A raça Girolando foi oficializada pelo Ministério da Agricultura em 1996, na conformação Puro Sintético e 5/8 Holandês e mais 3/8 de sangue Gir Leiteiro. De acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, estima- se que 80% da produção nacional de leite seja feita com animais da raça. Pensando em todo potencial e relevância do rebanho Girolando, a Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu) lançou, em parceria firmada com a associação, a Vitrine Tecnológica da Raça Girolando (VTG), em Uberaba (MG).
Além disso, conforme o levantamento da associação, cada vaca Girolando produz, em média, 5.671 kg de leite, durante uma lactação de 270 dias. Em oito lactações, uma vaca Girolando é capaz de alimentar aproximadamente 250 pessoas. Cada brasileiro bebe, em média, 166 litros de leite por ano.
Esses resultados de produção leiteira das vacas Girolando são expressivos, principalmente quando comparados à média nacional de produção por animal verificada em 2020, que foi de 2.192 litros/vaca/ano, aumento de 2,37% ante 2019, segundo dados do IBGE. Em 2020, 16,1 milhões de vacas foram ordenhadas, 137 mil animais a menos do que em 2019. Esse movimento, associado ao aumento na produção nacional, denota maior produtividade do rebanho leiteiro, aponta o mesmo levantamento.
A evolução da raça continua com o uso da ciência e tecnologia e, agora, da avaliação genômica, na qual é possível identificar as qualidades dos touros antes de multiplicar a sua genética, garantindo o nascimento de gerações superiores da raça Girolando. Tudo isso deixa produtores e selecionadores orgulhosos e otimistas quanto ao desenvolvimento do rebanho Girolando, especialmente por se tratar de uma raça que foi reconhecida há apenas 26 anos.
Vitrine Tecnológica Girolando – A vitrine está localizada na fazenda modelo da Fazu para possibilitar aos produtores mais acesso às inovações da pecuária leiteira. Na avaliação do presidente da Girolando, Odilon de Rezende Barbosa Filho, essa parceria tem como objetivo estabelecer um relacionamento contínuo entre a faculdade e a associação, para levar diversos benefícios aos criadores, estudantes e técnicos. Será um “laboratório a céu aberto” em uma das instituições de ensino mais tradicionais do País.
“O projeto Vitrine Tecnológica da raça Girolando era uma iniciativa que já havia existido alguns anos atrás, mas que foi retomada em 2021, a partir dessa nova parceria, sendo um acordo de cooperação técnica entre as instituições.
A maior intenção da VTG é trabalhar na formação de um rebanho Girolando 5/8, Puro Sintético, e, com a associação de criadores localizada em Uberaba, próximo de uma instituição de ensino, a Fazu, isso foi muito importante”, explica Lívia Carolina Guimarães, professora de zootecnia e coordenadora de projetos da Fazu.
Segundo ela, a expectativa é de que a VTG possa ser uma vitrine de pesquisa, capilaridade para os alunos recém-formados que sairão da faculdade com maior conhecimento técnico sobre a raça Girolando.
Outro aspecto importante é que esses animais se desenvolvem dentro do plantel leiteiro, servindo como fonte de conhecimento também para os produtores de leite, que querem saber mais sobre esse plantel e como eles conseguem melhorar seu rebanho a partir do melhoramento genético.
Para ampliação do rebanho, a associação doou 20 doses de sêmen de touros participantes do Teste de Progênie. Esse material genético está sendo utilizado para inseminar as fêmeas do plantel da Fazu. “Além dos pontos positivos citados, os benefícios desse projeto vão além. Nos próximos anos, uma vez que as vacas foram inseminadas recentemente com material de touros Girolando selecionados e testados pela prova progênie da associação, vamos acompanhar dentro da Fazu o desenvolvimento de dados zootécnicos, idade à primeira cobertura, dentre vários outros índices de suma importância para uma fazenda leiteira”, diz Lívia Magalhães.
De acordo com a professora da Fazu, atualmente o VTG conta com 18 vacas Girolando em lactação, que produzem no total, em média, 300 kg de leite por dia. Essa produção é fornecida a uma cooperativa de Uberlândia, filiada à CCPR, sob a marca Itambé. “Na minha avaliação, o grande benefício da vitrine tecnológica é este: aprimorar o nosso rebanho leiteiro, melhorar a produtividade e ainda servir como modelo para os criadores que buscam adquirir esse conhecimento, além de servir como um ótimo exemplo prático para os alunos da Fazu, enquanto graduandos nos cursos de zootecnia, agronomia e agronegócio.”
Para o superintendente técnico da Girolando, Leandro Paiva, é uma grande oportunidade para os acadêmicos da Fazu e seus visitantes, como produtores de leite e profissionais do agronegócio, conhecerem mais de perto a raça Girolando e suas características, bem como uma excelente oportunidade para realização de estudos e pesquisas sobre a raça, em parceria com a Fazu e com outras instituições de pesquisa e ensino. “Nesse espaço iremos demonstrar o dia a dia de uma fazenda de gado de leite que tem como foco a produção sustentável com gado Girolando.”
Segundo Paiva, existe uma equipe técnica da associação que é responsável por acompanhar e executar algumas atividades no rebanho, como o Serviço de Registro Genealógico da Raça Girolando (SRGRG) e o Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG). “Como o projeto teve início há pouco tempo, ainda temos muitas atividades a serem feitas. No entanto, já realizamos o registro genealógico dos animais e iniciamos o controle leiteiro oficial. Com isso, já demos início à coleta de fenótipos que serão utilizados nas avaliações do PMGG, que são realizadas anualmente em parceria com a Embrapa Gado de Leite.
