãos aparentam estar com aspecto visual considerado normal, uma parte de cada órgão deve ser enviada ao laboratório para análise no microscópio. Assim será possível saber se as células sofreram alguma alteração que indique o tipo de agressão que o órgão possa ter sofrido, ao ser afetado por bactérias, vírus, fungos e outros agentes causadores de enfermidades.

Há 20 anos, exames laboratoriais e anatomopatológicos (exame feito a partir de tecidos dos órgãos do animal morto) só eram possíveis em laboratórios das universidades que tinham o curso de Medicina Veterinária, o que muitas vezes tornava o envio da amostra difícil e caro de ser feito. Ainda havia laboratórios humanos que prestavam alguns tipos de exames, porém sem ter como fazer laudos, pois os parâmetros dos exames de bovinos são diferentes dos parâmetros dos exames de humanos. Com isso, o veterinário ficava no escuro.

Lembro-me dos inúmeros antibiogramas de vacas com mastite que solicitei ao laboratório do hospital humano do pequeno município onde eu trabalhava. Gentilmente, o bioquímico fazia a cultura e o antibiograma do leite com mastite, porém muitas vezes os antibióticos que ele possuía eram de uso humano. E lá íamos nós resolver aqueles problemas. Vem-me à memória que, na época, comecei a pedir para os vendedores de medicamento antimastite que me fornecessem os discos de antibiograma dos seus princípios ativos.

Ainda bem que o mundo evolui e a tecnologia chega ao campo, pelas mãos de profissionais capacitados e que vivem a realidade do tratamento clínico dos rebanhos leiteiros.

Neste ponto, vou falar de um exemplo que conheço de perto e que, com certeza, deve haver muitos outros pelo Brasil afora. Refiro-me ao caso do Provalab, um laboratório criado em 2013 pelos médicos veterinários Valmir da Cunha Vieira e Elaine Longhi Vieira, no município de Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná, a 386 km de Curitiba. Nessa região há grande concentração de propriedades leiteiras e, de acordo com a Emater, a bovinocultura de leite está presente em todos os 42 municípios do sudoeste paranaense.

Elaine: o laboratório especializado contribui para a agilidade e segurança na identificação das causas das doenças para embasar o correto diagnóstico feito pelo veterinário a campo

Trata-se de um laboratório específico veterinário, que proporciona apoio ao diagnóstico de campo a veterinários e produtores de leite, permitindo agilidade e segurança nos exames, pois estes são processados e interpretados por médicos veterinários. “O Provalab faz exames de sangue que incluem avaliações do fígado, hemogramas, fezes, leite, exames para doenças reprodutivas, análise de alimentos para balanceamento de dietas e análise de solo”, informa a médica veterinária Elaine.

O diagnóstico correto da enfermidade que afeta o bovino de leite possibilita o tratamento adequado, reduzindo o tempo de convalescença do animal, assim como o período em que o animal ficará fora da produção. Ou seja, a vaca retornará mais rápido à produção normal e a contribuir para o caixa da fazenda. Esse encurtamento do tempo de retorno à produção obtido pela assertividade do diagnóstico é uma ferramenta importante na redução dos custos de tratamento, já que o laudo dos exames orienta o médico veterinário ao tipo de tratamento a ser aplicado nos animais.

Houve um caso que chegou ao laboratório, em que os animais de uma propriedade leiteira estavam sendo tratados para tristeza parasitária (TPB) e duas vacas tinham morrido. Ao realizar o exame de sangue das vacas doentes, não foi encontrado o parasita causador da tristeza parasitária, mas foi identificado que um vírus causava a enfermidade e, determinada bactéria, a infecção.

Esse caso mostra a importância do exame, que custa cerca de R$ 30. Considerando o valor gasto na medicação dos animais tratados para tristeza, tudo foi jogado fora. Além disso, há que se computar a baixa na produção do leite que deixou de entrar no resfriador pela morte dos animais produtivos e o valor dos animais mortos por não se ter o diagnóstico correto.

Após a identificação do que realmente estava ocorrendo, os animais foram tratados com terapia de suporte para passar pela crise que estavam vivendo, e em seguida foram vacinados. Assim, o produtor não perdeu mais nenhum animal. Esse caso ilustra bem que um exame considerado simples, rápido e barato, pode salvar animais e a produção da fazenda.

Nas palavras de Valmir Vieira, “o foco do laboratório é auxiliar o veterinário de campo, que muitas vezes só tem o exame clínico para basear seu diagnóstico, e nem sempre o exame clínico é conclusivo”. Como o corpo técnico do laboratório é de veterinários, o técnico de campo pode contar com eles para definirem o melhor caminho a seguir no tratamento dos animais enfermos, de forma a reduzir custos e preservar a sanidade do rebanho, evitando prejuízos ao produtor.

Valmir C. Vieira: “Os exames laboratoriais são uma ferramenta relevante de gestão, pois reduzem gastos desnecessários com medicamentos, garantem menos horas de trabalho e reduzem o estresse de manejo dos animais”

Ferramenta de gestão – Ressalta ainda o médico veterinário outro exemplo da importância dos exames. Nas vezes em que fez exame de OPG (que determina, no caso de helmintos, o número de ovos por grama de fezes), em várias situações de animais confinados em galpões, o exame mostrou zero ovos por grama, o que dispensaria o uso de anti-helmintos. Isso demonstra ser uma ferramenta relevante de gestão, pois reduz gastos desnecessários com medicamentos, menos horas de trabalho e estresse de manejo dos animais.

