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Fazenda Colorado foi uma das primeiras a receberem o Selo Biosseguridade Certificada (C.B.S)

BIOSSEGURIDADE

Selo de biosseguridade

para fazendas leiteiras

A certificação foi desenvolvida pela Boehringer Ingelheim e Embrapa Gado de Leite e duas fazendas já a receberam

João Antônio dos Santos

Sanidade, produtividade, qualidade e rentabilidade estão na base do sucesso da atividade leiteira. E tais requisitos são válidos para propriedades de qualquer porte, de pequeno a grande volume de leite. Ou seja, são necessários para qualquer produtor que deseje se profissionalizar e garantir um alimento seguro e de qualidade para colocar no mercado.

Essa é a perspectiva para uma pecuária leiteira profissional e moderna, que assenta sua atividade nos princípios das boas práticas de produção, bem-estar animal, sustentabilidade e saúde ocupacional dos trabalhadores, atendendo, assim, às exigências do mercado consumidor.

Em sintonia com tais demandas de maior eficiência das fazendas leiteiras, a Boehringer Ingelheim e a Embrapa Gado de Leite desenvolveram o sistema de certificação (selo) em Biosseguridade, que assegura que um grande número de protocolos de boas práticas seja efetivamente adotado pela propriedade. Embora muitas fazendas obviamente utilizem protocolos de boas práticas de produção, este novo conceito de biosseguridade tem por objetivo trazer uma gestão bem mais eficiente deles, capaz de efetivamente diminuir a ocorrência clínica e limitar a transmissão de enfermidades no rebanho, evitando a entrada de doenças contagiosas que podem ser letais e que têm necessidade de notificação obrigatória.

A Fazenda Colorado, em Araras (SP), detentora da marca Xandô, e a Fazenda Santa Luzia, em Passos (MG), foram as primeiras a receberem o Selo Biosseguridade Certificada (CBS). Nesta edição, vamos abordar especificamente o caso da Fazenda Colorado.

Segundo Sérgio Soriano, gestor da pecuária leiteira da Fazenda, foram diversas as razões para a adoção do sistema de biosseguridade na propriedade, mas sobretudo a otimização sanitária dos animais. Ao mesmo tempo, a empresa tem grande preocupação com a melhoria de vida dos colaboradores.

“Buscamos, além de melhorar o ambiente para os animais, que as pessoas estejam integradas nessa solução. E a biosseguridade nos permite aliar nosso animal, nosso colaborador e nosso produto final”, diz ele, ressaltando que o programa desenvolvido pela Boehringer Ingelheim e Embrapa Gado de Leite foi uma ótima oportunidade para a Fazenda Colorado investir tempo, trabalho e dinheiro para alcançar efetivamente as melhorias desejadas. “Ou seja, capacitar a equipe para algo que fosse bom não só para as pessoas, os animais e a empresa como resultado, mas para algo além, que desse sustentabilidade ao tripé homem, animal e rendimento com a venda do nossos produtos.”

Sérgio Soriano: “A biosseguridade é possível e traz benefícios para propriedades leiteiras de qualquer porte de produção”

Sala de ordenha é considerada como nível 4 na Biosseguridade, o mais restrito

Muito empenho na implementação – No quesito sistemática de implementação, ele observa que não foi tão simples, dada a magnitude e complexidade do sistema de produção da fazenda.

“Trabalhamos nisso praticamente por um ano, junto com a Boehringer Ingelheim e a Embrapa, pois tivemos de desenvolver na fazenda todo o processo. Eles vinham aqui fazer auditoria, a gente entrevistava nossos colaboradores e, se algo ainda não estivesse bem assimilado, fazíamos novos treinamentos. Também, às vezes, havia alguma coisa com o nível muito alto que não era aplicável na realidade de uma fazenda de leite, o que exigia novas adequações”, relata Soriano.

