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Bezerras FIV do Sítio Santa Luzia, da família Oliveira Sales

PROGRAMA FIV

Sebrae-MG

estimula o uso de fiv junto a pequenos produtores de leite

Para proporcionar o melhoramento genético mais rápido no rebanho leiteiro, o Sebrae e parceiros tornam a tecnologia FIV acessível às pequenas propriedades

João Carlos de Faria

O Sítio Santa Luzia fica no Bairro do Salão, no município de Wenceslau Braz, próximo de Itajubá, no sul de Minas Gerais. É uma propriedade familiar, com área de 20 hectares, que vive do leite, produzindo cerca de 400 litros/dia, com um rebanho de 45 vacas, sendo 30 em lactação. Atualmente, o rebanho é basicamente formado em parte por vacas Girolandas e em parte por mestiças, com média de 12 litros/dia, em sistema a pasto e com concentrado no cocho no período das águas e silagem de milho na seca.

No sítio trabalham o casal Luzia Aparecida de Oliveira Sales e Antônio Márcio de Sales e as filhas Tainara e Maiara Natália, todos empenhados em tocar a rotina diária da propriedade da melhor forma possível, buscando otimizar seus recursos.

Por isso, a possibilidade de ter acesso a uma tecnologia de melhoramento genético do rebanho foi uma notícia muito bem recebida pela família, quando ficou sabendo da existência do programa SebraeTec Fertilização In Vitro (FIV), oferecido pelo Sebrae-MG, desenvolvido conjuntamente com a parceria da Emater-MG, Sicredi, prefeituras, cooperativas e outros agentes públicos e privados locais e regionais.

“Antes, quando ouvia falar de FIV parecia coisa do outro mundo. Por isso, foi um sonho ver o material genético aqui na nossa propriedade”, afirma Tainara, a filha mais velha, que é estudante de Veterinária no Centro Universitário de Itajubá (Fepi) e ajuda os pais no sítio, sempre buscando incentivá-los a melhorar o desempenho da propriedade, de onde sai o sustento da família.

Segundo ela, 2021 foi um ano de muitas melhorias na propriedade, estimuladas pelo projeto, mas que também já estavam nos planos do seu pai. “Foi uma coisa que aconteceu: ele pensava em mudar e o projeto deu um impulso para que essas mudanças ocorressem”, revela. A boa notícia chegou até eles por meio do extensionista local da Emater e foi muito bem-vinda.

O sonho de melhorar geneticamente rebanho, que estava distante, tornou-se uma realidade para a família Oliveira Sales – o casal Antônio Márcio e Luzia Aparecida, com as filhas Maiara Natália e Tainara

Planos para o futuro – Dos 20 embriões recebidos e que tiveram prenhez confirmada, seis novilhas já nasceram; outras cinco nascem em maio e o restante deve nascer em agosto. A expectativa é passar dos atuais 400 litros/dia para 1.000 litros/dia, mas a ideia também é chegar a um padrão apurado do rebanho, para que os animais possam ser registrados e futuramente o sítio possa vender material genético e participar de leilões de alto padrão.

“Nossa expectativa é muito grande e, quando as bezerras começaram a nascer, em dezembro, todos nós ficamos muito felizes, porque a gente vive daqui e esses animais estão vindo para somar na nossa propriedade. A reação foi tão positiva que a minha mãe até chama as novilhas de ‘nossas meninas’ e as trata com muito carinho”, comemora Tainara.

PROJETO VOLTADO ESPECIALMENTE PARA OS PEQUENOS PRODUTORES DE LEITE


A família Sales está entre os 2.050 pequenos produtores mineiros que já foram beneficiados com o projeto Sebraetec-FIV, que já fez um investimento de R$ 19,6 milhões, nos dois últimos anos, com o objetivo de melhorar a genética e fomentar a produtividade no Estado com animais de padrões raciais superiores.

A proposta também é promover o desenvolvimento tecnológico, a inovação no setor e criar oportunidades para profissionais e pequenas empresas, fomentando pequenos negócios nessa área. A iniciativa envolve 33 prestadores de serviço e 148 médicos veterinários credenciados e espalhados por todo o Estado, levando biotecnologia aos produtores.

“A gente tem um histórico de colocar a melhoria genética na agenda pública, pois entendo que o melhoramento genético tem um efeito ‘locomotiva’, porque o pequeno produtor, sobretudo quando incorpora animais superiores no seu rebanho, acaba cuidando também de outras coisas importantes, como a sanidade e o manejo”, explica o diretor técnico do Sebrae-MG, João Cruz, responsável pela criação do projeto.

Apesar da estimativa de existência em Minas Gerais de cerca de 600 mil pequenos produtores rurais, não havia ainda, dentro do Sebrae, segundo Cruz, soluções para esse setor. Ou seja, havia “uma lacuna”, o que ensejou que fosse incluso no Sebraetec – programa que visa à inclusão de inovação tecnológica em pequenos negócios – uma ficha técnica específica de fertilização in vitro (FIV).

