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Na Fazenda Trole, a assistência técnico-gerencial está aprimorando a gestão do negócio, a qualidade do leite (com a estabilização da CCS) e a criação de bezerras

FAZENDA

Rumo à profissionalização para a

consolidação do negócio leite

Mesmo com o crescimento da produção agrícola e leiteira, os proprietários da Fazenda Trole sentiram que estava faltando profissionalismo na atividade

João Antônio dos Santos

Ter maior domínio na gestão, na estabilidade da qualidade do leite (CCS) e na gestão de equipe foram alguns dos fatores que levaram os proprietários da Fazenda Trole, em Madre de Deus de Minas-MG, a buscarem orientação técnica especializada na produção leiteira. E isso veio através da adesão a programas de orientação técnica e gerencial oferecidos pela Vigor.

Segundo Gustavo Rollo, coordenador de Fomento e Qualidade da Vigor, o objetivo desses projetos é difundir junto aos produtores metodologias de gestão nas propriedades leiteiras, sobre pessoas, aspectos econômico-financeiros, processos e tecnologias de produção, (zootécnicas, nutricionais, sanidade, qualidade do leite). Neste caso, o produtor participa de dois programas, o “Evolui Leite” e o “Otimização do Uso de Antimicrobianos na Fazenda Leiteira”. Ambos são integrantes do programa “Mais Leite Saudável” da Vigor, protocolado junto ao Mapa. O “Evolui Leite” como consultoria de apoio ao negócio sobre os aspectos técnicos e de gestão, e o projeto “Otimização do Uso de Antimicrobianos na Fazenda Leiteira” como ferramenta de apoio à evolução na qualidade do leite. Este último é desenvolvido em parceria com a OnFarm e traz como resultado redução de custos na fazenda através do controle mais efetivo da mastite e uso racional de antibióticos.

“Como responsável pelo programa da Vigor, estou muito otimista com esta ação, da qual já participam mais de 50 fazendas. Os resultados apontam mais de 30% (que é a nossa meta) de redução no uso de antibióticos. Vamos ampliar esse projeto em mais fazendas no projeto em 2022, pois isso ajuda muito na questão do meio ambiente e na conscientização quanto ao uso racional dos antibióticos”, diz ele.

Gustavo Rollo: “Estamos empregando a tecnologia OnFarm em mais de 50 fazendas e os resultados apontam mais de 30% (que é a nossa meta) na redução no uso de antibiótico”

Melhorias na fazenda – Há 34 anos, Sigrid de Castro Fonseca produz leite na Fazenda Trole, em Madre de Deus de Minas, e, nos últimos anos, conta com a ajuda de seus filhos Murilo, Carolina e Pedro para tocar o negócio. A propriedade tem 1.390 ha, em que a família produz, além do leite, soja, milho (grãos e silagem) e feijão. Para o leite são destinados 100 ha, sobretudo para a produção de silagem para o rebanho Holandês, com 390 animais.

Segundo conta Carolina, responsável pela área administrativo-financeira e gestão de pessoas, sua mãe aprendeu ali a tirar leite e, ao longo do tempo, foi-se aperfeiçoando. Por volta de 2009, seu filho mais velho, Murilo, engenheiro agrônomo, começou trabalhar na fazenda para ajudar a mãe a incrementar o negócio.

“Embora o negócio tivesse crescido, constatamos que era necessário mudar muitas coisas, sobretudo imprimir uma visão profissional, de empresa, pois a fazenda estava subaproveitada. Ou seja, sair de um certo amadorismo e ter uma gestão profissional. Foi quando a Vigor nos proporcionou uma assistência técnico-gerencial, por meio de um técnico com formação no Educampo Sebrae-MG”, lembra ela, observando que, naquela época, por volta de 2015, uma das primeiras recomendações do técnico foi a formação de um quadro dirigente com mais pessoas para dar conta da atividade agrícola e da produção leiteira, pois, até então, tudo estava a cargo de Murilo.