Os exames laboratoriais, como ferramentas de decisão, auxiliam a gestão à medida que contribuem com o ajuste dos manejos nas fazendas leiteiras. A utilização dos exames bromatológicos, por exemplo, permite determinar o balanceamento nutricional, proporcionando maior produção de leite e utilização racional dos alimentos, ao possibilitar saber qual o valor do alimento pela sua composição e pelo potencial produtivo.

Assim, o produtor tem mais segurança em avaliar se é viável ou não a utilização do ingrediente pela sua conversão em leite ou carne. Desta forma, se reduz, e muito, o uso de alimentos que zerem ou tornem negativa a margem líquida da atividade. Assim se trabalha pela lucratividade, objetivando a sustentabilidade dos sistemas de produção e diminuindo o risco de endividamento da propriedade.

Os exames complementares são de extrema importância na sanidade do rebanho, como é o caso da cultura do leite, que permite identificar o agente que está causando a mastite, assim como o antibiograma para identificar o antibiótico que tem capacidade de combater o agente causador da doença. Esse exame reduz o número de tratamentos por evento de mastite no rebanho leiteiro, já que no primeiro tratamento tem-se a cura da mastite.

Com isso, tanto o tempo de duração da mastite quanto a extensão da lesão ocasionada pela bactéria são menores. Consequentemente, há também menor substituição do tecido epitelial produtor de leite por tecido fibroso que não produz leite, bem como reduz o volume do leite de descarte, pois a assertividade no tratamento impede ou diminui os casos de insucesso dos tratamentos.

A cultura é importante também por permitir identificar os agentes mais frequentes na propriedade, revelando os pontos ou locais onde estejam ocorrendo falhas de manejo, que propiciam esses patógenos se instalarem e causarem danos à glândula mamária.

Antibiograma, exame que identifica qual antibiótico mata a bactéria causadora de mastite. Cada disco branco é impregnado de um antibiótico específico. Os indicados para tratamento são os que, ao serem colocados sobre a amostra, conseguem eliminar o agente causador da doença.

A razão de todo o trabalho realizado na propriedade é o negócio leite e a família do produtor de leite. As vacas, estando saudáveis e produtivas, cumprem uma função social, ao produzir leite que gera renda para manter famílias no campo. O que importa é o quanto cada vaca deixa no exercício financeiro da propriedade. Uma preocupação constante nas fazendas é a reprodução das vacas, porém o controle reprodutivo é o resultado de várias ações bem feitas, como manejo alimentar, manejo de cocho, manejo reprodutivo, escore de fezes, relação gordura e proteína do leite, resfriamento das vacas, entre outras.

Quando o controle reprodutivo vai bem em uma propriedade, nascem bezerras saudáveis para a reposição, que devem ser recriadas e colocadas na linha de produção. Há que se atentar para não perdê-las no futuro para o deslocamento do abomaso, por exemplo, pois as novilhas, além da reposição, podem também ser fonte de renda, pela comercialização dos animais excedentes criados e que não vão compor o rebanho originário.

O papel do médico veterinário é cuidar para que as vacas produzam e estejam saudáveis, de modo que o produtor de leite não tenha gastos desnecessários com medicamentos ou perda precoce de animais produtivos. Quando esse profissional colabora para a saúde e o bom desempenho produtivo do rebanho leiteiro, colabora também com a função social de gerar renda.

Vale ressaltar que sua missão é de suma importância nessa cadeia produtiva. Cada fazenda que o veterinário deixa morrer por ineficiência técnica, mesmo acompanhando-a mensalmente, é uma perda social e econômica muito grande. E isso pode ocorrer, muitas vezes, por não olhar a gestão, o controle financeiro, por não se atentar aos custos de produção, não se ater a identificar a melhor receita sobre o custo alimentar, a sucessão, a condição de vida da família, os sonhos que a família tem e que dependem da remuneração da propriedade para a realização desses sonhos.

Quando o produtor de leite confia o rebanho nas mãos de um médico veterinário, junto está depositando os sonhos dele e da família, a continuidade do negócio, o futuro da família, pois as tecnologias aplicadas na propriedade devem produzir bem-estar animal e lucro para a saúde financeira da propriedade e da família proprietária do estabelecimento produtor de leite, citando as palavras do médico veterinário Valmir.

Amostras de materiais colhidos de animais em exames laboratoriais. (Respectivamente, exame OPG (ovos por grama de fezes), cultura de leite para identificação do agente causador de mastite; exame de antibiograma

A atenção à saúde dos animais, de forma a mantê-los saudáveis, em condições de conforto e bem-estar para que possam expressar suas capacidades produtivas, racionalizando custos, gerando lucro e promovendo desenvolvimento social e financeiro, este é o papel da assistência técnica.

 

*Médica veterinária, consultora do Sebrae-RS e instrutora do Senar-RS. Sócia da Agrosynergia, consultoria no PR, e da Bioleite Treinamentos, no RS e SC

Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?