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Vacas da raça Simental na ordenha, na Fazenda JR

GENÉTICA

RAÇA SIMENTAL

Produzir leite sem perder na carne

Conhecida por sua dupla aptidão, a raça Simental é alvo de busca, em todo o mundo, de um gado cada vez mais adaptado, fértil e produtivo. No Brasil, os polos de produção passam a investir em controles oficiais para gerar dados da genética brasileira

Lídia Grando

Uma raça que busca ser “fitness”, já pensou nisso? Essa é a nova palavra na seleção genética da raça Simental. Diferente do senso comum, a característica “fitness” remete à adaptação. Este é o ponto alto já trabalhado pelos selecionadores de Simental para o leite e que está sendo potencializado em todo o mundo. O intuito é que as vacas se mantenham produtivas e férteis por mais tempo, reduzindo custos de reposição e garantindo a sustentabilidade do sistema. A característica se reflete também nos cruzamentos com o Simlandês, que é o Simental com Holandês, ou o Simbrasil leiteiro.

“Somos a maior raça do planeta, superada em quantidade de animais apenas pelo Holandês, isso porque a raça Simental tem muita facilidade para se adaptar e responder aos objetivos de seleção de cada criador, sem perder sua característica secundária”, explica Alan Fraga, presidente da Associação Brasileira de Criadores das Raças Simental e Simbrasil (ABCRSS).

Portanto, se o objetivo é trabalhar para o leite, o produtor passa a ter cada vez mais resultados produtivos, com mais litros de leite por animal, mas não perde o ganho em carne. O oposto também é verdadeiro: as linhagens que se especializam em corte têm como bônus uma boa produção de leite para criar bem o bezerro. “É a dupla aptidão na prática. Algo que só o Simental oferece com bom desempenho”, conclui Fraga.

Alan Fraga: a raça Simental tem muita facilidade para se adaptar e responder aos objetivos de seleção de cada criador, sem perder sua característica secundária

Avançando no tema, o “fitness” significa trabalhar ainda mais características como longevidade, persistência de lactação, fertilidade, facilidade de parto, vitalidade, saúde de úbere e facilidade de ordenha, explica Alexander Manrique Gomez, da Genetic Austria, empresa que trabalha com a seleção de touros e produção de sêmen na Europa. “O gado que é forte, resistente e adaptável na fazenda, terá facilmente, como consequência, boa produtividade, seja para o corte ou para o leite”, afirma Gomez.

O técnico ainda comenta a importância da curva de lactação mais plana. “É mais saudável, pois picos de lactação têm uma correlação com problemas metabólicos”, explica ele, sobre o que se busca para a raça. O programa desenvolvido pela Genetic Austria é baseado em dados genéticos, a partir de informações de 300 mil vacas, sendo que são selecionados 2.400 candidatos, resultando em 60 touros jovens. Destes, seis são testados ao ano. “São dados consolidados baseados em um rebanho em que o Simental tem 85% de participação”, comenta Mário Coelho Aguiar Neto, da Taurus Genetica, que conhece o trabalho feito na Áustria.

No Brasil, além da linhagem austríaca, há importantes trabalhos de seleção para o leite com linhagens alemãs e a francesa Montbeliard. Além disso, com o apoio da associação de criadores, cresce a demanda por um controle leiteiro unificado, algo que em breve deve ser adotado.

Vacas da raça Simental e Simlandês em sistema compost barn (Fazenda JR)

Genética do Brasil – No Brasil, a genética direcionada para a aptidão leiteira é selecionada há décadas e vem duplicando seu rebanho a passos largos, graças à transferência de embriões de bancos genéticos.

