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Espetáculo de genética pardo-suíça em exposição nacional da raça

PARDO-SUÍÇO

Rusticidade e mais leite

com alto teor de sólidos

A versatilidade da raça Pardo-suíço, mais o incremento das ferramentas de melhoramento genético, assegura a evolução dessa linhagem na bovinocultura leiteira brasileira

Erick Henrique

Para entender o progresso dessa raça, primeiramente é necessário conhecer suas origens, porque, conforme informações da Associação Brasileira dos Criadores Gado Pardo-Suíço (ABCGPS), escavações realizadas no Lago Suíço, na borda dos Alpes, revelaram esqueletos de animais que viveram 4.000 anos a.C. As características se assemelham às do Pardo-suíço atual.

De acordo com levantamento da associação, ao longo dos séculos, a influência da natureza determinou a morfologia e as qualidades básicas desses animais. Diferentes fatores, tais como qualidade do solo, variações climáticas, topografia montanhosa e pastos entre 700 e 2.000 metros acima do nível do mar, forjaram o Pardo-suíço robusto e autossuficiente, verdadeiro produto de sua terra natal. Sua tolerância a grandes variações térmicas possui origem na aridez do verão e na neve do inverno alpino.

Além disso, a partir do século XIX, os criadores de vários cantos reconheceram a importância da seleção e do acasalamento dirigido como forma de preservação das características da raça e da evolução do rebanho. A seleção de vacas matrizes era baseada em “corpulência, harmonia de conformação e produção de leite”. Nenhum cruzamento com outra raça foi admitido, o que garantiu a pureza racial do Pardo-suíço.

A raça desembarcou em 1905 no Brasil e fez sucesso de Norte a Sul. Contudo, atualmente o gado Pardo-suíço possui forte presença nas Regiões Sudeste e Nordeste. Quem explica a importância do rebanho no País é o superintendente técnico da ABCGPS, Fernando Kaiser, pois, com o melhoramento genético, os criadores conseguiram aumentar a produção de leite e de proteína, mantendo a rusticidade dos animais. “Graças a essa ferramenta, hoje os criadores estão procurando usar touros A2A2 e com Kapa-caseína BB, visando obter um leite melhor para a produção de queijo e um produto que pode ser ingerido por indivíduos sensíveis à Beta-caseína A1 com maior segurança e assim, num futuro próximo, conseguir uma melhor remuneração do leite.”

Para fomentar o desenvolvimento genético da raça, Kaiser informa que a associação oferece aos criadores o programa de acasalamento dentro do objetivo de cada fazenda. “O nosso bom relacionamento com as centrais de inseminação nos permite sugerir a elas touros que atendam aos objetivos dos criadores, e com isso oferecer ao criador touros superiores.”

Ademais, o superintendente da entidade revela que a procura por animais registrados aumentou consideravelmente nos dois últimos anos. “Com a possibilidade de aprovação do Giropardo como raça, teremos um aumento ainda maior na procura por sêmen e animais da raça Pardo-suíça. Ou seja, estamos otimistas quanto a um futuro promissor nos próximos anos”, diz Kaiser.

 

Acompanhando de perto a evolução raça – Inspetor técnico da associação há 35 anos, José Bráulio de Oliveira Gomes atua principalmente no Estado de São Paulo, no sul de Minas Gerais e, eventualmente, no norte do Paraná. “Atualmente sou responsável técnico por cerca de 700 animais Pardo-suíços, espalhados nessas regiões, pertencentes a 10 propriedades leiteiras, dentre as quais está a fazenda com maior rebanho, a Santana da Estiva, no município de Morro Agudo, interior paulista.”

Segundo Gomes, as tecnologias de transferência de embriões (TE), fertilização in vitro (FIV), inseminação artificial e IATF, bem como o barateamento delas, contribuíram muito para a disseminação e, principalmente, evolução da raça no Brasil, pois facilitaram ao criador acesso à genética de ponta. “Embora a difusão do Pardo-suíço aconteça muito ainda por meio da monta natural, assim como para a produção de animais mestiços, com touros selecionados”, diz o inspetor técnico.

Segundo dados da associação, as vacas Pardo-suíças produzem, em média, 7.838 litros de leite em 305 dias de lactação, o que dá 25,70 litros de leite/vaca/dia

Para o especialista, dentre as principais características que fazem com que a raça se destaque das demais que estão no mercado, estão as pernas e os pés fortes, incluindo cascos fortes. “No Pardo-suíço, a gente pode contar com essa vantagem, visto que a quantidade de descartes por afecções de casco tem sido cada vez menor, inclusive em fazendas com alto nível de estabulação do rebanho”, avalia Gomes.

Contudo, de acordo com o inspetor técnico, cabe destacar que, muitas vezes, esses problemas de casco acontecem não por algum fator genético, mas principalmente por erros de manejo, ambiente, até alimentação, nutrição e ausência de uma mineralização bem feita.

“O Pardo-suíço tem um perfil de produção bem variado, mesmo estando em fazendas próximas, na mesma região. Visito propriedades que produzem leite a pasto com uma média de 17 litros/vaca/dia, enquanto outras fazendas com vacas estabuladas, recebendo uma dieta mais completa, chegam próximo a 40 litros/leite/dia. Note-se que esses animais criados a pasto podem responder melhor quando estabulados. Isso já demonstra uma evolução da raça ao longo do tempo”, pontua o técnico da associação.

