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TECNOLOGIA

Robô na ordenha coloca a produção num patamar de eficiência

Produtores estão investindo em robôs de ordenha para melhorar a produtividade da fazenda, reduzir custos e garantir qualidade de vida e o bem-estar animal

Erick Henrique

Não é incomum o pecuarista escutar a seguinte frase: “Parceiro, não inventa moda, segue tocando a propriedade como sempre fez, pois você pode pôr tudo a perder apostando suas fichas no cavalo errado”. Em muitos casos isso pode ser verdadeiro, mas investir em tecnologias de sistema de ordenha por robô tem se comprovado um passo acertado, não só pelo retorno financeiro, pela maior produtividade e qualidade do leite, como também no que se refere ao bem-estar dos animais e na melhoria da qualidade de vida dos funcionários e do produtor e sua família.

Esse é o caso da família Rickli, na Fazenda Postinho, localizada no município de Pinhão (PR), que apostou na tecnologia. Emerson e seu filho, Anderson Rickli, adquiriram, em 2018, o robô de ordenha para o seu plantel, composto por 130 animais da raça Holandesa, com 57 vacas em lactação. Em poucos meses, já identificaram os avanços em produtividade, economia com medicamentos e qualidade de vida para a família.

“Demoramos quatro anos para decidir instalar a ordenha robotizada. Nesse meio tempo, assistimos a várias reportagens sobre o sistema, até mesmo antes de a tecnologia chegar ao Brasil, para, enfim, fechar o negócio”, recorda Anderson Rickli. O jovem pecuarista toca a produção leiteira no sistema free stall, enquanto seu pai é responsável pelas lavouras de soja, milho e aveia no inverno. Conforme Rickli, um dos principais motivos pela opção de introduzir o robô de ordenha é que sua família sempre procura implantar novas tecnologias na atividade. E ressalva que neste caso um dos principais fatores que os fizeram migrar do sistema convencional para a robotização foi a falta de mão de obra capacitada na região.

Família Rickli (da esq. para dir.): Emerson Felype, Soeli, Emerson e Anderson

 

“Com esse investimento, a média de produção de leite está, atualmente, em 30 litros/vaca/dia. Já com o sistema convencional a média chegava em 20 litros/dia. Aliás, com poucos meses de uso do robô tivemos um aumento inicial, em média, de 6 litros/vaca/dia. Como essa tecnologia exige precisão da nutrição, conseguimos atingir a marca de 10 litros de leite a mais, em média, por animal”, comemora o pecuarista paranaense.

Particularidades e funcionamento – Os sistemas robotizados de ordenha já são uma realidade em países desenvolvidos da Europa, dos Estados Unidos, da Austrália e da Nova Zelândia, e vieram para ficar no Brasil, visto que esses Sistemas Voluntários de Ordenha (Voluntary Milking System – VMS) têm o potencial de aumentar a produção de leite em até 12%, diminuir a mão de obra em até 18% e, simultaneamente, melhorar o bem-estar das vacas leiteiras, pois permite que elas escolham o momento da ordenha.

Segundo estudos do professor titular da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Marcos Lopes, há relatos dos fabricantes dessa tecnologia que dão conta de um expressivo crescimento de vendas no Brasil nos últimos anos. Já há perto de 100 robôs de ordenha em operação no País, e as vendas continuam em forte ascensão.

Segundo o professor, é importante o produtor e os técnicos se informarem sobre essa tecnologia que traz benefícios para a propriedade leiteira. “Conhecer sobre a utilização da robótica na ordenha de vacas leiteiras, seu funcionamento técnico e operacional, bem como as vantagens e limitações de sua utilização. Isso auxilia os pecuaristas e técnicos na tomada de decisões em adotar, ou não, essa ferramenta”, ressalta.

Ele explica que, para o melhor entendimento do sistema de ordenha robotizada, é preciso analisá-lo de uma forma bastante diversa de um sistema de ordenha convencional. O sistema de ordenha robotizada utiliza como premissa básica a motivação voluntária do animal, ou seja, a vaca deve entrar no box do robô de forma totalmente voluntária.

Os robôs, atualmente, de todos os fabricantes presentes no Brasil, estão em funcionamento dentro de galpões de free stall ou de compost barn. No entanto, vale salientar que, em 2001, o sistema foi incorporado pela primeira vez em sistemas baseados em pastagens, com instalações ocorrendo quase simultaneamente em uma fazenda comercial na Austrália e outra na Nova Zelândia. “Atualmente, sabe-se da utilização da robotização em sistemas baseados em pastagens na Suécia, Austrália, Irlanda, EUA, Argentina e Chile. No Brasil, um sistema está em implantação no Rio Grande do Sul”, aponta o professor da Ufla.

 

Vantagens da ordenha robotizada


Segundo o professor da Ufla, após uma vasta revisão da literatura, constata-se que os benefícios que um sistema de ordenha robotizada pode proporcionar são:

• Melhor saúde do rebanho
• Melhor conversão alimentar 
• Melhora o manejo do rebanho
• Maior frequência média de ordenhas
• Melhora a qualidade de vida das vacas
• Melhoria na qualidade do leite produzido

 

Segundo mostra a literatura, os dispositivos de ordenhas robotizadas são compostos por: sistema de contenção, de detecção de tetos, braço robótico para colocação dos insufladores, sistema de limpeza de tetos, sistema de sensores, software e o próprio equipamento de ordenha.

A tecnologia de controle de acessos com a utilização de portões inteligentes (um ou mais), em conjunto com a identificação eletrônica individual (normalmente um colar), determina os caminhos pelos quais as vacas devem se direcionar para acessar o robô ou pista de alimentação e, por conseguinte, retornarem à cama.