A coleta de fenótipos é um dos grandes benefícios da vitrine e é um processo contínuo, executado tanto pela equipe de colaboradores e acadêmicos da Fazu, bem como pela equipe técnica da associação.”
Diferenciais do Girolando 5/8 – Na avaliação do superintendente técnico da associação, o grande diferencial da composição racial 5/8, que também é a composição racial do Puro Sintético (PS), é a maior padronização e homogeneidade de suas características e a menor segregação de genes, quando o assunto é formação de raça, ou seja, cruzamento entre fêmeas e machos da mesma composição racial. Além disso, os animais apresentam excelentes índices de produção e de reprodução.
“Cerca de 30% dos animais ativos pertencem à composição racial 5/8 Holandês + 3/8 Gir e do Puro Sintético. Esse porcentual vem aumentando ano após ano, uma vez que os cruzamentos das demais composições raciais vêm gradativamente sendo direcionados para esse fim. Como o PMGG é o alicerce da raça, podemos afirmar de que o 5/8 e o PS são cruciais para o sucesso do programa de melhoramento”, destaca Paiva.
Além disso, o especialista da associação explica que a raça Girolando propriamente dita é fixada na composição racial 5/8 Holandês + 3/8 Gir, por meio do cruzamento entre animais dessa mesma composição racial, obtendo assim o Puro Sintético da Raça Girolando (PS), conforme determinação do Ministério da Agricultura, por ocasião da oficialização da raça, em 1º de fevereiro de 1996.
Conforme ele, por essa razão, a associação tem o compromisso de divulgar e incentivar sempre a criação da raça propriamente dita. Essa campanha visa atender justamente a tal propósito, bem como divulgar suas qualidades e características. “No entanto, todas as composições raciais são importantes, pois todas elas fazem parte do processo de seleção e de consolidação da raça Girolando, possuindo também qualidades e características de grande interesse zootécnico. Costumamos dizer que não existe uma composição racial ideal, mas sim um grupo genético de animais que conseguem atender aos interesses dos produtores de leite e criadores”, diz.
Paiva ressalva ainda que cabe a cada a pecuarista explorar o potencial dos animais de acordo com o sistema de produção e com base em seus interesses. “Por isso, dizemos sempre que a raça atende aos interesses desde o pequeno até o grande produtor de leite, por ser muito versátil e produtiva.”
Referência na raça Girolando – No município de Mogi das Cruzes (SP), o criador Eugênio Deliberato acreditou, no ano de 2000, no potencial do rebanho Girolando 5/8 para melhorar os resultados da propriedade e só teve motivos para comemorar. De lá para cá, ele já foi pentacampeão nacional entre os criadores que utilizam a composição racial 5/8 da raça.
“Quando comecei o criatório Girolando Delib, há 22 anos, pesquisei várias raças leiteiras e manejos e decidi pelo Girolando, por ser um animal rústico, dócil e de fácil adaptação a diferentes ambientes”, conta o produtor, dizendo que, no início, adquiriu animais dos principais criatórios da raça, e, logo no começo do projeto, começou a focar em selecionar animais Girolando no grau de sangue 5/8. “Pois essa é a composição na qual o Ministério da Agricultura decidiu como sendo o grau de fixação da raça”, recorda Deliberato, que também é vice- presidente da associação.
O criador informa também que possui uma pequena propriedade, onde produz atualmente cerca de 1.150 litros/leite/dia, onde faz um trabalho de melhoramento genético da raça. “Comecei com o uso de inseminação artificial e atualmente trabalho quase exclusivamente com transferência de embriões e totalmente focado na produção do 5/8 e do PS. O meu manejo é rústico em piquetes e com complementação com silagem e concentrado”, diz.
Ele participa do PMGG promovido pela associação, realiza o controle leiteiro oficial da Girolando e, com esse trabalho, já possui alguns touros 5/8 em coleta em centrais de sêmen.
Nesses mais de 20 anos trabalhando com o programa de melhoramento genético, Deliberato pôde observar e comprovar por meio de resultados de produção e econômico o quanto houve de evolução no gado Girolando 5/8 na propriedade. “Entre as características que buscamos por meio do melhoramento, quero destacar algumas: longevidade, embora mesmo no início do meu criatório tivesse um baixo índice de descarte. Com o passar dos anos, os animais foram ganhando muito mais qualidade no sistema mamário e locomotor, entre outros, que contribuíram para que essas vacas permanecessem por muito mais tempo produzindo na fazenda.”
Além disso, para o proprietário da Girolando Delib, a adaptabilidade é sem dúvida uma das maiores qualidades da raça, característica de suma importância para a bovinocultura leiteira brasileira com diferentes regiões, climas e sistemas de manejo. Ele nota que, em sua propriedade, os animais enfrentam barro no período chuvoso, pasto ruim no período seco e mesmo assim continuam com bons níveis de produtividade. “Da mesma maneira, tenho amigos produtores trabalhando com vacas Girolando no compost barn com resultados ainda melhores. Agora, quanto à fertilidade do plantel, tenho atualmente as novilhas Girolando parindo na sua maioria com 24 a 27 meses, e o melhor – um bezerro ao ano”, conclui.
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