Em Itapetininga (SP), está na Fazenda JR, de Rogério Naim Sawaia, com Simental Puro e Simlandês, o rebanho ampliado a partir do investimento em 150 embriões a partir de 2018. “É uma raça que responde de forma muito produtiva ao tratamento que lhe é dado, além da qualidade do leite, rico em sólidos; alta fertilidade e docilidade”, afirma o produtor, que tem em sua base animais da matriz Aramis, recordista em produção, com 14.000 kg/lactação. “É uma linhagem extremamente produtiva e rústica”, afirma o médico veterinário Paulo Roberto Tonin, que direciona o trabalho técnico.

Em sistema de compost barn, Sawaia tem 40 vacas em lactação, com média de 23 kg/dia, chegando a picos de lactação de 50 kg/dia com vacas Simental. “Entre as vacas controladas, está Tinda, uma matriz pura que, com 220 dias de controle, produziu 6.266 kg, com projeção de ultrapassar os 8.000 kg em uma lactação”, conta Tonin. O rebanho segue em formação, já que tem 140 fêmeas, entre bezerras e novilhas Simental e Simlandês. “A alta demanda nos leva a investir nos processos de multiplicação e hoje temos muito mais genética disponível do que quando comecei”, afirma o criador.

Paulo Tonin: entre as vacas controladas, está Tinda, uma matriz pura que com 220 dias de controle produziu 6.266 kg, com projeção de ultrapassar os 8.000 kg em uma lactação

Rogério Naim Sawaia: é uma raça de alta fertilidade e docilidade, que responde de forma muito produtiva ao tratamento que lhe é dado, além da qualidade do leite, rico em sólidos

Além da produção leiteira, Sawaia destaca o aproveitamento dos machos para corte, uma renda extra para o produtor. Em experimento realizado na fazenda, com dieta de alto grão, foram abatidos bezerros de 14 meses com mais de 50% de rendimento. “Acredito neste ganho que o Simental oferece, que pode ser somado a rebanhos de alta produção”, afirma, sobre o lucro extra da venda dos machos e do descarte para o corte.

 

A força da dupla aptidão – “Nossa raça é diferenciada pela facilidade que tem de cruzamento com raças leiteiras, como também com as raças de corte, além de ser a única com informações produtivas sobre leite e corte do mesmo animal”, comenta o produtor Paulo Procopiak Aguiar, da Simental PPA, de Ponta Grossa (PR).

“Esse é o cerne da raça, que permite muitas ramificações cuja seleção pode ser direcionada em cada região”, afirma, ao lembrar da importância do valor agregado da produção, já que está em uma região de terras valorizadas pela concorrência com os grãos. Além do animal puro, o criador também trabalha com o gado Simlandês.

Atualmente localizada em uma das maiores bacias leiteiras do País, a Simental PPA faz o cruzamento com as raças leiteiras visando à maior rentabilidade do rebanho. Tem 70 vacas em duas ordenhas diárias, com média de quase 20 kg/dia, com animais que superam os 50 kg. Neste ano, desde janeiro a empresa começou o controle leiteiro interno e segue em expansão do rebanho.

A raça Simental se destaca pela facilidade que tem de cruzamento com raças leiteiras, como também com as raças de corte, além de ser a única com informações produtivas sobre leite e corte do mesmo animal

Simental queijeiro – Um dos queijos artesanais mais famosos do interior paulista é produzido com leite de vacas Simental, na Fazenda Santa Luzia, do casal Martin Breuer e Maristela Nicolellis, em Itapetininga (SP). Em depoimento recente, Breuer defendeu o Simental como a raça ideal para melhorar a rentabilidade, economicidade e sustentabilidade do negócio. “O Simental reúne em si todas as características necessárias para isso: alto teor de sólidos, especialmente proteínas; persistência leiteira, tendência para baixa CCS, versatilidade genética para escolha da relação ideal entre leite e carne, valorização da vaca erada para engorda e abate, entre outros.”