Assim, os quatro chegaram a um consenso e seguiram a orientação do técnico para uma nova configuração na gestão do negócio. “Eu, formada em Administração, assumi, à distância, a parte administrativo-financeira, RH e lançamento de dados (agrícolas, zootécnicos, de produção e econômico-financeiros), utilizando o programa de gestão do Ideagri; o Murilo, as lavouras, a produção de alimento para o gado e também a produção de leite, e Pedro ajudou na lavoura, na manutenção, em benfeitorias e em novos projetos. Minha mãe continuou responsável pela ordenha, sanidade do rebanho e criação das bezerras, coisas que ela sempre fez muito bem”, relata Carolina.

E assim a família veio tocando o negócio, ao longo dos anos, sem imprimir, entretanto, maior rigor de gestão, até no início da pandemia, em 2020, quando Carolina foi morar na fazenda, e aí foi aprendendo in loco muitas coisas da atividade. A partir da metade do ano passado, com a crise afetando os custos de produção leiteira, se depararam com a necessidade de novos ajustes na gestão do negócio, pois ainda não atingiam aquela meta de profissionalização que vinham buscando. Assim, há um ano e meio, novamente passaram a contar com a orientação do programa de assistência da Vigor, por meio do médico veterinário Pedro Paulo Teixeira Freitas, da Taurus Consultoria, de São João Del Rei (MG), que, nos moldes do Educampo, está estruturando o sistema de gestão do negócio leite da Fazenda Trole.

Sigrid de Castro Fonseca produz leite na Fazenda Trole, em Madre de Deus de Minas

Há 34 anos na produção de leite, Sigrid conta com a ajuda dos filhos, Carolina, Murilo e Pedro, para tocar o negócio e, a partir de 2020, estão buscando maior rigor na profissionalização da atividade.

Ele explica que o trabalho que desenvolve na fazenda Trole, que já tinha bom manejo e índices de produtividade e de qualidade, está focado no aprimoramento da gestão, sobretudo na parte de planejamento, gestão e treinamento de funcionários, padronização da qualidade do leite (CCS) e na criação de bezerras. Segundo Carolina, com a ajuda do técnico, a família está imprimindo um novo rumo ao negócio. “Primeiramente, seria para nos orientar na gestão, porém, como ele tem uma visão ampla da produção de leite, estamos trabalhando também numa questão muito importante, que é a qualidade da matéria-prima. Não que não tínhamos boa qualidade, apenas não era estável, pois a CCS variava muito”, diz, acrescentando que tinham os números, sabiam do que precisavam, mas não dispunham do conhecimento para analisar e avaliar com tanta clareza, nem como usar tais números.

Protocolos na ordenha – Pedro Paulo explica que, além de trocar ideias sobre o planejamento e a gestão financeira com os quatro gestores, são discutidos os procedimentos operacionais de cada setor nas reuniões quinzenais com a equipe de 13 funcionários.

“Nessas reuniões, temos os dados, os parâmetros e os objetivos de cada setor, gerimos esses números, e fazemos a avaliação do andamento de cada um, se é preciso algum ajuste, como fazer, etc. E assim, cada vez mais, cada membro da equipe vai se comprometendo para entregar, da melhor forma, o trabalho que se espera dele. Ou seja, é um aprimoramento contínuo entre os gestores e os funcionários”, explica Pedro Paulo.

Ele explica que no setor da ordenha foram feitos os treinamentos e introduzidos os procedimentos operacionais com todos os protocolos de higiene, cuidados e bem-estar dos animais, ficando tudo padronizado. O objetivo é a qualidade do leite, com a estabilização da CCS e UFC abaixo de CCS 200 mil/ml e CBT abaixo de 10 mil UFC/ml, respectivamente, como padrão.