Nesse trabalho pioneiro nas fazendas, foram feitos os ajustes de viabilidade para os colaboradores e para a empresa, de modo que tal metodologia pudesse ser repetida em outras fazendas, guardadas as condições de cada uma. Foram necessárias muitas conversas, reuniões online, visitas técnicas e muito acompanhamento das rotinas.

Soriano destaca ainda que hoje está muito mais fácil para a equipe da fazenda descrever todos os protocolos que foram melhorados pelo pessoal da Embrapa Gado de Leite, da Boehringer Ingelheim e de empresas de consultoria. Graças a essas empresas, a equipe da fazenda pôde aprender a escrever os protocolos e depois comprovar se funcionavam na prática.

“Para a Fazenda Colorado foi um sistema e para a Fazenda Santa Luzia foi outro. A gente teve que partir do zero e isso teve que ser criado, o que exigiu mais tempo. Mas hoje, com os protocolos já descritos e nossas empresas certificadas, acho que está muito mais fácil para as demais fazendas leiteiras, dentro da necessidade de cada uma, com seus ajustes necessários, adotarem essa metodologia, pois não é algo tipo copia e cola”, observa Soriano.

Sobre a importância de um programa de biosseguridade para a cadeia produtiva do leite, Soriano faz questão de enfatizar que é algo muito impactante quanto aos benefícios que traz para propriedades com pequeno, médio ou grande volume de produção de leite. “Vale observar que quanto menor for a escala de produção mais fácil será a implementar a biosseguridade e mais impactante esta será no negócio.”

Soriano observa ainda que a metodologia de biosseguridade não exige grande investimento. “Os custos não são muito altos e se referem mais à adequação do manejo e treinamento das pessoas, o que está mais ligado à gestão da propriedade. Esse, com certeza, é um caminho que não tem volta.”

Ele assinala que assim todos ganham e quanto menor e mais familiar for a propriedade, mais importante se torna a biosseguridade, pois mostra que esse produtor está cuidando das pessoas, dos animais e de seu produto final. “Ou seja, é a família cuidando para que as pessoas não se contaminem e isso é de uma riqueza extrema. Então, acredito que a biosseguridade seja possível e impactante para todas as propriedades leiteiras, laticínios e consumidor final. Todos ganham.”

FAZENDA COLORADO EM NÚMEROS

 
• Dez anos em 1º lugar no ranking Top 100, da plataforma Milkpoint, com produção diária de 92.657 litros, num total de 34 milhões de litros de leite em 2022. A Fazenda Colorado já chegou a produzir 100 mil litros de leite em 24h, em agosto de 2021;

• Cerca de 6.000 cabeças de vacas Holandesas puras de origem, das quais 2.300 estão em lactação (confinadas em galpão de 27 mil/m2, com sistema “cross ventilation”), 400 vacas secas para parir, cerca de 3.400 novilhas (para reposição no rebanho e também para venda);

• Ordenha tipo carrossel, sistema de ordenha do tipo carrossel, para ordenhar 72 vacas a cada 9 minutos.

ALGUNS DOS PRINCIPAIS PROTOCOLOS DE BIOSSEGURIDADE NA FAZENDA COLORADO

 

Ordenha – Segundo explica Eduardo Pires Macêdo, da Boehringer Ingelheim, o sistema de biosseguridade tem quatro níveis que apontam o grau de risco e pontos críticos, sendo o nível 4 o de maior risco. Ele cita, por exemplo, a sala de ordenha como nível 4 e o barracão de confinamento que se estende após a sala de ordenha como nível 3. Ou seja, há algumas restrições, mas é possível que pessoas com autorização possam circular.

Já a sala de ordenha é de nível 4, por ser considerada uma área mais crítica. “É preciso usar uniforme adequado para garantir que a biosseguridade seja atendida. Na sala de ordenha há cuidado rigoroso de limpeza e higiene e procedimentos de preparo dos tetos (teste de identificação de mastite, pré-dipping, secagem dos tetos e pós-dipping), operações que são de extrema importância para a biosseguridade, de modo a evitar a contaminação por possíveis patógenos.