Por falar nisso, Gomes lembra muito bem que, na região onde atua há 30 anos, as vacas Pardo-suíças que produziam em torno de 15 litros de leite por dia eram vacas fantásticas, entretanto, atualmente esse animal não faz mais do que sua obrigação.

Fazenda

Santana da Estiva


Rebanho Pardo-suíço

226 vacas em lactação
 
Produção
de 5.500 a 6.000 litros de leite
por dia, no sistema free stall
 
Produção por animal
27 a 30 litros de leite/dia
(conforme a época do ano)
 
Metas
30 mil/litros/dia

José Bráulio Gomes: “O Pardo-suíço tem um perfil de produção leiteira bem variado, mesmo em fazendas próximas, numa mesma região”

Avanços na produção com vacas Pardo-suíças – Propriedade assistida pelo inspetor da ABCGPS, a Fazenda Santana da Estiva, do casal de produtores Francisco Marcolino e Maria Beatriz Junqueira, transformou a produção leiteira graças ao melhoramento genético. Kiko Junqueira, como é conhecido no setor, recorda que iniciou na raça por indicação de uma amiga que trabalhava na Usina Vale do Rosário, em Morro Agudo, que produzia leite, experimentando diversas raças, só que apenas o gado Pardo-suíço deu certo em seu projeto.

“No começo, eu entregava apenas 50 litros de leite no tambor, depois fui aumentando a produção, comprei um tanque resfriador de 500 litros, e hoje a capacidade de armazenamento é de 6 mil e 10 mil litros de leite. Atualmente, acredito que eu seja o maior criador de Pardo-suíço do Brasil. O rebanho é predominantemente da raça, mas comprei 25 vacas Holandesas até para fazer o benchmark, para verificar se o gado Holandês era melhor do que as minhas vacas Pardo-suíças, porém não foi isso o que aconteceu”, diz o produtor paulista.

De acordo com Junqueira, na parte de produção leiteira, as fêmeas Holandesas são ótimas, contudo, devido ao clima de Morro Agudo, elas não emprenhavam de jeito nenhum. “Comprei esses exemplares de grandes criatórios de vacas ‘top’, mas não havia jeito de fazer esses animais emprenharem. Elas já vieram com prenhez confirmada para a fazenda, mas, hoje, suas crias são mestiças com touros Pardo-suíços.”

O proprietário da Santana da Estiva informa que só utiliza genética de touros provados no rebanho, tampouco possui reprodutores de repasse na fazenda. “Acredito que, sem o melhoramento genético, nós, produtores, estamos trabalhando à toa, pois todo mundo deve trabalhar para melhorar a sua produtividade. Devemos pensar sempre para a frente, porque o mundo se transforma com muita rapidez, e se o produtor não fizer uso de todo o conhecimento genético disponível no mercado, dessas provas genéticas que podem ser feitas, certamente estará andando para trás, porque não saberá que tipo de animal estará produzindo.”

O pecuarista ressalta ainda que os animais são muito rústicos e de forte aptidão leiteira, se reproduzem muito bem sob as condições do norte do Estado de São Paulo, de clima muito quente e seco – nos meses de maio até novembro praticamente não chove. “Nossas bezerras e novilhas são criadas a pasto, mas, quando parem e começam a dar leite, vão para o sistema free stall. Em suma, a minha meta de produção, com o auxílio do melhoramento genético, é passar dos 30 mil litros de leite por dia, sem deixar a produção cair em nenhuma época do ano abaixo desse volume”, conclui Junqueira.

Free stall da Fazenda Santana da Estiva. (Na foto, da esq. para dir., Fernando Kaiser, da ABCGPS, e os produtores Francisco Marcolino Junqueira e Maria Beatriz Junqueira

Características da raça


• Produção de leite (em média)
7.838 litros de leite, em 305 dias de lactação, o que dá 25,7 litros de leite/dia

• Demanda
Criadores estão procurando usar touros A2A2 e com Kapa-caseína BB visando um leite melhor para a produção de queijo e um produto que pode ser ingerido por indivíduos sensíveis à Beta-caseína A1, com maior segurança, e assim, num futuro próximo, conseguir melhor remuneração do leite

• Fertilidade
Além da precocidade sexual, quando os tourinhos da raça, com 15 meses, já podem servir nas estações de monta e permanecem trabalhando por vários anos. A raça se destaca pela sua fertilidade. As fêmeas alcançam a puberdade aos 346 dias de vida, com taxa de prenhez de 91,6%. E esta característica é transmitida também em seus cruzamentos.

• Adaptabilidade
A raça Pardo-suíça é reconhecida em todo o mundo por sua capacidade de adaptação, principalmente às regiões de clima quente. Os animais da raça possuem um número muito alto de glóbulos vermelhos no sangue, pois são originários de regiões elevadas, onde o ar é rarefeito. Além disso, nos Alpes a radiação ultravioleta é muito intensa, como também acontece nas regiões tropicais e subtropicais. A pele totalmente pigmentada do Pardo-suíço evita doenças relacionadas com a fotossensibilidade. Esta característica de grande resistência ao calor e ao sol escaldante é fundamental para a pecuária que precisa de touros cobrindo no pasto, como nos cruzamentos industriais e nas criações extensivas. (Fonte: ABCGPS)

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