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TENDÊNCIAS

Pedro Braga Arcuri

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite

"Produtores profissionais sabem que os investimentos feitos hoje serão fundamentais para que seus netos produzam leite tropical em propriedades sustentáveis”

Reduza sua pegada hídrica

Outubro trouxe as primeiras chuvas para boa parte das bacias leiteiras no Brasil. Alívio certo. Porém, a água será sempre um recurso precioso. Por isso, adotar práticas e tecnologias que diminuam a “pegada hídrica”, isto é, que utilizem a menor quantidade possível de litros de água para cada litro de leite produzido, ou processado, é uma tendência irreversível, determinante para a cadeia produtiva do leite em todo o planeta. Estudos indicam que, no Brasil, a produção de leite utiliza, na média, 100 litros por vaca durante o processo de ordenha, somado ao que cada vaca bebe e ao que se gasta na produção de forragens. O resultado para o leite brasileiro chega a um valor médio de 6 litros de água por litro de leite produzido, às vezes mais.

Vivemos no Planeta Terra, mas três quartos da sua superfície é coberta por água, quase toda ela salgada, ainda sem possibilidade de uso universal. É o “Planeta Água”, título da música composta por Guilherme Arantes com esses versos “Águas que movem moinhos / São as mesmas águas que encharcam o chão / E sempre voltam humildes / Pro fundo da terra”, disponível nas plataformas de streaming.

Os versos ilustram de forma poética o conceito de reduzir, reciclar, reusar. Reduzir o uso de água pode ser por meio do balanceamento correto da dieta das vacas e outras categorias, como estudos da Embrapa já demonstraram. Com dieta balanceada, cada vaca bebeu três litros a menos de água por dia, e perdeu menos nutrientes na urina e no esterco. Se forem 100 vacas, só no consumo dos animais serão menos 109.500 litros num ano.

Caso nada seja feito, a produção de leite será cada vez mais criticada, pois os argumentos serão cada vez mais fortes no sentido de se demonstrar que a produção de leite tem impacto ambiental danoso, e podem servir de propaganda negativa para os consumidores. Por isso, as organizações de produtores de leite de países industrializados, associadas à indústria, já estabeleceram metas para que, até o ano 2050, a cadeia produtiva do leite otimize o uso da água ao mesmo tempo em que maximiza a reciclagem e melhora a qualidade da água, por meio da reutilização dos nutrientes do esterco, para a produção de forragens.

E mais: que o leite produzido não jogue mais carbono na atmosfera além daquele que consumiu, ou seja, carbono neutro, tema de reportagens nesta revista e de parceria da Nestlé com a Embrapa. Naqueles países, é crescente o número de produtores que aplicam tecnologias para atingir as diretrizes definidas, economizando água e fertilizantes, atendendo aos requisitos da norma internacional específica para uso de água, a ISO 14046, e também o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 6, da ONU. Essas são ações proativas, propaganda positiva, para que filhos e netos possam produzir leite de qualidade, com sustentabilidade e fidelidade dos consumidores.

Será assim o mercado do leite brasileiro para exportação no futuro próximo. Como já é para a cadeia das carnes. Por isso, é uma tendência à qual teremos que nos adequar a partir de agora, decidindo e investindo no uso de práticas e tecnologias que nos permitirão ser competitivos no mercado nacional, cada vez mais exigente, e globalmente.

Da mesma forma que no exterior, muitos dos produtores de leite profissionais no Brasil são empreendedores apaixonados, ávidos por soluções inovadoras, como mostraram as quatro edições da iniciativa Ideas for Milk da Embrapa. Esses profissionais certamente adotarão novas tecnologias. Sabem que os investimentos feitos hoje serão fundamentais para que seus netos produzam leite tropical em propriedades sustentáveis, que será exportado para muitos países, de excelente qualidade, garantindo a vida no Planeta Água do futuro que já chegou.

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