À frente de um projeto delicioso e inspirador, ele motiva outros criadores da raça a verticalizar a produção. Um dos exemplo é Ubiratã Rocha Ferreira, da Schuamfer Simental, em São Miguel Arcanjo, município paulista próximo, que tem um rebanho rústico fechado na genética alemã. “Como temos disponível esse leite de qualidade de nosso rebanho, resolvemos agregar valor iniciando uma queijaria”, afirma, sobre o projeto que já tem nome: Portal da Reserva. “Além da venda de genética, teremos um segundo produto na propriedade”, afirma o criador, que dá prioridade a uma produção a pasto para manter a rusticidade do rebanho. A queijaria já está pronta e o leite é exclusivo de rebanho Simental ou cruzamentos.

Animais Simlandês, da Fazenda JR

Simbrasil focado em leite – Raça sintética formada pelo cruzamento entre 5/8 Simental e 3/8 Zebu, o Simbrasil tem um grupo de trabalho focado na seleção de animais para o leite, algo que também é amplamente utilizado em países da América do Sul, que já adquiriram muita genética brasileira. Fazer um trabalho de seleção voltado a esse mercado, como também à demanda interna, motiva os criadores a ampliar seus projetos.

Um dos rebanhos focados nesse trabalho é a Saexi Agropecuária, com sede em Itabira (MG). A empresa, que já seleciona a raça para corte há décadas, adquiriu em 2020 o banco genético, embriões, sêmen e animais da marca Du Simbrasil, de Eduardo Ferreira da Silva. Esse criatório vem fazendo o controle leiteiro oficial há quase 20 anos, evidenciando a alta produção de leite de suas matrizes, aliada à produção de carne.

 

Animais Simbrasil, além do leite em quantidade e qualidade, também produzem bezerros pesados, de alta liquidez no mercado (animais da Saexi Agropecuária)

“A aquisição faz parte de um projeto de ampliação do rebanho Simbrasil para atender à pecuária de leite e de corte, com trabalhos de seleção que agora se completam”, afirma Bernardo Vasconcellos, um dos titulares da Saexi.

Douglas Gonzaga, diretor técnico e médico veterinário da empresa, reconhece que dois pontos, em especial, motivaram a ampliação do trabalho de seleção: a localização em uma importante bacia leiteira e a versatilidade da raça para atender a diferentes mercados. “O Simbrasil selecionado para produção leiteira intensificada permite o aumento da produção de leite em quantidade e qualidade, além da produção de bezerros pesados e de alta liquidez no mercado de corte”, afirma.

O Simbrasil também tem o diferencial de poder ser utilizado com sucesso no cruzamento com as fêmeas F1, como a Girolando, mantendo rusticidade e alta produtividade. “Podemos ofertar animais diferenciados a todos os sistemas de produção leiteiros, sejam intensivos ou extensivos”, afirma Gonzaga.

EXPOSIÇÃO NACIONAL COM 500 ANIMAIS EM PISTA DIGITAL

 

A pandemia não parou os criadores das raças Simental e Simbrasil e do gado Simlandês, que vão realizar em julho a edição 2021 de suas exposições nacionais. O evento pretende reunir, de forma especial, mais de 500 animais, com a participação de criadores de todo o Brasil, inclusive de Estados com restrições sanitárias.

Sua realização será exclusivamente em formato digital, por causa da pandemia de coronavírus, com os animais filmados e apresentados para avaliação dos jurados. Haverá cinco grupos em julgamento, entre eles, um de Simental de dupla aptidão, ou seja, com maior enfoque de seleção para o leite e também o julgamento de gado Simlandês, além do Simbrasil e Simental e Simental brasileiro.

O evento estará disponível na internet de 6 a 17 de julho e conta em sua programação com um leilão especial para o leite no dia 15. Os criadores estão animados pela valorização de mercado ano a ano. “Há três anos a média mais que dobrou, passando de R$ 5.000 para R$ 11.000”, comenta Eduardo Matuck, da Nova Leilões, que trabalha com eventos da raça no ano e será o responsável pelo leilão da exposição. Mais informações: em simentalsimbrasil.org.br/expovirtual/

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