O professor da Ufla informa que o equipamento de ordenha robotizada é composto por um braço mecânico que desempenha diversas funções. Após a identificação eletrônica do animal, o sistema verifica quando esse animal foi ordenhado e direciona o animal dentro do sistema da forma como estiver a sua parametrização.

“Se a vaca for ser ordenhada, ela adentra o box do robô e há a liberação de concentrado, e o braço mecânico começa o seu trabalho, que consiste em: 1) detectar o úbere e tetos; 2) limpeza dos tetos por meio de jatos de água e ar, ou com rolos; 3) pré-dipping; 4) encaixe das teteiras para que a ordenha se inicie; 5) à medida que o fluxo de leite cai, cada uma das teteiras se solta individualmente em cada teto, a fim de se evitar a sobreordenha; 6) pós-dipping com spray”. 

De acordo com estudos divulgados pela consultoria Nutri-Time, em junho de 2019, por meio de um artigo técnico elaborado por pesquisadores da Embrapa Gado de Leite e da UFMG, o tempo médio gasto na ordenha robotizada é de cerca de sete minutos e as vacas consomem, no máximo, 2,8 kg de concentrado por ordenha nesse período. Considerando que o número médio de ordenhas nesse sistema seja próximo de três vezes por dia, empiricamente cada vaca pode consumir, no máximo, 8,4 kg de concentrado por dia.

João Vicente Pedreira, gerente de vendas da companhia holandesa Lely, que comercializa os robôs de ordenha também no Brasil, destaca que a grande vantagem da robotização é que as vacas têm acesso livre a alimentação, água e cama para descansar. Isso lhes garante maior bem-estar por se alimentarem mais vezes, mais ordenhas e mais tempo descansando, consequentemente, ruminando e produzindo mais leite. 

 
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  Lopes

“Conhecer sobre a utilização da robótica na ordenha, seu funcionamento, suas vantagens e limitações, vai auxiliar os pecuaristas e técnicos na tomada de decisões em adotá-la ou não”

 

“Atraímos as vacas para o box do robô por meio do manejo nutricional da dieta na pista, que é completada, segundo o mérito de produção, na forma de concentrado disponível no equipamento, quando ocorrem as ordenhas. Dessa forma, as vacas associam positivamente a entrada na plataforma e, portanto, ao momento da ordenha”, explica o gerente da Lely.

Ao entrar na ordenha os animais são identificados e é avaliado se está no momento de ordenha ou não. Sendo hora de ordenhar, inicia-se o estímulo e a limpeza dos tetos com as escovas, que são desinfetadas entre as ordenhas. A acoplagem é feita pelo braço único, individual por quarto, ocorrendo a ordenha, em que são avaliados os parâmetros dos diversos sensores, como volume, qualidade de leite e consumo de concentrado.

“Os copos da teteira são sacados individualmente, respeitando o fluxo do quarto mamário. Antes de liberar o animal, é aplicado o pós-dipping. Nossos sistemas são modulares e atendem a um grupo de 60 vacas, para um robô, a 180 vacas, para três robôs. Buscamos que cada animal faça pelo menos três ordenhas/dia. Alguns produtores, com o passar da utilização da robotização, conseguem chegar a médias anuais de produção de 2.700 litros/leite/dia por robô”, afirma Pedreira.

Por sua vez, Valdir Milan, diretor da Ordemilk, respondendo sobre o retorno do investimento que o produtor faz na robotização da ordenha, diz que em primeiro lugar isso varia de fazenda a fazenda. Com vários robôs de ordenha comercializados no País, ele explica que o retorno depende de alguns fatores, tais como o nível de produtividade, a condição genética, a produção de alimentos e a gestão em que a fazenda se encontra. Por isso, enfatiza, é muito importante que o produtor avalie todo o contexto para que este retorno do capital possa ser o mais breve possível.

“Em média, os investimentos nos robôs da Ordemilk são feitos com prazo de pagamento de sete a dez anos. Portanto, a expectativa é de que a propriedade realize a amortização da máquina nesse período, e que consiga, concomitante a isso, aumentar seu patrimônio de vacas e novilhas para expandir o seu negócio”, avalia o empresário.

Milan considera que a especialização da equipe é um dos itens mais importantes na transição do modo convencional para o robotizado. “Costumando dizer que precisamos aprender a ‘tirar leite’ novamente, porque como qualquer robô de ordenha, o nosso produto é uma máquina que representa apenas 30% da operação total do dia, sendo que o restante se resume ao manejo adequado e ao trabalho rotineiro com as vacas. É necessário compreender que, além de colaboradores e proprietários estarem treinados para a operação, as vacas necessitam de um período de adaptação, tendo em vista a mudança de rotina”, finaliza.

 
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Valdir Milan

“Além dos funcionários estarem treinados para a operação, as vacas necessitam de um período de adaptação, tendo em vista a mudança de rotina”

 

Colhendo ótimos resultados – Com mais de um ano de utilização dos robôs, o produtor da Fazenda Postinho confirma a redução dos custos de produção com a automação de ordenha. “Já de início contabilizamos uma diminuição dos custos da ração, devido à precisão do fornecimento das dietas via robotização. Os animais registraram melhor conversão alimentar, com a qualidade da ordenha, que possibilitou uma redução de custos com medicamentos para mastite”, descreve Rickli. Ele ressalta ainda que houve uma ótima aceitação pelas vacas, porque em pouco tempo se adaptaram, vivem menos estressadas, seguindo tranquilamente a sua rotina: de comer, serem ordenhadas, beber água e deitar. Além disso, graças ao sistema robotizado, elas expressam mais seu potencial de produção.

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“Atraímos as vacas para o robô por meio do manejo nutricional da dieta na pista” 
João Vicente Pedreira

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