João Cruz: “O melhoramento genético tem um efeito ´locomotiva´, porque o pequeno produtor, ao incorporar animais superiores ao rebanho, acaba cuidando também de outras coisas importantes, como a sanidade e o manejo”

A partir dessa ficha, foi feito o credenciamento de prestadores de serviço e médicos veterinários, tendo como uma das exigências que, para as raças leiteiras, as doadoras de material genético devam estar acima da média fenotípica da raça. “Isso as coloca num estrato mais ou menos 15% acima do melhor padrão da raça”, afirma.

As principais raças que já estão na ficha técnica é o Gir Leiteiro, a Girolando a Holandesa. Quanto às demais raças, se houver interesse do produtor não há nenhuma limitação, desde que os animais possuam qualidade genética superior.

O produtor interessado procura o Sebrae e apresenta a sua demanda conforme a disponibilidade de receptoras, com um laudo prévio desses animais. A demanda então é inserida num sistema de rodízio e é apresentada a um prestador de serviço credenciado, que atende aquele produtor.

Custos acessíveis – No primeiro ano do projeto, 70% dos custos foram subsidiados pelo Sebrae, incluindo quilometragem para o deslocamento do técnico, material genético, laboratório e o serviço prestado, mas com limite anual por CPF, para que mais produtores pudessem ser atendidos. “Isso se tornou extremamente atrativo, conseguimos fazer um grande atendimento e em dois anos foram mais de 35 mil embriões implantados, sendo que 85% com certeza foram destinados a pequenos produtores”, destaca.

Tainara Oliveira Sales: “Ao vermos as primeiras bezerras (FIV) nascerem, nossa reação foi tão positiva que a minha mãe até chama as novilhas de ´nossas meninas´ e as trata com muito carinho”

A expectativa é de que os bons resultados cheguem quando esses animais geneticamente superiores efetivamente comecem a parir, com o crescimento da produção de leite e com o ganho de produtividade nas propriedades. “A gente não consegue definir qual o percentual, mas é previsível que em muitas propriedades a produção tranquilamente vai dobrar ou até triplicar, porque, quando há a inserção de um animal geneticamente superior no rebanho, o efeito é transformador.”

O perfil desses produtores, segundo Cruz, muitas vezes está num patamar até abaixo dos parâmetros em geral utilizados pelo Sebrae para classificar o porte dos produtores, que considera como pequeno aquele que tem um faturamento anual de até R$ 4,8 milhões e produção de até 1,5 mil litros de leite/dia.

“O que a gente tem observado é que há produtores muito menores do que isso, muitas vezes de regiões vulneráveis, com os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de Minas Gerais, que tiram 20, 30 litros por dia e que transferiram cinco ou seis embriões, que deram duas ou três prenhezes positivas. É um programa democrático e muitas vezes os pequenos produtores se organizam em grupos, em torno de cooperativas ou associações para viabilizar sua demanda.” Aliás, entidades como prefeituras e cooperativas de crédito também são grandes parceiras do Sebrae, além dos escritórios regionais da Emater/MG, conforme destaca o diretor.

Garantia de eficiência e cumprimento das normas – Para garantir que o recurso oferecido seja realmente bem utilizado e que a qualidade da prestação do serviço aos produtores se dê da forma esperada, o Sebrae celebrou parceria inédita com o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV/MG), que inclusive tem inspirado outros Estados a adotarem a mesma postura. Com isso, fica a cargo do CRMV-MG a “auditagem” do trabalho realizado pelos prestadores de serviços e profissionais contratados, para que tudo esteja em conformidade com as normas legais (compliance).

Novilhas do Sítio Santa Luzia, com potencial genético superior

“Ficamos preocupados que esse recurso não fosse utilizado adequadamente e por isso convidamos o Conselho para fazer uma certificação, avaliando por amostragem se os prestadores de serviço estão cumprindo os requisitos descritos na ficha técnica e se os resultados realmente estão ocorrendo em campo, dando-nos garantia de que esse recurso, que é público, está sendo bem aplicado. É uma visão moderna de transparência ativa”, afirma Cruz.

O presidente do CRMV/MG, Bruno Divino, afirma que o Sebraetec-FIV é uma grande inovação, que traz um incremento, ao investir 90% de todo o recurso liberado para o programa em rebanho de leite. “Para nós em Minas, o leite é muito importante, porque o queijo é nosso grande produto. Aumentar a produção representa mais dinheiro no bolso do produtor, desenvolvimento para a região e distribuição de renda”, ressalta.

O Conselho, segundo ele, entra nessa história para garantir e assegurar que o dinheiro seja gasto e investido com bons fornecedores, pois, embora o Sebrae “já faça com excelência” essa seleção, uma acreditação externa para chancelar as escolhas é muito importante. “Esse é o nosso papel: o Sebrae aprova os projetos e nós primeiro conferimos se o laboratório de reprodução está registrado e se atende a todas as normas legais e depois a gente também confere o serviço prestado e atestamos se aquele recurso pode ser gasto com tranquilidade”, explica.

