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LEITE EM NÚMEROS

Lorildo Aldo Stock

Analista da Embrapa Gado de Leite

Sazonalidade dos preços do leite: uma oportunidade para o produtor?

O preço do leite pago ao produtor sempre pode variar, especialmente em determinados meses do ano, em função da oferta, da disponibilidade ou da demanda. Não é simples, porém, prever essas oscilações, considerando que regular o volume de leite em um curto espaço de tempo implica planejamento e alocação prévia dos meios de produção. Ainda assim, haveria como ajustar alguma coisa na fazenda em termos dos picos de produção? O que se ganha ou se perde em se tirar mais ou menos leite em determinado mês do ano? O objetivo deste estudo é estimar o impacto econômico para o produtor em decorrência das variações do preço do leite para diferentes meses do ano.

Quando um sobe, o outro cai

Para cada região, de acordo com as condições de clima, há um período do ano em que a produção de leite é naturalmente mais fácil, aumentando a oferta de cada produtor, ao mesmo tempo em que em outro período fica mais difícil. A discussão não é tirar leite quando se está mais fácil: o problema está no preço, que despenca. Ou, justamente quando cai a produção de leite na fazenda, o preço reage.

A Figura 1 ilustra a situação típica da variação sazonal de um índice (médias anuais = 100) da produção de leite versus a variação sazonal do preço real (preços previamente corrigidos para junho de 2020), em termos das médias dos meses dos últimos dez anos (2010 a 2019), para o Estado de Minas Gerais.

Variação na produção

Observa-se que a produção de leite em Minas Gerais tem o seu pico no mês de dezembro, com abundância de chuvas e pastos, quando o nível de produção equivale a 10% acima do nível médio ao longo do ano.

Essa variação durante o ano, dentre outros fatores, é afetada pelo clima, que no Brasil é predominantemente tropical. Minas Gerais se caracteriza por temperaturas elevadas e estações do ano bem definidas, com inverno seco e verão chuvoso. A escassez de chuvas no período da seca, conjugada com o frio nos meses de abril a agosto, são as causas da queda do volume de leite na entressafra. O período seco ocasiona a redução da disponibilidade e da qualidade nutricional das pastagens, o que exige a suplementação alimentar do rebanho.

Por isso, no mês de dezembro, a produção de leite em Minas atinge o pico e em seguida começa a cair. Isso acontece tipicamente nos cinco primeiros meses do ano, atingindo o seu menor nível em maio, equivalente a 8% abaixo da média anual. A partir de maio são tipicamente sete meses de aumentos sucessivos da produção, até dezembro, quando se inicia um novo ciclo.

Variação no preço

O preço recebido pelo leite na fazenda tem uma curva inversa da curva de produção. Cresce a partir de seu ponto mais baixo em janeiro, continuando sua trajetória ascendente pelos sete meses seguintes, até seu pico em agosto, tipicamente 6% acima da média dentro do ano. A partir desse ponto o preço cai rapidamente até janeiro, quando fica 10% abaixo da média.

Impacto na receita mensal

Afinal, de quanto é essa diferença de preço em cada mês? A figura 2 ilustra estimativas dos impactos, mês a mês, em termos de valores reais e referentes às diferenças entre a média histórica dos preços reais brutos ao produtor nos últimos dez anos (2010 a 2019) e o que seria o ganho ou a perda potenciais para o produtor por 100 litros de leite, dependendo do mês em que o leite é produzido.

Observam-se dois períodos distintos: dezembro a março, como os quatro meses mais desfavoráveis, e seis meses favoráveis (maio a outubro), além de dois meses de transição (abril e outubro).

Período de preços baixos – De dezembro a março. Novembro se poderia considerar como mês de transição. Em janeiro, por exemplo, a expectativa do produtor mineiro é receber R$ 120,00 a cada 100 litros de leite vendidos (média dos meses de janeiro de dez anos). A média real anual dos dez anos ficou em R$ 133,00. Assim, a venda de 100 litros em janeiro resulta em R$ 13,00 a menos nas receitas, em comparação com o preço médio anual.

Período de preços mais altos – De maio a outubro. O pico ocorre nos três meses, de julho a setembro. A receita média mensal para esses três meses é de R$ 140,00 a cada 100 litros de leite vendidos (média desses meses em dez anos). Em comparação com a média anual (R$ 133,00 por 100 litros), isso implicaria um aumento de receita de R$ 7,00 por 100 litros, para cada um desses três meses.

Quando produzir

A sazonalidade afeta diretamente os produtores, pela redução de sua receita na época da entressafra, por causa da queda do volume no período. Ao mesmo tempo, a entressafra pode ser caracterizada como período de custos mais elevados, seja pela necessidade de oferecer mais volumoso ao gado, seja pelas maiores despesas concentrados.

Para os laticínios, as oscilações do volume de leite captado representam maior dificuldade no planejamento da capacidade instalada, com ociosidade industrial, planejamento da mão de obra empregada, regularidade no abastecimento do mercado e no planejamento estratégico de médio e de longo prazos.

Uma oportunidade

Obviamente que, dependendo do sistema de produção, especialmente se for com base em pastejo, pode ser mais difícil a vaca obter alimento de qualidade nas pastagens naturais nesse período. Entretanto, se a opção for um sistema com suplementação volumosa à base de silagem, este período terá menor importância do ponto de vista da disponibilidade de alimentos. Nesses seis meses, em média, o produtor poderia auferir uma receita adicional mensal de R$ 6,00 para cada 100 litros produzidos. 

Será que não valeria a pena a tentativa de um manejo direcionado a sincronizar cios de maneira a concentrar os partos no mês de março, de modo que se tivesse uma produção maior a partir do mês de abril? Existe a opção de reduzir a produção nos meses em que os preços são tipicamente menores, como janeiro e fevereiro.

E que tal o produtor se valer de uma possibilidade de 6% de aumento nas receitas e usá-las para usufruir férias em janeiro e fevereiro?

Lorildo Stock, eng. agr., Ph.D., Economia Rural, analista da Embrapa Gado de Leite. E-mail: lorildo.stock@embrapa.br
Coautores: João Cesar Resende, eng. agr., doutor Economia da Produção, pesquisador da Embrapa Gado de Leite. E-mail: joaocesar.resende@embrapa.br; Vinícius de Moura Stock, eng. agr., doutor, bolsista pós-doutorado, UFV. E-mail: vinicius.stock@gmail.com; José Luiz Bellini Lite, eng. civil, Ph.D. Economia Rural, analista da Embrapa Gado de Leite. E-mail: jose.bellini@embrapa.br

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