Eduardo Pires Macêdo: “Foram identificados mais de 150 pontos críticos na produção de leite que devem ser observados pelos produtores no que diz respeito às boas práticas de biosseguridade”

Rodrigo Hernandes: “Cuidados com o manejo dos efluentes evitam danos ao meio ambiente e os resíduos tratados são aproveitados”

Efluentes – Rodrigo Hernandes, coordenador administrativo da Pecuária, destaca também o protocolo referente ao tratamento de efluentes da fazenda. Com exceção da sala de espera e da sala de ordenha, todo o restante (galpões, corredores do confinamento) é limpo com água de reuso. Após a limpeza os efluentes (água, esterco e urina) são direcionados através de uma canaleta única que chega numa área em que ocorre a separação da parte líquida da sólida (areia).

A parte líquida (com esterco) passa por uma caixa de agitação e é bombeada para uma peneira, onde é separado o esterco sólido que é encaminhado para uma área de compostagem. A água é aerada e passa por tratamento para ter condições de ser reutilizada na limpeza das instalações. Ele explica que o excedente, cerca de 30%, da água residuária (chorume) é destinado para fertirrigação na lavoura.

Berçário – Sobre os protocolos de biosseguridade em relação às bezerras, Sérgio Soriano ressalta o seguinte: “O berçário é nível 4 de biosseguridade, sendo uma das etapas mais sensíveis do nosso projeto de criação. Sabemos que o bezerro nasce sem nenhuma imunidade e precisamos transferir a imunidade através do colostro. Ao mesmo tempo, é indispensável um trabalho cuidadoso para mitigar os riscos de contaminação.”

Por isso, há um controle rígido quanto ao uso de uniforme dos funcionários, limpeza e higiene cuidadosa da instalação, com restrição à entrada de pessoas. “A biosseguridade nos traz mais segurança nessa fase em que o animal é mais sensível. A partir de 15 dias transferimos a bezerra para uma outra instalação, onde ela ficará até desmama. Os cuidados rigorosos nessa fase inicial das bezerras são fundamentais para o bem-estar do animal e para sobrevida do nosso negócio.”

Maternidade – A maternidade também é nível 4 de biosseguridade, pois é o local em que a bezerra virá ao mundo. Por isso é fundamental assegurar todas as condições de sanidade, nutrição e bem-estar às vacas que vão parir. “Desde a qualidade da água, da alimentação, da cama, do ar, até os cuidados quanto à vacinação, manejo dos dejetos e o cuidado das pessoas que trabalham aqui dentro”, destaca Soriano.

É nesse ambiente que a bezerra nasce, recebe os primeiros cuidados e o colostro, de acordo com os protocolos. Tudo isso traz grandes vantagens para os animais. Daí contar com esse programa de gestão dos riscos sob controle. A maternidade, assim como o berçário, são áreas definidas como zona 4 (restrita), onde o controle de acesso é tão crítico quanto a sala de ordenha e do casco. São áreas que devem ser muito controladas, pois, na análise de risco, a biosseguridade apontou vários pontos críticos de controle.

“Por isso o nível 4 exige a máxima atenção de toda a equipe. O futuro da fazenda começa aqui: a vaca iniciando sua lactação e a bezerra iniciando sua vida para ser grande produtora de leite. Então, todos os cuidados de biosseguridade nessa área repercutem em toda a vida do animal e, por fim, na rentabilidade do nosso negócio.”

O DESENVOLVIMENTO DO SELO DE BIOSSEGURIDADE

 
Segundo Eduardo Pires Macêdo, coordenador técnico, especialista da Boehringer Ingelheim Saúde Animal, para o desenvolvimento do selo foi realizado um intenso estudo, liderado por especialistas da empresa e da Embrapa, em que os protocolos foram validados em campo nas Fazendas Colorado e Santa Luzia.