O trabalho é feito internamente, por uma equipe de 20 profissionais, a começar pela análise das empresas que pleiteiam o credenciamento e depois os dados e relatórios por elas emitidos. Se houver alguma inconformidade, o Conselho exerce seu papel de fiscalização e exige o ajuste do serviço prestado. “Podemos dizer que o serviço está sendo feito com muita eficiência e tecnicamente os resultados têm sido muito bons, com índices de fertilização acima da média nacional, com retorno ao produtor de forma muito segura.”

Ele afirma ainda que o projeto “realmente está revolucionando o setor de leite no Estado e trazendo para o produtor um ganho genético excepcional, numa velocidade impressionante, além de representar uma injeção de quase R$ 20 milhões no setor de prestação de serviços, trazendo desenvolvimento tecnológico e movimentando uma cadeia “muito importante”.

Divino conta que os Conselhos do Rio Grande do Sul e Ceará também devem implementar parcerias semelhantes com o Sebrae, espelhados na experiência de Minas Gerais. “Eles vieram conhecer a proposta e saíram com o projeto embaixo do braço, prontos para por em prática em seus Estados.”

Crédito mais acessível – “Parceria é uma forma de fortalecermos o trabalho do Sicredi. A origem do cooperativismo de crédito é do agronegócio, pois o Sistema Sicredi nasceu no Rio Grande do Sul, no ano de 1902, a partir de 20 famílias de produtores rurais”, afirma Leandro Henrique Schiehl, gerente da agência de Itajubá da Sicredi Alto Uruguai RS/SC/MG.

Em 2020, a cooperativa firmou convênio com o Sindicato Rural de Itajubá, por meio do projeto ProCriar, juntamente com o Sebrae- MG e a Emater, com a finalidade de possibilitar a participação de 30 dos seus associados na iniciativa do Sebraetec para transferência de embriões. “Fomentar o desenvolvimento regional e incentivar investimentos produtivos que agreguem renda e qualidade de vida aos seus associados são objetivos da cooperativa, que oferece programas e linhas de crédito diferenciadas para apoiar as diferentes necessidades de custeio, investimento e comercialização dos associados”, destaca Schiehl.

Por isso, depois de identificar o potencial da região, o Sicredi destinou um recurso vindo do seu Fundo Filantrópico de Incentivo a Projetos de Desenvolvimento Regional, que tem por finalidade contribuir para o desenvolvimento econômico, social e ambiental da sua área de atuação, conforme prevê seu estatuto social, custeados pelo repasse anual 3% do resultado do exercício anterior.
Nesses dois primeiros anos, do custo total de R$ 539 de cada embrião, incluindo também o material e o serviço, 80% foram pagos pelo Sebrae, ficando sob a responsabilidade do produtor os 20% restantes. Mas, com a parceria do Sicredi, ele acabou investindo R$ 53,90, referentes a 10% do total. Para que mais produtores pudessem ser atendidos, foi estabelecido um limite individual de até 15 embriões para cada um.

Leandro Henrique Schiehl: “Fomentar o desenvolvimento regional e incentivar investimentos produtivos que agreguem renda e qualidade de vida aos seus associados são objetivos da cooperativa de crédito”

“Aumento da produtividade e qualidade de vida do produtor – A analista do Sebrae Minas Andresa Cristina da Silva explica, no entanto, que, no ano passado, excepcionalmente, essa contrapartida dos produtores foi de 20%, por causa da participação também da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), empresa pública controlada pelo Estado de Minas Gerais, que custeou 10% do valor, em função da situação de pandemia.

Normalmente essa proporção seria de 70% para o Sebrae e 30% para o produtor, o que deve valer para a etapa de 2022, uma vez que ainda não há confirmação se a Codemge continuará com a sua quota de participação.

Andresa conta que o contato com a Emater e com o Sindicato Rural e a consolidação da parceria com o Sicredi foram uma ação articulada pelo escritório do Sebrae localizado em Itajubá, que atende a 15 municípios. “Tão logo veio a demanda do Sebraetec-FIV nós fizemos contatos com o Sicredi, sugerindo que oferecessem essa inovação aos seus associados, o que foi bem recebido por eles, e então nós estendemos a proposta aos demais parceiros”, diz.

Em geral, os produtores participantes têm pouco acesso às tecnologias como a fertilização in vitro (FIV). “Tivemos um pouco de dificuldades no início para quebrar a resistência e ganhar a confiança deles e vimos também que as propriedades em geral não são tecnificadas e apresentam dificuldades no manejo e na parte nutricional”, revela.

Segundo ela, o projeto tem ajudado os produtores a se adequarem e agora a expectativa do Sebrae para as bezerras que já começaram a nascer é que, num prazo de dois anos, se obtenha um aumento significativo da produtividade, da qualidade e da renda dos produtores, com a melhoria genética do rebanho.

A consultoria oferecida pelo Sebrae, no entanto, se encerra com o ultrassom de confirmação de sexagem. A partir daí, normalmente o próprio produtor acompanha a gestação, podendo receber o apoio de técnicos da Emater, não tendo o Sebrae nenhuma responsabilidade em relação ao acompanhamento dessa fase e das demais fases do processo.

Andresa Cristina da Silva: “A expectativa com as bezerras que já começaram a nascer é que, num prazo de dois anos, se obtenha um aumento significativo da produtividade, da qualidade e da renda dos produtores”

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