João Francisco de Sousa: "Minha meta é com o projeto é chegar a 200 litros de leite/dia, produzindo com eficiência e qualidade"

A ideia de introduzir a tecnologia OnFarm na fazenda se deu pelo fato de os números da qualidade estarem variando muito, embora a CCS do tanque nunca tenha “estourado”. No primeiro semestre, relata Pedro Paulo, a média foi de 220 mil CCS/ml, variando de 260 mil a 270 mil e, em outros momentos, abaixo de 200 mil. “Então, foi feito um plano de ação para estabilizar tais resultados. Além do treinamento dos ordenhadores, contamos com o teste microbiológico (pelo kit Smart Lab), com resultado em 24 horas, para a identificação do patógeno, focado na mastite clínica. Também passamos a fazer a análise de CCS individual das vacas”, diz.

Os resultados esperados chegaram rápido. “Temos um controle muito maior das mastites, sobretudo da mastite clínica, para saber se precisa tratar ou não e duração de tratamento. Com esse pacote de tecnologia, de setembro até dezembro, a nossa CCS tem estado no patamar de 122 mil/ml. Ou seja, baixou significativamente e mantém-se estabilizada”, destaca. A fazenda já recebe a bonificação máxima pelo quesito CCS e CBT, pois já conseguiu a padronização, pois, hoje, a variação de um resultado para outro é insignificante. E está ficando cada vez melhor, conforme mostram os números, no quesito controle da mastite: redução ATB – 38%; Casos clínicos (moderado e leve) – 64; Casos clínicos graves 2; Casos clínicos não tratados – 24; Economia – R$ 9.660,00.

“E como os gestores e a equipe pegaram gosto por essa tecnologia, estão ampliando seu uso não apenas para mastite clínica, mas também nas mastites subclínicas, quando fazemos a CCS individual, mensalmente. Tomamos os casos de vacas com valores mais altos, as que são crônicas, fazemos o teste para identificar o patógeno. Isso nos permite decidir se tratamos ou não, se segregamos ou não. E também se partimos para uma secagem especial, com uso de antibiótico mais forte no momento da secagem, ou com período carência menor ou mais brando”, diz Pedro Paulo, salientando que essas avaliações permitem ações mais precisas e seguras, pois se conhece qual o patógeno está causando a doença. “Hoje, estamos fazendo a manutenção, o refino dos dados, até mesmo ampliando o uso do teste microbiológico na fazenda em todas as vacas que vão secar, assim como as que vão parir, para saber como foi o período seco do animal.”

Com treinamento do pessoal, os protocolos e o teste de cultura microbiológica na fazenda, a CCS está no patamar de 122 mil/ml

Bezerras – O segundo passo da organização do processo é a criação das bezerras. Não que os índices estejam ruins, mas é que há ainda alguma desorganização e falta de critérios, o que exige treinamento para alguns funcionários. “Hoje a gente percebe que o funcionário da ordenha sabe o que tem de ser feito, cada etapa do processo e por que deve ser feito desta ou daquela maneira. E isso deve também ocorrer na criação das bezerras. Assim, minha mãe pode ter segurança para delegar parte de seu trabalho para os tratadores”, comenta Carolina.

Pedro Paulo explica que agora estão treinando o pessoal, estabelecendo os procedimentos operacionais e os protocolos, segundo o planejamento para atingir os objetivos determinados. “A meta na criação das bezerras é reduzir a mortalidade abaixo de 2%, até os 90 dias de idade. A partir de manejo nutricional correto, cuidados higiênicos e sanitários rigorosos, seguindo o protocolo para diminuir casos de doenças mais comuns, como as respiratórias e as verminoses, para que tenham um desenvolvimento saudável até o desmame.”

Metas – Hoje, o rebanho da Fazenda Trole é composto por 390 animais Holandeses, em sistema de confinamento em compost barn. São em média 170 vacas em lactação, com média/vaca/dia de 39 litros de leite, perfazendo um total em torno de 6.600 litros de leite por dia. Segundo Carolina, por ora, a meta da família é estabilizar o rebanho em 220 vacas em lactação, com a média em torno dos 39-40 litros/vaca/dia, mantendo o foco no melhoramento genético. “Vamos introduzir a tecnologia de TE, assim como fazer o mapeamento genético do rebanho. Com isso, com o rebanho estabilizado, pretendemos vender animais de alto padrão genético, como uma forma de agregar mais valor ao negócio”, arremata Carolina.

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