Ambas são propriedades reconhecidas pelos seus níveis de implementação de tecnologias e, juntas, produzem mais de 140 mil litros de leite/dia, sendo que a primeira tem a sua produção em sistema de confinamento e a segunda com destaque para a produção em sistema de pasto.

Para apoiar os processos de desenvolvimento do selo de biosseguridade, foram contratadas duas empresas parceiras: a Brasil Gap ficou responsável pela escrita dos memoriais descritivo e operacional e pelo checklist, em um modelo que atende aos padrões internacionais, e o SBC (Serviço Brasileiro de Certificação), de Botucatu (SP), que conduz o sistema de auditoria e certificação do selo criado pela Boehringer Ingelheim em parceria com a Embrapa.

“Ao longo dos estudos conduzidos nas duas fazendas, nos dois sistemas diferentes foram identificados mais de 150 pontos críticos na produção de leite que devem ser observados pelos produtores no que diz respeito às boas práticas de biosseguridade”, diz Macêdo.

Ele explica que esse projeto se deu em cinco passos: a) Definição de objetivos, com foco na diminuição da ocorrência clínica de doenças e erradicação de determinadas patologias; b) Definição de grupo de doenças a serem trabalhadas; c) Desenho de um sistema de produção e possíveis pontos de risco; d) Iimplantação do modelo; e) Desenvolvimento de um sistema de certificação (selo).

Entre as ações de boas práticas citadas pelo especialista, destacam-se alguns exemplos, como o uso racional de antibióticos para reduzir a exposição aos animais e, consequentemente, aos humanos; a destinação correta de carcaças para evitar sua exposição indevida tanto a animais quanto humanos e proteger o meio ambiente, além de uma série de outras iniciativas que devem ser adotadas na fazenda.

“Esses são alguns dos pontos fundamentais para garantir a saúde das pessoas, já que humanos e animais estão interligados por meio do convívio e pela alimentação e, nesse contexto, devem estar livres de doenças para garantir o conceito de ‘Saúde Única’, que é uma das diretrizes da Boehringer Ingelheim”, ressalta ele.

Importância da biosseguridade – Para mostrar a importância dos protocolos de Biosseguridade, vale resgatar algumas considerações feitas por Lígia Margareth Cantarelli Pegoraro (foto), doutora em reprodução animal e pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS), em reportagem da revista Balde Branco (abril de 2020).

“O objetivo das estratégias de biosseguridade na bovinocultura de leite é a obtenção de um rebanho sadio que produzirá um produto de qualidade (leite) com maior lucratividade (menor gasto com tratamentos veterinários; menor uso de antibióticos) e segurança para o consumidor final. Animais sadios produzem alimento seguro com menor custo de produção.”

Autora, juntamente com outros pesquisadores, do livro Biosseguridade na bovinocultura leiteira (Embrapa, 2018), Lígia Margareth destaca: “Na bovinocultura leiteira, muitas vezes, os danos e prejuízos financeiros causados pela introdução de um determinado patógeno no rebanho podem demorar mais tempo para serem evidenciados devido ao sistema de exploração ser diferente ao de suínos e aves. Perdas reprodutivas, por exemplo, podem ocorrer sem que o produtor consiga visualizar imediatamente como ocorre nos sistemas de produção intensiva de suínos e aves”.

Para que sejam eficientes, as medidas de biosseguridade devem ter uma visão geral da fazenda e cuidados que incluam dois conjuntos de medidas para evitar que patógenos e enfermidades ingressem no sistema produtivo da propriedade: a biosseguridade externa e a biosseguridade interna. Os dois sistemas são igualmente importantes para um resultado satisfatório para o pecuarista.

Nem todas as regras são para todas as propriedades, uma vez que cada fazenda é única em termos estruturais e operacionais, por isso, cada local deve ter seu próprio plano de biosseguridade. “Devido à complexidade dos diferentes sistemas de produção de leite existentes no Brasil, é necessário que haja uma adequação das medidas de biosseguridade para cada realidade, a cada sistema de produção”, explica ela.

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